Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
quinta-feira, 31 de maio de 2012
PODER: DIABO SOCIAL
O poder só muda de dono. Já repararam como nas mais diversas sociedades o poder sempre foi exercido por uma minoria e que esse poder vai passando de mão em mão, sem pertencer, jamais, a todo o povo ? Me parece que desde que o homem tomou consciência de sua existência em sociedade passou a exigir que houvesse um poder. E por que ? Por que o homem esteve sempre solidificando um poder e transmitindo ele de mão a mão ? Talvez por que desde que a sociedade começou a se configurar como tal, sempre conteve trabalhos que desagradavam a uma imensa maioria. Sejamos sinceros. Raramente se encontra uma pessoa que goste de limpar o chão, varrer o lixo, limpar a casa e mais, confeccionar produtos que foram se tornando essenciais à vida humana, como vestimentas, alimentos, enfim, trabalhos pesados que exigem desgaste corporal. Mas esse trabalho "precisa, necessariamente, ser feito". E será feito pela maioria desprivilegiada, a massa trabalhadora que não tem a opção de recusar esses trabalhos porque se o fizer morre faminta. E se esse trabalho será feito sem que o trabalhador goste, acredito que será feito na base da EXPLORAÇÃO! Me parece que não só o poder mudou de dono. Parece que ao decorrer dos séculos, a grande massa desprivilegiada trabalhadora miserável também foi mudando de dono. Se antes, no escravismo, era expressamente propriedade do seu dono, na Idade Média era do seu Senhor, na sociedade burguesa é da burguesia. Me parece que só o que aconteceu foi uma troca do dono do poder camuflada por "direitos concedidos". Mas isso acontece de uma forma muito mais HIPÓCRITA, que faz parecer tudo muito justo, tudo muito certo. Mas na verdade é como roubar as esmolas dos mendigos para enriquecer ainda mais os milionários. E assim o homem é vítima de sua própria espécie e sua própria mesquinharia, e caminha rumo a própria extinção.
Isso tudo me lembra a política européia em relação aos países latino americanos quando recém descobertos (América pré-Colombiana). Aniquilava-se a elite dessas sociedades bem como seus governantes. E o que sobrava ? Sobrava uma imensa massa desprivilegiada miserável e desinformada, a mercê agora do seu novo dono, o europeu. E por que será que essa imensidão de pessoas não conseguia combater o invasor ? Talvez pelo mesmo motivo que hoje, essa mesma imensidão de pessoas abandonadas não consegue, ainda, combater os donos do poder. Parece que na sociedade que conhecemos, sempre terá de existir um explorador e um explorado. Afinal de contas, alguém tem que fazer o serviço...
terça-feira, 29 de maio de 2012
Marx e Engels: socialismo utópico x socialismo científico
Em “Do socialismo utópico ao socialismo científico” Friederich Engels aborda de maneira lacônica as ideias marxistas, sobretudo a respeito do Socialismo Francês, a Filosofia Alemã e a Economia Inglesa. Engels ressalta a importância das antigas teorias socialistas, as quais pregava-se que em uma sociedade quando todos o compreendessem e nele acreditassem, ai então apareceria uma sociedade socialista, mas afirma que para tal sistema ser instaurado com êxito seria necessário situa-lo na realidade livre de utopias e ilusões. Disserta também a respeito do método dialético em oposição ao metafísico e sobre as contradições do capitalismo.
Marx e Engels defendiam a analise da história material dos homens, suas relações entre si e com o meio natural , para depois desvendar as formas ideológicas. Propunham o estudo das relações empíricas entre indivíduos, países, classes, regiões, etc, conjuntamente com a interpretação de tais relações, pois o essencial era investigar o processo de desenvolvimento da sociedade. Acreditavam que a História, Economia e Política forneceriam base factual para se determinar o comportamento social, observados por um viéz crítico e um ponto teórico específico: o materialismo dialético.
Outro conceito abordado por ambos é o da luta de classes. É no conflito entre classes com interesses antagônicos, como por exemplo, a burguesia e o proletário, que a história atravessa seus diferentes estágios. Uma classe só se origina na medida que indivíduos se reúnem para lutar contra outra classe, e como fruto desses conflitos a ideologia daqueles que vencem é transmitida com a ideologia geral.
Apesar do socialismo real, pregado por Marx e Engels, nunca ter vingado de fato em país algum, as questões relacionadas ao Pensamento Socialista não devem ser consideradas ultrapassadas, posto que são importantes para retomarmos e repensarmos algumas discussões sobre determinados assuntos como desigualdade entre classes, exploração econômica, má distribuição de renda, etc., uma vez que esses são "fantasmas" que nos assombram até hoje e cada vez mais.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Para explicar o Mundo.
Se a filosofia até Marx, se destinou à finalidade contemplativa do mundo, a partir daí ela ganhará contornos de mudança, se destinará à transformação do mundo. O socialismo científico se propôs a romper com a tradição filosófica da qual derivava. O idealismo hegeliano, ao mesmo tempo que trazia consigo uma percepção de contexto histórico, em que "a História tomava o lugar de Deus, e a escalada dialética já não era a da alma que ascendia a Deus, mas a das formações históricas que se sucediam em direção ao Estado moderno"¹, por outro lado não se desprendia do sentido metafísico em que o homem ontológico realizaria-se por completo. Marx e Engels rompem com esta metafísica se atendo filosoficamente às necessidades materiais do homem.
O socialismo científico, portanto, se configura como uma nova proposta de leitura do mundo, baseado cientificamente em um novo materialismo, o materialismo histórico-dialético, guia de estudo e método marxista para análise das condições materiais de uma sociedade, tendo em vista sempre o confronto de interesses das classes antagônicas, a luta de classes.
