domingo, 24 de setembro de 2017

Um olhar weberiano, escola e indivíduos...


  Recordo-me com saudades da escola onde cursei o Ensino Fundamental I... Tratava-se de um prédio muito robusto e acolhedor, com grandes jardins ensolarados disponíveis a todos. Certa vez, minha turma foi escolhida para a realização de uma transição quanto ao ensino de música: desagregá-lo das aulas de artes e dar início ao ensino de como tocar instrumentos musicais. A ideia era ótima, pois estimularia o cérebro e auxiliaria no desenvolvimento cognitivo e auditivo das crianças. Além disso, um ótimo local para as aulas seria ao ar livre, desfrutando dos jardins da escola e visando estabelecer um contato maior entre criança e natureza, além de proporcionar uma "transmissão de conhecimentos de maneira descontraída, através de momentos diferentes de socialização".  Estava concebido o tipo ideal! Faltava, apenas, a direção exercer seu poder para aplicar tal cosmovisão sobre a ação dos outros.

  A escola municipal ainda não contava com um professor infantil de música, dessa maneira, encarregou disso o maestro da banda marcial. De qualquer forma, esperava-se que as crianças tivessem uma reação totalmente previsível diante daquelas melhorias... mas não. Conforme a dificuldade das aulas aumentava, alguns alunos questionavam o porquê de terem que se submeter àquilo quando, na verdade, queriam se esforçar menos e brincar mais. Outros, choramingavam diante da luz do sol e dos pequenos insetos do jardim. Ao menos foram provocadas relações sociais: os demais começaram a reagir conforme as ações dos “reclamões”, o que alterava o significado de todas aquelas iniciativas, tencionando o modelo. Tudo isso era irritante para o maestro lidar e até mesmo ele estava desanimado. A crítica chegou aos pais e, estes, ao invés de incentivar, também passaram a criticar a escola – porém sob ótica diversa da dos filhos: a de uma ética de trabalho e de vida metódica – indagando qual razão estava fazendo com que a instituição prejudicasse a sua produção (“atrasando-a”) com recursos alternativos ao invés de aplicar a educação como preparo para a vida do trabalho.

  O embate cultural acirrou-se de tal forma que a escola não viu alternativas a não ser suspender a transição naquele ano e aplicá-la somente à próxima turma, com novo professor e  mais diálogo, além de ter, desta vez, o tipo ideal apenas como um recurso, uma referência do objetivamente possível frente as atividades escolares.


Diogenes Spineli Soares Filho, 1º Ano, Direito Noturno

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