sexta-feira, 23 de março de 2018

Medo do divergente

      O tecnicismo vigente na nossa sociedade é fruto do pensamento positivista, no qual impera o normativismo e há sempre o fito de otimizar resultados práticos. Tal otimização é vista, por exemplo, no pensamento imediatista da sociedade. Esta já não vê mais sentido em processos que demandem muito tempo ou reflexão, pois entende que a pluralidade de pensamentos atrapalha a ordem e o avançar do corpo social para o estado positivo. Dessa forma, a reflexão torna-se dispensável, abrindo espaço para possíveis pensamentos intolerantes e propagação do senso comum.
       É nesse progresso positivista que vemos o banimento feito em escolas de livros que tratam de questões étnicas, artísticas, culturais e de gênero. Aulas de filosofia e sociologia sofrem diminuição de sua carga horária ou são até retiradas da programação estudantil para dar espaço a informática, a robótica e ao ensino técnico profissionalizante que visa inserir o jovem o mais rápido possível no mercado de trabalho e nos padrões normativos.
     Nesse diapasão, é importante ressaltar que o Direito ainda que envolto por pessoas que realizam discussões e estejam a par dos movimentos sociais, é permeado por muito positivismo. Seja no sentido de obedecer a normas jurídicas, como as pensadas por Kelsen, como para manter a ordem social, uma vez que busca a conservação de tradições e costumes dentro dos processos. A sociedade que defende que ‘’bandido bom é bandido morto’’, banaliza discussões sobre orientação sexual e repudia obras de arte que a afrontem, cobra do Direito posturas mais rígidas para retomar a ordem caso esta seja deturpada, pois vê nele a força coercitiva necessária para reestabelecimento do que é visto como correto e punição ao que é visto como desordeiro.
     Portanto, vemos que os pensamentos positivistas de Comte ainda se aplicam hoje em dia, por terem adesão da maioria, que busca segurança e sentido fixo aos rumos da sociedade, possivelmente por temer que opiniões divergentes das da classe dominante ganhem espaço e aceitação ampla. No fim, busca-se a ‘’ordem e progresso’’ por temer que suas convicções sejam questionadas e postas em cheque. Optando-se, por fim, a seguir o que o senso comum considera correto, o que produz resultados mais imediatos e técnicos.



Thaís Ramos Araujo Dias Barboza - 1°ano Direito Noturno

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