Os conceitos e suas definições muitas vezes são bem abordados e trabalhados com tamanha profundidade e sutileza que a literatura ganha veracidade científica, isto acontece sobretudo neste trecho em que as palavras de Eduardo Galeano traduzem com exatidão e precisão a dimensão materialista de mundo, iniciada (nesta forma concebida no trecho) pela produção do socialismo científico:
¹ Retirado de SCHOPENHAUER, Arthur - Dialética Erística; notas de Olavo de Carvalho. página 70 - Editora TopBooks,
O socialismo científico, portanto, se configura como uma nova proposta de leitura do mundo, baseado cientificamente em um novo materialismo, o materialismo histórico-dialético, guia de estudo e método marxista para análise das condições materiais de uma sociedade, tendo em vista sempre o confronto de interesses das classes antagônicas, a luta de classes.
Os conceitos e suas definições muitas vezes são bem abordados e trabalhados com tamanha profundidade e sutileza que a literatura ganha veracidade científica, isto acontece sobretudo neste trecho em que as palavras de Eduardo Galeano traduzem com exatidão e precisão a dimensão materialista de mundo, iniciada (nesta forma concebida no trecho) pela produção do socialismo científico:
A origem do mundo.A guerra civil da Espanha tinha terminado fazia poucos anos, e a cruz e a espada reinavam sobre as ruínas da República. Um dos vencidos, um operário anarquista, recém-saído da cadeia, procurava trabalho. Virava céu e terra, em vão.Não havia trabalho para um comuna. Todo mundo fechava a cara, sacudia os ombros ou virava as costas. Não se entendia com ninguém, ninguém o escutava. O vinho era o único amigo que sobrava. Pelas noites, na frente dos pratos vazios, suportava sem dizer nada as queixas de sua esposa beata, mulher de missa diária, enquanto o filho, um menino pequeno, recitava o catecismo para ele ouvir.Muito tempo depois, Josep Verdura, o filho daquele operário maldito, me contou. Contou em Barcelona, quando cheguei ao exílio. Contou: ele era um menino desesperado que queria salvar o pai da condenação eterna e aquele ateu, aquele teimoso, não entendia.— Mas papai — disse Josep, chorando — se Deus não existe, quem fez o mundo?— Bobo — disse o operário, cabisbaixo, quase que segredando —. Bobo.Quem fez o mundo fomos nós, os pedreiros.
O Livro dos Abraços - Eduardo Galeano
¹ Retirado de SCHOPENHAUER, Arthur - Dialética Erística; notas de Olavo de Carvalho. página 70 - Editora TopBooks,
A relativização da teoria de Engels e da concepção de uma bondade intrínseca
Desde que absorvemos concepções externas, mesmo que não percebemos,
elas estão sempre acopladas à ideais. Assim, toda a nossa percepção da
realidade está ligada a diversos valores, sejam eles oriundos de tradições da
sociedade como um todo ou mesmo de valores peculiares às pessoas que os transmitem
a nós.
Dessa forma, a ideia da bondade intrínseca ao ser humano- ou
mesmo de um objetivo final que visa um bem comum - foi instituída com a ascensão
do cristianismo, portanto, nem sempre esse valor acompanhou a humanidade. Com
isso, percebemos talvez a fragilidade da teoria de Engels e Marx, já que
instauram pressupostos criados. Ou não, talvez seja a correção dos males
sociais, a “evolução” de uma sociedade egoísta.
Mas e se a ideia pregada por Friedrich Nietzsche
for a mais ideal? Se toda a nossa paixão pela igualdade social for simplesmente
uma negação dos aspectos naturais ao homem e, então, completamente utópica? Ou
se o homem é simplesmente algo a ser construído e suas ações em situações
extremas não representem o que ele realmente é, ou caso elas sejam apenas decorrentes
de costumes sociais degenerados?
Toda essa nebulosa que não permite ver claramente a verdade,
caso esta exista, não nos leva à qualquer opinião, já que acaba desenvolvendo uma filosofia meramente especulativa. Aderir aos conceitos marxistas ou aos nietzscheanos
é uma escolha peculiar a cada homem, mas não se pode esquecer das diversidades
da realidade, sem se deixar alienar por um ou outro conceito.
Gregor Samsa e Marx
O socialimos anterior a Marx e Engels era conhecido por ser primitivo ou até mesmo utópico, isso pois pregava mudanças sociais muito fora da realiade, ou seja, difíceis de serem colocadas em práticas, tal como os falanstérios que seriam lugares onde haveria uma felicidade humana.
Para quebrar esse idealismo político, Marx e Engels formularam a teoria do socialismo científico, esta baseava-se na ideia de que todas as sociedades tinham como ponto fundamental o trabalho, que era a base econômica conhecida também como infraestrutura, essa infraestrura desencadeava a superestrutura que eram as instituições jurídicas e ideológicas. Chegou-se, portanto, a conclusão de que em todos os períodos da história da humanidade houve exploração do trabalho de um homem por outro homem. Surge então, a idéia da tese (situação política e econômica atual, na qual existe exploração do trabalho) e a antítese (situação nova que surge com a derrubada da antiga, mas que ainda assim terá exploração do trabalho).
Marx defendia também a idéia de alienção do homem pelo trabalho, tal concepção é explorada na obra "A Metamorfose" de Franz Kafka. Nela Gregor Samsa vive a trabalhar para sustentar sua família que não valoriza o esforço dele, e a fim de mostrar a degradação do homem explorado na sociedade a personagem transforma-se em uma barata, metaforizando a situação em que este se encontrava.. explorado e degradado diante da sociedade.
O operário , então, torna-se um ser alienado, sua vida gira em torno apenas do seu trabalho e da indústria cultural feita para as massas urbanas. O patrão , entretanto, vive para o lucro, está sempre a promover a criação de produtos para que seus operários, em poucos momentos de lazer, consumam e o lucro assim retorne, e a partir daí, aparece a conhecida industrial cultural do consumo. Na qual as obras de arte são feitas não individualizadas, mas sim para que sejam comercializadas para as massas urbanas.
