sexta-feira, 23 de março de 2018

A Segunda Natureza

  Uma das características mais acentuadas da contemporaneidade é, indubitavelmente, o consumismo desenfreado e, justamente, por estar tão enraizado no século XXI, ele seria facilmente considerado um ''fato social'' nos dias de hoje pelo sociólogo Émile Durkheim, estudioso do século XIX. Para pensador, fato social seria tudo aquilo que é geral, exterior e coercitivo ao indivíduo; dentre tantos fenômenos na atualidade que se enquadrariam nessa descrição, o consumismo poderia se passar facilmente por apenas mais um deles, mas não: ele se sobressai aos outros devido ao tamanho do seu impacto nas relações humanas e na sociedade moderna, de um modo geral.
  Essa ''cultura do consumo'' já está angariada nas novas gerações crescidas sob a base do capitalismo e abrange não só a compra de bens em si, mas também o egoísmo, o desperdício, a destruição do meio ambiente e a competitividade. O filme ''Amor Por Contrato'', dirigido por Derrick Borte, retrata bem essa realidade na medida que questiona a ética das empresas e dos vendedores e o quanto o desejo de ter afeta negativamente a vida dos seres humanos. “As pessoas vendem uma atitude, um estilo de vida, pois elas querem o que você tem” é uma das falas mais expressivas da obra cinematográfica sobre o tema.
  Complementando o supracitado, é perceptível que hoje vigora-se um tipo de ''solidariedade negativa'' como coloca Durkheim, uma vez que o consumismo separa cada vez mais os indivíduos ao invés de uni-los. Isso faz que o pensamento coletivo vá perdendo sua força e a sociedade, que deveria funcionar como um organismo coeso, se desagregue aos poucos. Essa perspectiva, ademais, se reflete dentro das próprias Instituições (já que atualmente é o mercado que dita qual papel elas devem desempenhar) a exemplo do Direito que adquire um princípio Real, a fim de tratar do relacionamento das pessoas com as coisas e das novas associação feitas, que se dão através dos contratos. 
  O fenômeno do consumismo nos dias de hoje, por fim, é muito mais complexo do que se possa imaginar, e a magnitude atingida por ele é algo que seria impensável nos tempos de Durkheim. Essa faceta do capitalismo rege toda a estrutura da sociedade, os relacionamentos e até mesmo às emoções individuais ligadas ao desejo, à ambição e à felicidade de acumular bens materiais (por vezes ilusória). Assim, na modernidade, a vontade de adquirir pertences se tornou preocupante, na medida que a humanidade incorpora esse fato social como sua segunda natureza.


Lívia Marinho Goto - Turma XXXV - Matutino 

  

  

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