domingo, 2 de abril de 2023

        

Positivismo e os dias de hoje

        O filósofo francês Auguste Comte é considerado por muitos pai da sociologia por ser o primeiro pensador a entender que os fenômenos sociais deveriam ser estudados como uma ciência separada da física, química, biologia e astronomia. Segundo o escritor francês, era necessário uma “física social”, cujo objetivo era estudar as sociedades presentes e, a partir disso, entender como torná-las harmônicas e ordenadas. Nesse sentido, o filósofo compreende que a única forma de alcançar o desenvolvimento intelectual e moral humano é decorrente de uma realidade, na qual os indivíduos reconheçam sua posição e desempenhem seu papel social pré-estabelecido. Dessa forma, o filósofo conversa com a astrologia e entende que, assim como, cada corpo celeste ocupa seu lugar no sistema solar e que ao ser humano basta estudá-los, as observações em relação ao corpo social também devem ser apenas analíticas e não desempenharem um olhar crítico. 

        A priori, é preciso entender como o contexto histórico influenciou o pensamento positivista. Durante o século XIX, espalhou-se pela europa o manifesto comunista, difundindo por todo o continente europeu um sentimento revolucionário na classe trabalhadora. Tal contexto, deixou a burguesia temerosa em relação à uma possível revolução proletária, tornando necessário um pensamento cujo objetivo era a manutenção da ordem social. 

Segundamente, é necessário ressaltar a educação realizada por uma ótica positivista. Segundo o filósofo Theodor Adorno, a primeira exigência da educação é fazer com que Auschwitz não se repita, ou seja, para o filósofo, é necessário um ensino que crie um pensamento crítico no aluno, para que, por meio da revisitação do passado, ele entenda quais fatos não devem acontecer novamente. Tal pensamento vai de encontro à lógica positivista, na qual somente são reais os acontecimentos que repousam sobre os fatos observados, sendo desnecessário o entendimento do passado para compreender a sociedade presente.


Nesse sentido, pode-se entender como o pensamento positivista repousa na mente da sociedade atual, haja vista a ascensão de governos de cunho ideológico neo-fascista, como, por exemplo, o governo do ex-presidente Bolsonaro. No caso brasileiro, isso se deve, em grande parte, à educação durante a ditadura Civil-militar, cujo objetivo era formar indivíduos a favor do governo vigente, não difundindo em suas mentes a análise crítica da realidade e dessa forma, criar a ordem social e a não revolta dos cidadãos brasileiros. No entanto, apesar da ditadura Civil-militar ter tido seu fim há mais de 30 anos, esse ideal positivista perpetua até os dias atuais, não permitindo que grande parte do corpo social compreenda como o presente tem relação direta com o passado. Tal questão, torna suscetível a existência de governos como o de Bolsonaro, já que seus apoiadores não associam os pensamentos difundidos pelo ex-presidente com as ideologias nazistas e fascistas do século XX. 


Além disso, é importante compreender como essa “física social” perpetua as desigualdades. Com o ideal de que todos devem ocupar o lugar social designado, entende-se que as minorias não devem ter ambições. Desta forma, o operário não deve querer cursar uma universidade, a mulher deve cumprir seus deveres domésticos e não ocupar posições de prestígio, etc. Deste modo, quando o filho da empregada doméstica passa em uma universidade pública surgem comentários como o do ex-ministro da educação, Milton Ribeiro: “a universidade deve ser para poucos”. Isso se deve a um quebramento da ordem social pré-estabelecida e de um medo que as classes dominantes têm de perderem seu poder. 


Conclui-se, então, a persistência do pensamento positivista nos dias de hoje, haja vista o amor pelo ordenamento social e a falta de uma análise crítica da sociedade atual por muitos indivíduos. 


Aluna: Gabriela Cristina de Freitas Abreu - Primeiro ano de direito noturno
RA: 231220278

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