Para quebrar esse idealismo político, Marx e Engels formularam a teoria do socialismo científico, esta baseava-se na ideia de que todas as sociedades tinham como ponto fundamental o trabalho, que era a base econômica conhecida também como infraestrutura, essa infraestrura desencadeava a superestrutura que eram as instituições jurídicas e ideológicas. Chegou-se, portanto, a conclusão de que em todos os períodos da história da humanidade houve exploração do trabalho de um homem por outro homem. Surge então, a idéia da tese (situação política e econômica atual, na qual existe exploração do trabalho) e a antítese (situação nova que surge com a derrubada da antiga, mas que ainda assim terá exploração do trabalho).
Marx defendia também a idéia de alienção do homem pelo trabalho, tal concepção é explorada na obra "A Metamorfose" de Franz Kafka. Nela Gregor Samsa vive a trabalhar para sustentar sua família que não valoriza o esforço dele, e a fim de mostrar a degradação do homem explorado na sociedade a personagem transforma-se em uma barata, metaforizando a situação em que este se encontrava.. explorado e degradado diante da sociedade.
O operário , então, torna-se um ser alienado, sua vida gira em torno apenas do seu trabalho e da indústria cultural feita para as massas urbanas. O patrão , entretanto, vive para o lucro, está sempre a promover a criação de produtos para que seus operários, em poucos momentos de lazer, consumam e o lucro assim retorne, e a partir daí, aparece a conhecida industrial cultural do consumo. Na qual as obras de arte são feitas não individualizadas, mas sim para que sejam comercializadas para as massas urbanas.
A marcha da sociedade rumo ao comunismo
Ao propor o socialismo científico, Marx e Engels rompem com o
socialismo utópico, vinculando-o estritamente a realidade e adotando uma visão dinâmica
desse, na qual o comunismo é a etapa final do movimento dialético da história,
propiciado pela “lute de classes”. Para
o marxismo, a história nada mais é do que do que a negação da realidade vigente
e síntese de uma nova por esse processo (“hipótese + desenvolvimento + tese +
dialético = síntese”).
No entanto, a dialética marxista diferencia-se da de
hegeliana ao substituir as “leis históricas” do último pelo “fato histórico”,
valorizando a abstração em detrimento da idealização. Ainda nesse contexto, o
movimento proporcionado pela “luta de classes” tem raízes econômicas, sendo o
modo de produção (o controle das forças produtivas), segundo o materialismo
dialético, a origem dessa luta e o motor por traz das mudanças sofridas por
diferentes sociedades ao longo do tempo; apenas o comunismo, onde esse conflito
estaria ausente, não mais há lugar para o fenômeno dialético.
Portanto, inserido no marxismo, o iluminismo é visto como
parte desse progresso, porém é também, ao dar luz a sociedade burguesa, uma
etapa a ser superada. Tal como a
burguesia tomou da nobreza o controle das forças produtivas, também deve o proletariado
tomá-lo da burguesia; ambos são parte da marcha histórica rumo ao comunismo,
porém, estando um a frente do outro, o
anterior torna-se um obstáculo a ser superado.
Yuri Rios Casseb
Dialética e Direito
Mesmo com o queda do muro de Berlim que fez com que a ordem mundial bipolar caísse por terra e discussões acerca o socialismo se tornassem menos frequentes na maioria dos países desenvolvidos, as ideias de Marx e Engels ainda estão muito presentes em vários lugares, inclusive no Brasil.
Essa influência é evidente nos pensamentos de vários intelectuais, alguns acreditam que o socialismo ainda pode ser implantado no mundo. Indiscutivelmente, além da beleza do socialismo utópico, Marx e Engles também deram contribuições no que diz respeito a dialética, o caráter científico de seus trabalhos podem ser tomados como atuais.
A atualidade da dialética pode ser constada no próprio Direito. Ele é dinâmico e a todos os momentos serve de instrumento para a formulação de sínteses (novas teses). É possível observar que as várias decisões dos tribunais em relação a cotas, direitos dos casais homoafetivos, dos negros, são exemplos do rompimento com algo que já existia. Exemplos da não estaticidade do Direito que a cada dia no Brasil se mostra um caminho para mudanças.
Influência socialista
Uma mesa. Por trás do materialismo
tradicional, uma mesa é simplesmente apenas uma mesa. Mas para o materialismo
histórico dialético há um grande processo em torno da construção da mesa: enxerga-se
o mundo daqueles que trabalharam e se esforçaram para que a mesa fosse construída,
distribuída e vendida à sociedade.
No
desenrolar da Idade Moderna, a burguesia galgou grande crescimento econômico.
No entanto, diferente do mundo atual, ter poder econômico não era sinônimo de
poder político, até que então eclodiu a Revolução Francesa. Desde então, a burguesia,
afirmou-se como detentora do poder político e econômico. Dona do meio de
produção explorava a classe trabalhadora através da mais valia. É nesse
contexto de “opressores” e “oprimidos” que nasce a teoria socialista no século
XIX.
O mundo
nunca experimentou o socialismo científico – aquele vislumbrado por Fredrich
Engels e Karl Marx – o máximo que se atingiu foi o socialismo real – aquela vivenciado
pela URSS. No entanto, segundo Engels um mundo socialista é uma fase inevitável
a humanidade, uma consequência da história, no entanto porque essa fase ainda
não se concretizou, se é que se concretizará? Uma das respostas é que o capitalismo
da época de Émile Zola descrito em o Germinal foi reformulado, não que isso
signifique que todos os operários da atualidade tenham uma vida totalmente
digna, mas é certo que a condição de vida de muitos trabalhadores melhorou graças
a leis que garantissem certos direitos trabalhistas. Ou seja, o capitalismo
permitiu que as classes D, E, F também usufruíssem do “prazer consumista”. No
entanto, não sejamos idealistas em não enxergar a massa dos que ainda são explorados
fisicamente, sexualmente, economicamente.
