segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O Capitalismo Flexível e a Ideologia Dominante

Com o surgimento e consolidação do capitalismo, as relações econômicas e sociais passaram por uma multiplicidade de modificações, fazendo com que fosse necessário o seu estudo, de modo que se pudessem compreender os profundos impactos e mudanças que foram causados em nossa sociedade.

É através disso que surge o materialismo dialético, teoria criada por Karl Marx, com inspirações retiradas de campos diversos (desde Economia Política Inglesa, até a Socialismo Utópico e Ideologia Alemã), na qual se buscaria estudar o capitalismo em sua totalidade, abrangendo todos os seus aspectos ao longo da história, como também suas contradições, que na lógica marxista, são essenciais para a dinamização de suas características.

É exatamente o que vêm ocorrendo nos últimos anos, com uma rápida flexibilização do capitalismo objetivando a maximização dos lucros, pautada na terceirização dos serviços, diminuição dos direitos trabalhistas e aumento nos chamados serviços de informalidade. Na atual situação, encontramo-nos no dilema de nos adaptarmos, ou sermos passados para trás por essa corrente de modificações, que longe de terem uma pausa, ou breve período para o folego, estão sempre ocorrendo, incessantemente, nos forçando a nos desdobrar para atender aos clamores do mercado.

Falando do Brasil em especial, o caso de preponderância da economia, e da necessidade de salvá-la, em detrimento da vida humana, em um cenário de pandemia e insegurança, apenas demonstra como os valores sociais encontram-se totalmente apontados para obedecer a lógica dominante da elite econômica, que longe de cometer ilegalidades, transformou até o Direito em um instrumento de legitimidade das suas práticas (como vimos com a promulgação da última Reforma Trabalhista em 2017, e também a da Previdência no ano passado, que viram o regresso dos direitos e garantias dos trabalhadores, em prol do empresariado).

A própria lógica de cada um de nós se encontra tão dominada por essas crenças, que passamos a aceitar tudo em passividade. Nossa sociedade parece ter se acostumado com o mercado regulando não apenas a si, mas a nós todos, fazendo-nos agir com individualismo, buscando nos autopromover e estar sempre a frente dos demais, como é destacado por Richard Sennet, em sua obra "A corrosão do caráter", e como isso se mostra como um obstáculo para a proteção de nossos direitos, que passam a ser vistos como um estorvo (vide o Custo Brasil, ou a famosa fala de figuras proeminentes do país, referentes a diminuição de direitos para garantir mais vagas de empregos).

As diferenças de classes, outro fator preponderante e presente, foram esquecidas. Não há país no mundo como o Brasil, onde a classe média se coloca mais próximo de um empresário, banqueiro ou latifundiário, do que da própria classe trabalhadora, da qual se é proveniente, e que na menor das crises, pode voltar a pertencer, por conta dos problemas que a cerceiam no cenário atual, onde, com o avanço das grandes corporações, pequenos negócios tendem a ser incorporados ou deixados para resistir, recorrendo aos meios mais desesperados para se manter.

Num cenário de desigualdades e explorações, o primeiro passo para uma mudança seria abrir os olhos, principalmente entre as classes menos abastadas, que além de serem as mais atingidas, são o motor para qualquer grande modificação no coletivo, seguido também pela superação dessa ideologia que nos foi posta, e que domina cada aspecto social com o qual lidamos. A adoção da criticidade e superação da ideologia, junto do enriquecimento científico por parte das massas, seriam as bases necessárias, na visão de Marx, para a caminhada da sociedade como um todo na busca pela igualdade.

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