domingo, 2 de abril de 2023

 Amor, Ordem e Progresso


      O positivismo pode ser compreendido como uma corrente filosófica que surgiu na França no início do século XIX. Foi idealizada pelos pensadores Auguste Comte e John Stuart Mill, que defendiam o estudo da sociedade através de fatos concretos, encarando-os como algo intrínseco à evolução social. Por derivar do iluminismo, o positivismo defende o conhecimento científico e metodológico como a única forma de conhecimento real.

      Um dos principais lemas do positivismo, cunhado por Comte, foi:  “O Amor por princípio e a Ordem por base. O Progresso por fim”, e a finalidade da expressão era propor a evolução da sociedade de uma forma organizada. Assim, o filósofo propunha que o amor deveria sempre ser o princípio de todas as ações individuais e coletivas, a ordem consistia na conservação e manutenção de tudo o que é bom e positivo, e o progresso seria o fruto do desenvolvimento e aperfeiçoamento dessa ordem. No entanto, ao compreender as práticas históricas e materiais das sociedades modernas e pós-modernas, tornam-se palpáveis os apontamentos quanto às contradições  relacionadas ao uso de tal expressão e pensamento ao longo do tempo.

        Os termos ressaltados pelo filósofo são utilizados na bandeira do Brasil desde que este se tornou uma república, mas sem a principal palavra, amor. Tal modificação veio do filósofo brasileiro Raimundo Teixeira Mendes, que reafirmava as idéias de Comte sobre o domínio das ciências pelo homem. No entanto, ao fazer o uso reajustado da frase positivista, o Brasil desnuda um importante dado sobre a sua formação, essa sendo a naturalização das mazelas históricas sofridas em seu território. Segundo o educador Guilherme Terreri, “Hoje quando a gente lê ordem e progresso na bandeira, talvez a gente esteja falando sobre massacre e imperialismo.” Ou seja, acreditar que a sociedade evolui de forma natural deixa implícito que fenômenos como a escravidão e a ditadura militra foram necessários para a formação do país, e portanto, iniciativas como a política de cotas e a comisão da verdade não têm utilidade, já que uma sociedade que visa apenas o progresso, não possui mazelas e só caminha pra frente.

        Portanto, conclui-se que o positivismo pode ser visto como uma teoria dual, pois ao mesmo tempo que identifica que a sociedade deve ser objeto de estudo, cria teorização e metodologia para as ciências humanas,  e defende que o objetivo social seja o progresso; acaba se tornando questionável justamente por propor que o pensamento das humanidades seja construído a partir de um viés naturalista.

 

Geovanna Gonçalves Peniche - 1° ano Direito (matutino)

RA: 231222874

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