Um outro
fator interessante a ser discutido também é a dialética. Entende-se por
dialética a existência de um fato - a tese - que em conjunto com a antítese
(algo contrário a tese) formaria uma síntese. Um exemplo histórico é a
existência de Roma (tese) que ao ser invadida pelos bárbaros (antítese) formou
o feudalismo (síntese). Ou seja, o feudalismo é síntese dialética entre o
militarismo, colonato, latim, direito e catolicismo romano com o militarismo,
comitatus, política fragmentada e agricultura de subsistência bárbara.
É muita prepotência
afirmarmos o que o futuro reserva, proferindo qual será o futuro sistema econômico.
No entanto, algo é certo: há uma grande influência da teoria socialista na construção
de um capitalismo reinventado, além do que, não se pode negar o peso que as
ideias de Marx e Engels possuem nas rodas de discussão acadêmica.
Pequena Análise dos Ideais de Marx e Engels, e crítica ao materialismo dialético.
É indiscutível a
importância que as obras e ideias expostas por Marx e Engels causaram na
história mundial. Através do pensamento desses dois grandes autores, os
explorados nutriram sua alma do espírito revolucionário e mais uma vez confiram
na Revolução. Como fica evidente segundo o jornal mural da 19ª Brigata Eusebio
Giambone, dos partisans italianos (1944, apud
PAVONE, 1991, p. 406): “Depois da Revolução Francesa, surgiu na Europa uma
Revolução Russa, e isso mais uma vez ensinou ao mundo que mesmo o mais forte
dos invasores pode ser repelido, assim que o destino da Pátria é realmente
confiado ao povo, aos humildes, aos proletariados, à gente trabalhadora”.
E, embora, a URSS não tenha concretizado as ideias propostas
por Marx e Engels, e talvez por isso tenha falhado, é, portanto, de fundamental
importância o estudo das ideias socialistas e comunistas para o entendimento do
mundo de hoje e da época que ficou conhecida, graças a Eric Hobsbawn, como “Era
dos Extremos”.
Uma das grandes sínteses dessas ideias e também de como elas
foram formadas está no texto escrito por Engels “Do Socialismo Utópico ao
Socialismo Científico”. Nele entendemos como tais ideais foram conquistando os
membros das classes operárias. Pois ao mesmo tempo em que ele reconquistava a
esperança na revolução para atingir os ideais de igualdade e liberdade, que o Liberalismo
havia destruído; possuía um caráter científico, através do materialismo
dialético, que suscitava a possibilidade de ele não ser apenas mais uma utopia.
Infelizmente é impossível saber se a proposta de Marx e
Engels é utópica, pois ela nunca foi aplicada de maneira verdadeira. Mas
podemos tecer duas considerações. A primeira é que a cientificidade do
materialismo dialético fora negada por Karl Popper, pois o fato de a dialética se
utilizar da contraposição de ideias com ideias, sem levar em consideração
evidências, faz com que ela reduza todos os objetos ao antagonismo da antítese,
e o método científico não se valida de antítese e sim de observações do objeto
sem a interferência crítica ou especulação. E a segunda é justamente o fato de
que, embora, essa crítica seja forte ela não prova que o modelo político
proposto por Marx e Engels não seja melhor que os atuais. Portanto, o estudo
desses autores ainda é extremamente válido, ainda mais, para o direito que vem
agindo como importante ferramenta ativista nos últimos tempos em nosso país.
Socialismo, o fim da história?
Os famigerados pensadores Karl Marx e Friedrich Engels, usaram brilhantemente de seu “materialismo histórico e dialético” para demonstrar que, primeiramente: o ambiente, os organismos e os fenômenos físicos moldam a sociedade e a cultura da mesma maneira que estas os influenciam; e, posteriormente, afirmando que tudo é fruto da luta de ideias e forças, que na sua oposição geram a realidade concreta. Criaram, com ambas estas afirmações, uma maneira revolucionária de se entender a história, que fugia do predominante idealismo, e mostrava uma maior fluides ante os fatos passados e presentes. Existe, porém, uma conseqüência não comumente observada desta realidade.
Como, para este pensamento, a mudança histórica se dá baseada em uma realidade pré-existente, vinda de realidades anteriores que se seguem e que contém em si sua própria contradição, tendo em vista que a realidade existente não se modifica de maneira sobrenatural (segue determinadas leis), é possível inferir que todo o caminhar humano já está determinado, todo o destino está escrito e que, por tais razões, é passível de ser descoberto se houver suficiente conhecimento da realidade e das leis que a determinam. É aí que reside a importante questão: é possível conhecer tão profundamente a realidade, a ponto de dizer ao certo qual o destino final dos homens?
Nossos autores, ouso dizer que com certa pretensão, entenderam ter encontrado tais respostas e leis fundamentais. Para eles, há uma constante luta entre classes (definidas pelas relações econômicas da sociedade) e este é o 'motor' principal da história, que cessará em um sistema onde, com o fim da propriedade privada, estas classes deixem de existir. Não ficarei esmiuçando a concepção, já desgastada de explicação, a qual se nomeou Socialismo. É importante, porém, destacar tal distinção entre o método e as conclusões alcançadas, estas que causam tanta polêmica já a algumas décadas. Cabe ainda entender que possam haver fatores outros ou mais complexos que também operem o caminhar da humanidade e buscá-los, destacá-los, traze-los a debate. Enfim, será que o socialismo, como pensado por Marx e Engels, será mesmo o fim da história?
O SOCIALISMO CIENTÍFICO DE ENGELS
Friedrich
Engels, em sua obra "Do socialismo utópico ao socialismo científico",
traz o conceito de socialismo como ciência e não mais apenas como idealismo.
