sábado, 3 de julho de 2021

Em nome das subjetividades

Nasço e venho ao mundo

Como contemporânea.

Sucessora da Modernidade

E antecessora de não sei o quê.


Difícil conflitar em simultâneo

Com as dúvidas que persistem

Há séculos e outras que foram

Traçadas nas últimas décadas.


Mas não fujo dos percursos:

Questiono-me à moda baconiana,

Existiria um instrumento capaz

De me aproximar da verdade?


Ah, Novum Organum…

Há muito em ti que me cativa

E outros tantos que me retraem

Para um plano de mais dúvidas ainda.


Apetece-me pensar na superação

Da esterilidade da filosofia e do saber.

Viemos ao mundo para transformá-lo,

Não como quem domina, como quem desperta.


Desperta novos pensamentos acerca da

Justiça, Dignidade, Diversidade e tantas

Outras necessidades humanas que há tempos

Vem sendo renegadas para parte dos seres.


Eu vim ao mundo para despertar.

E um saber que transforma, que é ativo,

Faz exatamente isso. Quero menos do que se prende

À racionalidade, quero o materialismo do agora.


Ah, Novum Organum…

Há muito em ti que me cativa

E outros tantos que me retraem

Para um plano de mais dúvidas ainda.


Quando dizes que somente a experiência

Nos aproximará dessa tão almejada verdade,

Meu coração palpita e, imediatamente, penso:

“Sim, precisamos das vozes da experiência!”.


Mas não era exatamente ao que te referias.

Tratava-se de experimentalismo, não é mesmo?

Ah, Novum Organum...E quanto aos sentimentos?

Em que plano fica a subjetividade nesse caminho?


Ouso pensar que devemos incluir sua contribuição.

O subjetivo não colabora para nos aproximar da sabedoria?

Falo sobre as vivências que se traçam na realidade.

Essas, Novum Organum, fazem parte da experiência social.


Eu, estudante de ciências que na sociedade se aplicam,

Não poderia negar em mim a subjetividade que existe

E, nas pessoas, os sentimentos que também habitam,

Porque ambos nos demonstram efeitos da (muitas vezes, dura) realidade.


A paixão é o que nos move, Novum Organum,

O que faz cada ser se debruçar sobre um estudo.

O motor que nos propulsiona a vontade de conhecer.

A paixão é subjetividade, é o começo do caminho para a pesquisa.


Ouso dizer, os sentimentos são o princípio da ciência,

São o sentir de inconformidade com ídolos que ainda persistem,

A sensação de dúvida e de não contentamento com o que se possui.

A subjetividade é o princípio da aproximação do saber, mas não o fim.


Ah, Novum Organum…

Há muito em ti que me cativa

E outros tantos que me retraem

Para um plano de mais dúvidas ainda.


Preciso terminar dizendo-te,

Quantas verdades existem no mundo que habitamos?

Talvez muitos retalhos de verdades que se somam

Em uma malha de realidade material.


Lembremos, Novum Organum,

Nem sempre a verdade é fatídica.

Por vezes, torna-se fragmentada,

Em processo de construção ou costura.


Letícia Magalhães, Noturno

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