segunda-feira, 3 de abril de 2023

Samba e Positivismo - Aula 03

"Se trazes no bolso a contravenção
Muambas, baganas e nem um tostão
A lei te vigia, bandido infeliz
Com seus olhos de raios X

Se vives nas sombras, frequentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de doberman"

O trecho acima citado pertence á canção "Hino de Duran" do cantor e compositor brasileiro Chico Buarque de Hollanda, esse, que é um samba de protesto contra a violenta repressão sofrida pelos opositores da Ditadura Civil-Militar de 1964, faz uma crítica á uma forma de pensar sociedade, em voga na época, que lembra em tudo as ideias Positivistas de Auguste Comte. Para a Sociologia Positiva, é sagrada a conservação da ordem e hierarquia vigentes a fim de se alcançar o constante progresso tecnológico. Nessa chave, o "Hino de Duran" é um aviso á todo e qualquer um que pense em subverter a coesão social própria do capitalismo, seja tramando assaltos ou revoluções, ou carregando nenhum tostão (não contribuindo para a circulação de capital).

Ademais, a norma legal aparece personificada na letra do samba (''a Lei tem ouvidos pra te delatar", "a Lei te vigia, bandido infeliz", ''A lei vai te abraçar, infrator"), assim, pode notar-se o papel central que ela possui no Positivismo, sendo a maior ferramenta de controle contra aquele que não se encaixa na sociedade positiva, pensemos nos casos da violenta opressão contra os protestos pacíficos anti-governo do Brasil de Novembro de 2021 sob a justificativa de manutenção da ordem legal.

Nesse sentido, é notável que o positivismo não é assunto do século passado, a máxima: "o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim", forjada pelos militares proclamadores de nossa república, em 1889, se transforma em "Deus, Pátria e Família" no século XX e ganha a nova roupagem "Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos" na atualidade. No fim, o imperativo se torna o encaixe e a contribuição para o progresso, ou o fim é o mesmo do Hino de Duran: 

"E se definitivamente a sociedade
Só te tem desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivo
És um estorvo, és um tumor
A lei fecha o livro, te pregam na cruz

Depois chamam os urubus"  

Maisa Martins Alves - Primeiro Ano (noturno)

RA: 231222599


  

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