Com isso, ele visa a aplicabilidade de seu modelo, ou seja, passá-lo do campo
das ideias para o campo prático.
Não obstante, Engels afirma que o socialismo é um percurso incontornável da história e não o resultado do gênio humano. Dessa forma, o socialismo desponta como a evolução do capitalismo e não como um modelo antagônico a este. A cientificidade de seu método está em decifrar as constantes históricas e as contradições que o capitalismo traz em si.
Em relação a esse último aspecto, o autor tenta explicar a situação da exploração a partir da razão pensante e não das condições históricas, isto é, a explicação nasce da interpretação dos fatos já ocorridos. É necessária, portanto, a compreensão das forças produtivas e, subsequentemente, do domínio e luta de classes com a finalidade de promover sua racionalização. É daí que nasce a cientificidade do método.
Não obstante, Engels afirma que o socialismo é um percurso incontornável da história e não o resultado do gênio humano. Dessa forma, o socialismo desponta como a evolução do capitalismo e não como um modelo antagônico a este. A cientificidade de seu método está em decifrar as constantes históricas e as contradições que o capitalismo traz em si.
Em relação a esse último aspecto, o autor tenta explicar a situação da exploração a partir da razão pensante e não das condições históricas, isto é, a explicação nasce da interpretação dos fatos já ocorridos. É necessária, portanto, a compreensão das forças produtivas e, subsequentemente, do domínio e luta de classes com a finalidade de promover sua racionalização. É daí que nasce a cientificidade do método.
Dialética Marxista
A dialética marxista é influenciada pelo Iluminismo, que tem como base a liberdade, marcada pela liberdade de mercado.
A liberdade de mercado e as demais novidades trazidas pelo Iluminismo foram fundamentais para a ascensão e fortalemcimento da burguesia, sua concretização e fortalecimento como uma nova classe social dominante.
A burguesia, até então, não era uma classe social dominante, sofrendo uma série de imposições e exploração por parte da nobreza, entretanto, passa de classe oprimida para classe dominante e portadora dos meios de produção que movem a economia da sociedade. É, a partir desse processo que o sociólogo Friedrich Engels afirma que o socialismo é um processo inevitável e incontrolável da história, porque tomando como exemplo o processo burguês, o proletariado, classe oprimida e explorada, assumirá o porder, tornando-se classe dominante, pois é a classe que move a economia, sendo seu trabalho braçal a base para o funcionamento da sociedade. Trata-se do curso natural da humanidade, de acordo com Engels, é o produto necessário da luta intre as duas classes formadas historicamente: o proletariado e a burguesia.
Para Engels, o materialismo histórico é a luta pela vida presento em toda a historia da humanidade, pois a resposta para os males de qualquer época não está nas ideias, mas na própria história.
O socialismo científico dos ideias de Engels e Marx foi fundado e criado como ciência e não a partir de idealizações e especulações, ao contrário da visão do senso comum.
As experiências socialistas reais da sociedade se distanciaram da proposta original de Marx e Engels, e embora uma parcela da sociedade acredite e defenda o socialismo como sistema econômico ideal, a sua concretização na sociedade é utópica e inalcancável, pois o capitalismo é o sistema econômico concretizado e o único capaz de se reciclar, pois consegue englobar e conquistar o proletariado, sendo o maior exemplo a loja de móveis Magazine Luiza, um dos símbolos do capitalismo, que, atráves de seu sistema de crédito e financiamento, consegue promover uma "vida digna" ao proletariado, portanto, o capitalismo consegue conquistar sua classe rivel, o proletariado, se firmando como sistema econômico preponderante e interrminável, sendo seu fim uma ideia banal e infundada.
A liberdade de mercado e as demais novidades trazidas pelo Iluminismo foram fundamentais para a ascensão e fortalemcimento da burguesia, sua concretização e fortalecimento como uma nova classe social dominante.
A burguesia, até então, não era uma classe social dominante, sofrendo uma série de imposições e exploração por parte da nobreza, entretanto, passa de classe oprimida para classe dominante e portadora dos meios de produção que movem a economia da sociedade. É, a partir desse processo que o sociólogo Friedrich Engels afirma que o socialismo é um processo inevitável e incontrolável da história, porque tomando como exemplo o processo burguês, o proletariado, classe oprimida e explorada, assumirá o porder, tornando-se classe dominante, pois é a classe que move a economia, sendo seu trabalho braçal a base para o funcionamento da sociedade. Trata-se do curso natural da humanidade, de acordo com Engels, é o produto necessário da luta intre as duas classes formadas historicamente: o proletariado e a burguesia.
Para Engels, o materialismo histórico é a luta pela vida presento em toda a historia da humanidade, pois a resposta para os males de qualquer época não está nas ideias, mas na própria história.
O socialismo científico dos ideias de Engels e Marx foi fundado e criado como ciência e não a partir de idealizações e especulações, ao contrário da visão do senso comum.
As experiências socialistas reais da sociedade se distanciaram da proposta original de Marx e Engels, e embora uma parcela da sociedade acredite e defenda o socialismo como sistema econômico ideal, a sua concretização na sociedade é utópica e inalcancável, pois o capitalismo é o sistema econômico concretizado e o único capaz de se reciclar, pois consegue englobar e conquistar o proletariado, sendo o maior exemplo a loja de móveis Magazine Luiza, um dos símbolos do capitalismo, que, atráves de seu sistema de crédito e financiamento, consegue promover uma "vida digna" ao proletariado, portanto, o capitalismo consegue conquistar sua classe rivel, o proletariado, se firmando como sistema econômico preponderante e interrminável, sendo seu fim uma ideia banal e infundada.
