terça-feira, 8 de novembro de 2016

A Incompatibilidade da Expectativa Social

É interessante observar que o espaço temporal desde que a Lei Áurea foi assinada até a atualidade não comporta um grande número de gerações. Mesmo assim, cobra-se dos negros uma ascensão social desproporcional a tal intervalo de tempo. Entretanto, em um sistema capitalista, cujo maior sustentáculo é justamente a divisão de classes, não há espaço hábil ou interesse sistemático para que em poucas gerações, milhões de pessoas, as quais sempre foram marginalizadas, alcancem a emancipação e, por conta própria, fiquem em pé de igualdade com aqueles que sempre foram privilegiados. 
Esta lógica mercadológica do "cada um por si", muito longe de estabelecer igualdade de oportunidades, apenas promoveu a manutenção sistemática do quadro de privilégios e marginalização. Os negros permaneceram alijados do sistema educacional, condicionando-os a um espaço de exploração exacerbada na macroestrutura do país. A situação é tão extrema que, mesmo sendo mais da metade da população brasileira, negros e pardos não compõe nem 1/5 dos matriculados em universidades. 
É neste sentido que entra o dever de ação do Estado. Segundo o princípio de emancipação social viabilizada pelo Direito: “[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza [...]", é neste alicerce que são aplicadas as ações afirmativas. Mesmo que plenamente justificadas no âmbito sociológico, as cotas raciais são vítimas de ferrenhos ataques, frutos do fascismo social e do ódio de classe que emerge a classe média brasileira. Pode-se constatar isso, observando a ação provida em 2009 pelo Democratas (DEM), uma das organizações políticas que mais explicitamente representa a parcela fascista da sociedade, contra o programa de cotas raciais da UnB, universidade pioneira em ações afirmativas. A ação foi decidida em 2012 pelo STF, em favor da UnB, mantendo a política que busca diminuir a desigualdade.
Mauricio Vidal Gonzalez Polino/noturno

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