segunda-feira, 3 de abril de 2023

Positivismo no Brasil: entre a retomada e a refutação

     O positivismo trata-se de uma teoria política, moral e filosófica que surgiu no século XIX, idealizada por Auguste Comte. As ideias de tal teoria baseavam-se no princípio resumido em “Ordem e Progresso”, que propõe a superação do pensamento religioso, dando lugar a defesa da observação e análise da sociedade a fim de compreender a natureza e desenvolver métodos científicos que evitariam a subjetividade da pesquisa. A partir disso, é notável que existem vestígios da sociologia positiva no Brasil contemporâneo, como é visto na própria bandeira do país que contém, em seu centro, o princípio positivista.

    Primeiramente, vale ressaltar que o conceito da objetividade na pesquisa científica cai por terra quando citada a teoria do filósofo francês Michel Pêcheux, que afirma que um discurso é determinado ideologicamente em função da posição social do falante e de outros elementos que constituem as condições de produção do discurso. Assim, cada indivíduo possui valores e realidades individuais e discrepantes entre si e, consequentemente, existem inúmeras ideologias diferentes associadas aos respectivos discursos, mas que nenhum deles podem ser considerados neutros, tendo em vista que todo e qualquer ser social carrega uma bagagem moral e ideológica. Sendo assim, é impossível que a análise e a pesquisa científica -sendo pensadas por um homem social- sejam configuradas como sendo imparciais e livres de subjetividades.

Ademais, a ideia da ordem para Comte mostra-se avessa a qualquer tipo de violência para alcançar a transformação social. O filósofo francês propunha uma forma de organização da sociedade baseada em uma estratificação estamental, ou seja, uma hierarquia fixa da sociedade e de seus papéis, e tratava tal configuração como uma espécie de lei natural, cujo intuito seria preservar a harmonia e o bem-estar social. No entanto, é possível perceber a presença da ordem positivista na atualidade, já que tal princípio é utilizado para argumentar a favor da manutenção do ordenamento social vigente e suas mazelas, como a desigualdade socioeconômica vista na atualidade brasileira, defendida pela classe econômica dominante. Assim, percebe-se que a ordem defendida pelos positivistas trata-se de uma ordem que interessa apenas às elites, sendo justificada pela ideia de que somente assim seria possível alcançar o tão almejado progresso.


Em suma, é possível observar que o positivismo, ainda que nascido no século XIX, encontra-se presente na sociedade atual, embora sua influência seja cada vez mais questionada e contestada por ideologias mais recentes da sociedade contemporânea. Também, conclui-se que a subjetividade e a neutralidade de uma análise da sociedade não passam de uma falsa construção social, ao passo que toda e qualquer perspectiva representa uma ideologia. Bem como a noção de ordem, que agora é refutada por uma sociedade que enxerga através de lentes que entendem a relação intrínseca entre análise social e subjetividade, e que percebem o caráter elitista que a sustenta.


Larissa Libardi Jorge- 1 ano Direito (noturno)

RA: 231220189


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