segunda-feira, 11 de junho de 2018

As complexidades da ciência jurídica: as diversas formas e olhares de entender e aplicar o direito

         As relações humanas são extremamente diversas e complexas, em cada sociedade, em diferentes momentos, sobre diferentes olhares culturais, fazer um recorte social e entende-lo nunca é uma tarefa fácil. E a ciência jurídica não foge dessa lógica, por ser um campo que está em contato direito com as relações humanas e seus desdobramentos, essa é uma área polémica e sensível, um exemplo dessa situação é o aborto de anencéfalos.
    De acordo com a decisão do STF de 2012, a respeito do julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54, o aborto no caso comprovado de anencéfalos não configura uma contravenção penal. Essa decisão gerou muitas controvérsias, os grupos religiosos e “provida” são veemente contra, já as associações médicas e de defesa da emancipação feminina dizem que essa decisão é a correta.
     Fato é que o Direito não é algo segregado da sociedade, essa é uma matéria simbiótica a sociedade, toda e qualquer decisão jurídica gera consequências à população, às vezes essas decisões são simples e não geram muito debate, já em outros casos há uma intensa resistência da opinião pública. Como Bourdieu explica o direito não deve ser entendido como uma ciência rígida, com leis pétreas que não seja possível a interpretação pelos diversos campos do conhecimento, o ordenamento jurídico deve ser analisado e aplicado com parcimônia para que possa atender tanto a complexidade social, quanto para o próprio direito.
      Outra questão relevante no que tange ao aborto de anencéfalos é o poder simbólico que os diferentes grupos sociais carregam que Bourdieu também abordo em seu trabalho. Cada grupo tem um viés e um peso nessa discussão, para os grupos religiosos e provida toda vida é sagrada (mesmo no caso de anencéfalos, onde os bebês não sobrevivem mais do que alguns dias após o parto), para os grupos médicos e femininos a gestação do anencéfalo é um risco a saúde da mãe e uma tortura psicológica, e para o judiciário fica o símbolo de guardião legal, que deve medir os conflitos e chegar a uma resolução que respeite os conhecimentos médicos, acerca deste assunto, e a moral da sociedade.
         É evidente de que essa não é uma discussão simples, apresenta vários lados, muitas ponderações e pouquíssimas respostas que agradem a maioria. Entretanto a decisão do STF de permitir o aborto de anencéfalos é a mais coerente, já que leva em conta o conhecimento médico que define a vida como a capacidade de ter sinapses cerebrais, entende o risco de vida que a mãe sofre, os problemas psicológicos que a mãe enfrenta, respeita o ordenamento jurídico a cerca da vida digna, tanto da mãe, quanto do bebê, já que esse não pode ter uma vida por mais de alguns dias e não desenvolve qualquer interação com o mundo.
        Essa não é uma decisão fácil de ser tomada pelo direito nem pela mãe, mas é a necessária para o progresso do ordenamento jurídico e da sociedade, é tratando de temas assim delicados, com a devida atenção e compreensão das diversas facetas morais, sociais, médicas, jurídicas, etc, que pode haver um desenvolvimento.
Yannick Noah Ferreira Silverio – Turma XXXV(matutino)

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