Realidades se superam
Uma das primeiras coisas que aprendemos é que toda ação gera
uma reação e ponto. Paramos aí o nosso raciocínio, sem nos perguntar ou
perceber o que será dessa reação. Para Engels a reação vira ação e assim
sucessivamente, numa constante e incessante dialética. No entanto a dialética
de Engels baseia-se no materialismo histórico.
Talvez alguns “olhos
treinados” consigam visualizar esse aspecto da teoria sociológica de Engels com
mais clareza, por que não é tão simples no curto espaço de tempo que tem a vida
humana observar todo o movimento dialético da história da humanidade. No
entanto, hoje, na pós-modernidade, a realidade se apresenta como algo tão
rápido e instantâneo que alguns desses movimentos podem ser notados com maior
facilidade.
Pode-se observar uma
mudança de postura por parte de algumas instituições, as quais podem ser
facilmente consideradas como rígidas e até mesmo estática por aqueles que nelas
não estejam inseridos. O Direito, por exemplo, essencialmente na última década
tem se transformado e mudado de “postura”. Com a crescente discussão acerca das
liberdades e direitos individuais de forma latente na sociedade, o Direito tem
sido buscado como forma de alterar a realidade vigente, como instrumento de
afirmação de direitos.
Os direitos conquistados
por homossexuais, por transexuais, pelas mulheres, por negros e etc., mostram
que, se antes o direito era usado para condenar, recriminar e discriminar essas
minorias, hoje ele é usado para e na defesa dessas. Até 2001 as mulheres não
tinham direitos em pé de igualdade com os homens no nosso Código Civil; desde
de o inicio do movimento feminista e até hoje as mulheres adquiriram direitos e
o Direito foi adequando- se a nova
realidade construída. E essa nova realidade não é restrita ás mulheres e nem é
fixa. Afinal, toda situação gera uma determinada reação, para a qual sempre haverá
uma reação’ e assim novas realidades, novos direitos, e sociedades repaginadas
se superam.
Hegel e Engels, a inversão de um unico metodo
Hegel e Engels baseiam seus pensamentos e analises na dialética
através de tese e antíteses que os levam a respostas. No entanto, mesmo se
utilizando de igual método acabam por obter analises inversas. De modo a Hegel
acreditar que o real é uma mera projeção da ideia, ou seja, a realidade social
é proveniente de nossas ideias- o mundo é egoísta pois assim o é o homem- sendo
visto esse pensamento como idealismo Hegeliano. Já Engels acredita que as
ideias são provenientes da dinamica e da luta pela vida, ou seja, mundo
material torna o homem egoísta. Assim acredita que Hegel inverte a dinâmica e que
isso leva a conexões falsas e artificiais. Contudo, as propostas se assemelham
por ambas pregarem a superação da filosofia e metafísica, e por conseguinte a
historia por acreditarem que os males da época estavam contidos nela.Desse
modo, acredita-se que o materialismo foi gerado com a missão de desvendar as
leis do desenvolvimento historico, fundamentando analises.
A grande ideia socialista esta presente no pensamento de
Engels que acredita que toda sociedade com duas ou mais classes esta em
conflito permanente. Assim coloca a ideia de socialismo como a solução, pois
acabaria com o conflito pondo fim a existência de classes, sendo para esse um
processo incontornável da historia. No
entanto é utópico, pois mesmo que não haja diferença entre classes, há
diferença entre as pessoas, como diz o ditado “ninguém é igual a ninguém”, mas
não podemos chamar de inaplicavel. Utiliza-se da ideia socialista para curar as
patologias existentes no devasso sistema capitalista.
Logo, apesar de se utilizarem do mesmo método Hegel e Engels
chegam a diferentes desdobramentos. Sendo o grande foco do pensamento de Engels
o lado social de diluir os conflitos gerados pelo capitalismo pondo fim as
classes sociais, sendo o seu pensamento de tom utópico, mas talvez aplicável.A pesar
de muitos acreditarem ser impossível a superação do capitalismo essa ideia não
é dispensável, afinal ninguém acreditava na superação do modelo feudal e esse
foi superado. Ademais é uma tendência do ser humano superar mazelas atrasadas e
que não condizem mais com as necessidades e objetivos da sociedade.
domingo, 27 de maio de 2012
"Científico"
Em “do
socialismo utópico ao socialismo científico”, Engels apresenta as bases da
ideologia defendida por ele e Marx no século XIX. Ele o faz com uma crítica da
dialética idealista de Hegel e uma análise muito perspicaz da sociedade de sua
época, análise essa que se adapta perfeitamente à realidade atual e põe em
relevo as condições de sujeição de uma classe a outra e os tristes resultados
da Revolução Francesa, que em tese defendeu a igualdade entre todos, mas
redundou na tão conhecida situação de exploração burguesa do proletariado.
Com seu
materialismo dialético, o autor constata que as condições do modo de produção
capitalista logo se tornariam insustentável, devido à exploração da classe
trabalhadora, que, ao chegar a seu limite, destruiria a ordem existente das
coisas, implantando o socialismo. E este, ao contrário do que pareciam pregar
os socialistas utópicos, não seria, portanto, uma verdade absoluta a ser
revelada à humanidade, mas simplesmente a consequência lógica das condições
históricas marcadas pelo capitalismo.
Nessas
condições, a imposição da competitividade entre as empresas e a ambição
constante pelo lucro levam à exploração cada vez maior da classe trabalhadora.
