domingo, 2 de abril de 2023

Nada mais atual que o velho Positivismo

             Talvez quando Auguste Comte inaugurou a sociologia o pensador francês não imaginasse que seu Positivismo fosse tão vivo séculos depois. Isso acontece dada a identificação de certos grupos reacionários, ou até mesmo neofascistas, com a ideia de ordem e progresso. Para além do lema que estampa a bandeira brasileira – notadamente inspirada por Comte –, o Brasil tem sido um campo de replicação das noções “progressistas”, ao passo que muitos adoradores de um passado ordenado, principalmente o vigente no Regime Militar de 64, vestem suas camisas verde e amarelas em favor de Deus, da Pátria e da Família. Apesar de parecer uma defesa justificável, que vise o progresso da sociedade como um só corpo social, o anseio pela organização comtiana pode significar a repressão propriamente dita. Ao enxergar os indivíduos como células de um organismo vivo, em nome do bom funcionamento desse corpo social muitos cenários absurdos podem vir a ser normalizados, como o exílio durante o governo militar ilegítimo que durou mais de 20 anos.

               Ademais, ao colocar o amor como princípio e a ordem como meio para o progresso, as ideias desse positivismo contemporâneo inflamam uma nação já bastante fragmentada e pulsante pelos mais diversos motivos, sobretudo por razões políticas. Assim, ao envolver as paixões das pessoas, a questão se torna ainda mais perigosa e extrapola o racional, passando a agir com o irracional de muitos. A exemplo disso, pode-se citar a agressividade muito difundida entre os bolsonarista para com os não adeptos da “doutrina” Messiânica, que nada tem a ver com a bíblica. Defensores do porte de armas, os fiéis de Jair anseiam pela justiça feita com as próprias mãos, ignorando o Direito e sua atuação na mediação das relações interpessoais.

               Dito isso, a prática do positivismo não atinge seu tão famoso progresso, uma vez que vem sendo incorporado por um grupo retrógrado. Ao excluir, discriminar a reprimir não é criado o progresso, mas o medo e a desordem de uma nação. Por isso, o novo positivismo tupiniquim é perigoso se vigente, pois está mais próximo de uma ditadura da harmonia social do que do amor que eleva a sociedade a um estado progressista. Quando os ditos conservadores bolsonaristas apontam uma crise moral da sociedade brasileira eles estão reavivando Auguste Comte, cujo objetivo enquanto cientista social era justamente enquadrar os indivíduos num espectro fabricado de ordenamento. Portanto, nada mais que atual que um velho positivismo.


Taís Aimee Vasconcellos Prudêncio - 1º Direito Matutino 
RA: 231223692

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