domingo, 20 de agosto de 2017

Consciência coletiva nos níveis regional, nacional e mundial

    Um dos principais componentes da sociologia de Émile Durkheim corresponde aos fatos sociais, caracterizados como maneiras de agir, pensar e sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotados de um poder coercitivo que subordina as consciências individuais. Assim, os fenômenos sociológicos não resultam da natureza humana, ou seja, do psicológico do homem, pois possuem uma natureza própria e representam uma realidade específica, compondo uma consciência coletiva. Se o psicológico fosse a causa dos fatos sociais, como defendia Spencer, a vida social variaria de acordo com caracteres étnicos, e se fosse a disposição do homem para o avanço da história e do progresso, como Comte entendia, cada povo seria o prolongamento daquele que o precedeu, portanto, cada sociedade seria um momento qualquer de um todo. No entanto, existem diferentes formas de organização em comunidades semelhantes e formas semelhantes em comunidades diferentes e a tendência da humanidade de progredir não possui conexão causal. Essas constatações geram o seguinte questionamento: o que causa então a diversidade dessa consciência coletiva que consequentemente diferencia as sociedades contemporâneas entre si? Para Durkheim, é o modo que as consciências individuais se combinam. Cada um corresponde a um tipo de associação, e cada associação, por sua vez, corresponde a uma vida social.
    O autor reconhece também a existência de manifestações privadas, que reproduzem em parte um modelo coletivo mas dependem da constituição orgânico-psíquica do indivíduo. Por terem ligação com o meio geral, a repressão se torna menos eficiente e esses grupos particulares se mantêm dentro da sociedade, por mais radical que sejam. Um exemplo desse fato é a separação entre sunitas e xiitas, grupos que seguem o islã, porém possuem concepções, interpretações e crenças distintas.
    O meio humano possui uma densidade dinâmica, que expressa os vínculos morais de uma comunidade e a união entre seus grupos e a densidade material, que consiste nas vias de comunicação entre esses grupos ou entre diferentes comunidades. Cabe aqui destacar dois momentos em que a densidade material se alterou: o primeiro é o período da expansão marítima europeia (aproximadamente no século XVI), em que houve uma ampliação espacial dos vínculos morais e as metrópoles impuseram sua consciência coletiva às populações nativas das colônias, transformando a densidade dinâmica dos dominadores e dos dominados. Esse fato configurou identidades culturais além das fronteiras nacionais e, mesmo após as independências, as ex-colônias mantiveram grande parte dos fenômenos sociais que lhe foram apresentados, e o segundo é o que vivenciamos atualmente. De forma geral, pode-se afirmar que cada nação contemporânea tem sua consciência coletiva, composta por seus valores, costumes, sistemas, religião, práticas, política e tradições. Com o avanço tecnológico e a globalização, a densidade material se alterou novamente e aproximou diferentes sociedades, embora a divisão ocidente/oriente ainda continue praticamente intacta como sempre foi ao longo da história, o que revela a existência de uma consciência coletiva de caráter mundial. Seu alcance nem sempre foi consolidado de forma pacífica ou natural, possuindo muitas vezes um caráter impositivo, violento e dominador, como ocorreu no séculos XVI e XVII, no período do neocolonialismo e ocorre até hoje, devido ao poder bélico, econômico ou intelectual que as grandes potências exercem sobre as "inferiores" nesses quesitos.
    À nível mundial, a consciência predominante é a ocidental (de forma geral), apesar de estar em constante conflito com as nações orientais devido às divergências relacionadas aos fatos sociais que caracterizam cada sociedade. Essa predominância pode ser verificada na submissão das consciências regionais às nacionais e a quase total adesão das nacionais à ocidental, tendo um grande enfoque no âmbito dos direitos humanos.

Eloáh Ferreira Miguel Gomes da Costa - Direito, 1° ano, matutino.
 

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