Parece tentador dizer que essa competitividade decorre acima de tudo da ânsia de
consumo da população em geral ( em geral porque percebe-se que até mesmo quem
não tem condições de efetivar o consumo apresenta essa ânsia). Ou seja, ninguém
precisa ter 20 pares de calçados para ter uma vida digna, mas devido a essa
ilusão tão preponderante de que é preciso possuir muito para adquirir
bem-estar, compra-se muito, e pra atender não à necessidade, mas à demanda da
sociedade, as empresas querem produzir mais, mais rapidamente e com os menores
custos, o que leva a essa superexploração. Se o próprio consumo em geral fosse
apenas o necessário, a importância dada a esse processo de produção seria
diferente; ao menos o número de fábricas com funcionários em condições
deploráveis seria menor, então a atenção dada a esse modo de produção seria
menor e a sociedade se basearia em outras fundações. Não que isso seja uma
possível solução, de forma alguma. Essa suposição serve pra demonstrar que
pode-se ver também na fraqueza de caráter da população em geral certa
responsabilidade pela realidade observada.
E essa
fraqueza de caráter leva a outra questão sobre as ideias de Marx de Engels. O
que eles propõem é a tomada do poder pelo proletariado com o objetivo de
extinguir as classes sociais, fundando uma sociedade igualitária. Acontece que
nada garante que esse proletariado, ao chegar ao poder, não se tornará a nova
classe opressora, uma “nova burguesia”. Porque em seus princípios, todas as
revoluções ocorridas, como a Revolução Francesa ou ainda que não presenciada
por esses autores, a Revolução Russa de 1917, visavam ao bem geral da
população, e acabaram instituindo novas situações de opressão. Acreditar
cegamente na boa-fé de uma classe só por ela ter sido oprimida, ignorando a
possibilidade de ela também ter um instinto opressor não seria uma certa ingenuidade?
Assim, apesar de toda essa análise impecável da sociedade capitalista feita por
Marx e Engels, o futuro que eles declaram como certo e lógico talvez não seja
assim tão óbvio, por mais que seja ainda possível que suas previsões se
concretizem e o proletariado funde uma nova ordem social no mundo.
sintese x antitese
O
socialismo surge como forma de solucionar as patologias do capitalismo.
Pretendia erradicar as mazelas sociais, libertando toda a sociedade. E, ao
contrário do que uma parcela significativa da sociedade acredita, é fundado a
partir da ciência, e não de idealizações. E por ter bases científicas, parte de
sua ideologia ainda é atual, como o materialismo dialético, tese socialista que
prega que a sociedade está em constante movimento, em constante transformação.
Para tanto, tais pensadores do século XIX, propunham que: um sistema, dogma ou
tese vigente sempre terá contestações, estas contestações formaram uma
antítese, e ao ser sintetizada se transformaram em uma nova tese, se afirmada.
Este movimento dialético leva a evolução da sociedade, a qual em algum momento,
evoluiria à uma sociedade sem classes sociais, sem propriedade privada, uma
sociedade em que se enfatiza o bem estar social.
A
ideia socialista, em um primeiro olhar, pode parecer utópica, todavia, seus
desdobramentos tem relevância até mesmo na contemporaneidade. A dialética de
Engels, por exemplo, abrange diferentes temas do cotidiano da sociedade. Por
este motivo faz-se necessário uma revisão de preceitos, para que se abandone
visões preconceituosas e deturpadas, e considerar-se a importância dos estudos
do socialismo.
Marina Precinotto da Cruz, direito, diurno
A burguesia e o bicho
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira
Engels faz uma crítica a revolução francesa como
revolução burguesa e que para ele deveria não apenas “abolir os privilégios de
classe, mas de destruir as próprias diferenças de classe” (ENGELS,pg 1)
objetivando assim a libertação de toda a humanidade, não apenas de uma classe.Pois,
como o próprio poema de Bandeira ilustra a nossa sociedade é desigual,
enquanto uns procuram entre detritos seu alimento outros usam das pessoas menos
favorecidas como massa de manobra para conquistar o poder político que não irá
dividi-lo.
Uma analise interessante está presente no livro “Cárcere
e Fábrica”,de Dario Mellossi e Massimo Pavarini , no qual explica uma artimanha da classe burguesa para manter a
estabilidade social pós- Revolução Industrial. No livro deixa claro que naquela
época, as condições de trabalho eram péssimas, com longas jornadas de trabalho,
nenhuma garantia ao trabalhador e baixa remuneração, tudo isso teria que ser
melhor que as condições vividas no cárcere, pois se não a grandiosa massa de desempregados
cometeria atitudes ilícitas para ir viver lá e isso desestabilizaria a ordem
social ameaçando a burguesia que estava no poder. Essa lógica apresentada no
livro continua atual em muitas sociedades, e devemos refletir se o Brasil não é
uma delas.
Numa comunidade repleta de contradições, a
abolição das diferenças de classe como propõe Engels, seria o socialismo
primitivo. Essa abolição faria com que episódios como o do poema e o retratado
na música Miséria SA do Rappa:: “Senhoras
e senhores estamos aqui, pedindo
uma ajuda por necessidade”, não ocorreriam já que todos teriam uma quantia pecuniária
que bastaria para suprir suas necessidades básicas.
Os frutos de Engels
Diferentemente da revolução promovida pela burguesia na França (a famosa Revolução Francesa) que procurou não só expurgar, mas também castigar a classe dos nobres, devido ao secular abuso de poder de que esses usufruíam, o socialismo primitivo propunha não a eliminação de uma determinada classe social, mas a destruição da diferença entre todas as classes, fazendo a assim a libertação da humanidade como um todo.
Mas, para Engels, este tipo de socialismo, além de primitivo, mostrava-se utópico; a ideia deveria ser vista por uma nova ótica em que não se analisaria apenas o momento, mas o que ele traz de contradição e de mudança. Era preciso superar a própria filosofia e ir além da metafísica.
Como todos os outros pensadores anteriormente estudados, Engels traz uma importante inovação ao modo de pensar e analisar a sociedade para a sua época. Ele não se preocupa somente em observar o fenômeno social, mas também com as consequências do mesmo. A defesa de um olhar mais prático mediante a sociedade de exploração e miséria em que vivia trouxe grandes mudanças no pensamento da massa trabalhadora da época e grande temor por parte da classe burguesa.
A própria burguesia, ao notar que de fato a chegada do socialismo era uma realidade palpável, preferiu “perder os anéis a perder os dedos” e passou da intensa exploração do trabalhador ao conhecido “estado de bem estar social”.
Ainda assim, algumas tentativas de implantação de um chamado comunismo/socialismo foram realizadas, como a União Soviética, Cuba e China; tais experiências, entretanto, se mostraram falhas por diversos motivos.
Uma contradição encontrada hoje é o fato muitos trabalhadores que vivem em países capitalistas como Estados Unidos e Brasil possuírem condições relativamente boas de trabalho e uma variedade de direitos como férias, aposentadoria e décimo terceiro graças às ideias defendidas por Engels; enquanto países que se dizem comunistas como a própria China mantém trabalhadores em condições bem próximas àquelas da época em que Friedrich Engels vivia.
Mesmo que a previsão de Engels sobre como a chegada do socialismo era inevitável não tenha se realizado, suas ideias trouxeram, mesmo que lenta e gradativamente, importantes mudanças nas então péssimas condições de vida dos trabalhadores não só da Alemanha ou Inglaterra, mas do mundo todo.
O porque de produtos chineses serem tão baratos.
Reportagem exibida no Jornal da Globo sobre a Apple e as condições de trabalhadores chineses em fábricas que participam da produção de seus luxuosos (e caros) produtos.
"Antitetizando" o Mundo
Fredrich Engels defendia a ideia de que a história percorria
o caminho da dialética, em que se cria uma tese, a partir disso surge uma
antítese, e tem como resultado uma síntese, sendo que essa síntese se torna uma
tese, e dessa forma a sociedade evolui. Baseando-se nessa teoria, os problemas
mundiais estariam encaixados de melhor forma em que posição?
Teses
não faltam ao mundo, ideias são consideradas mercadorias na contemporaneidade,
o que estimula a criatividade humana. As sínteses são incontroláveis, elas
seriam o resultado prático da junção entre cada uma das infinitas teses com uma
respectiva antítese, sendo que a mesma tese com a mesma antítese pode ter
infinitas sínteses. Por outro lado, as antíteses são uma resposta, uma reação à
tese, logo este é o fator que realmente podemos ter certo tipo de análise e
controle.
É
fato que, sendo a reação do homem às teses algo mais refletido e vivido, a antítese
talvez seja o ponto em que o mundo pode chegar perto de ter certo controle
sobre si mesmo, e falha. As opiniões surgem mais uma vez como algo essencial
para uma evolução satisfatória do ser humano, já que trazem consigo ações,
porém a mídia, mesma com toda globalização presente, tem o poder de manipular
essas opiniões, criando antíteses ruins e resultando em sínteses piores.
Logo,
os problemas mundiais encontram-se em grande parte na formação da antítese, da
opinião, na resposta a todo esse bombardeamento de teses na atualidade.
Murilo Thomas Aires
Materialismo jurídico dialético
Ao pensarmos no
socialismo, logo vem em nossas mentes propostas políticas utópicas ou um modo
de produção ultrapassado. Afinal a queda do Muro de Berlim em 1989 não
representou o seu fim? Ou o desmantelamento da URSS, em 1991, não representou
de modo definitivo a consolidação do capitalismo?
Engels, em sua obra
“Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico”, foi muito além de uma mera
ideologia política, compreendeu que o socialismo é indissociável do
capitalismo, necessitando absorver os avanços desse para superá-lo e aprimorá-lo.
Juntamente com Marx, desenvolvem o materialismo dialético, que não se limita a
um mero conceito, mas concebe a sociedade como algo em constante movimento, no
qual cada elemento que a constitui interage com seu oposto, transformando-se e
resultando em progressivas contradições. Há sempre uma tese, elemento de
dominação, que reluta com a sua antítese (resistência), resultando em uma
síntese, tornando-se essa posteriormente uma tese que será refutada e assim
sucessivamente. Um exemplo prático em nossa historia é o próprio capitalismo,
manifestado como tese, tendo como antítese um combate à sua liberdade de
mercado, soergue-se então em 1917, como síntese, a Revolução Russa.
De acordo com
Engels e Marx, o materialismo possui a missão de desvendar as leis do
desenvolvimento histórico. Os autores incessantemente buscam onde estaria a
dialética na compreensão da história, e chegam à conclusão que a luta de
classes é o motor desta, pois desde a Antiguidade havia a oposição entre
proprietários e escravos; no feudalismo, senhores feudais e servos; e na época
em que viviam, o intenso embate entre capitalistas e proletários.
Se Marx ainda
estivesse vivo, ao deparar-se com a realidade jurídica brasileira nas últimas
décadas, se surpreenderia, pois o direito passou a ser o instrumento central da
dialética. Partindo-se da premissa que todo direito adquirido faz com que
surjam grupos que almejem a anulidade desse ou que ajam de modo semelhante,
percebemos que esse é o elemento impulsionador da dialética atualmente. Essa
transformação é facilmente percebida pela proteção que os órgãos jurídicos
estão oferecendo aos menos favorecidos e segregados socialmente. Um exemplo
recente foi a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal da política de cotas
raciais nas universidades, no qual a tese é o critério de meritocracia, a
antítese é a universalização do acesso,e a síntese essa lei. Essa análise não
refuta a teoria marxista, apenas a complementa, pois como conceber o direito
como um elemento da dialética nas sociedades teocráticas?
É de suma
importância que as normas jurídicas possuam essa maleabilidade advinda com a
dialética, pois assim estão em constante transformação, suprindo as anomias que
possam surgir. Logo, a marginalização dos preceitos estabelecidos por Marx e
Engels resume-se a uma grande ingenuidade, pois manifestam-se diariamente nos
tribunais e fóruns como um materialismo jurídico dialético.