Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Pragmatizar a prevenção
Diante disso, penso no fato que mais destacou-se midiaticamente essa semana no país, o assassinato brutal das 12 crianças que estudavam na escola primária municipal do Rio de Janeiro Tasso da Silveira, ato promovido por Wellington Menezes de Oliveira que reconhecidamente sofria problemas psicológicos. Após o ocorrido, resta a questão, o fatídico evento poderia ter sido evitado? Muitos especialistas opnam defendendo o treinamento de professores afim de capacitá-los para reagir em situações de violência ou propragam a implementação de medidas de segurança como a presença de identificador de metais nas entradas e saídas das escolas; creio, no entanto, que certamente a medida que deve ser efetivada requer muito mais trabalho com o material humano da instituição envolvendo, por exemplo, psicólogos e educadores e deve visar dirimir casos de bulling, de difícil integração e convívio entre alunos e professores, e é na prevenção defendida pela personagem do filme que se estrutura tal opnião.
São inúmeros os casos de desequilíbrio, como o desrespeito ao professor, a existência de situações de violência física entre doscentes e discentes, de ameaças entre os diversos grupos, de alunos que possuem dificuldade de integrar-se e, além disso, o fato que estarreceu o país na última semana não foi o primeiro, outro semelhante já havia ocorrido em 2002 com um menor número de vítimas. Tais problemáticas brasileiras precisam de ações preventivas. Crianças e adolescentes deveriam ser acompanhados por psicológos que através de atividades de integração aproximariam os alunos, a diferença precisa ser reconhecida e nela o respeito que permite a aproximação, o valor do educador deve ser propragado...
Infelizmente, a ausência de muitos pais em função das imposições do mundo contemporâneo fez nascer uma geração que não adquire em casa valores fundamentais nas relações interpessoais, é necessário, então, que as intituições se reestruturem para suprir tal carência. Se Wellington tivesse naquela escola uma experiência que fosse diferente enquanto ainda era aluno certamente o país não teria entristecido-se dia 7.
Conexões como base da existência
O filme “Ponto de mutação” baseia-se no livro de Fritjof Capra. Um encontro inusitado entre um poeta, um ex-candidato a presidência dos Estados Unidos e uma cientista decepcionada com o mau uso que fizeram de suas descobertas culmina em uma discussão sobre os mecanismos que regem o mundo.
Ao abordarem a evolução da forma de pensar humana analisam o método cartesiano onde o todo é dividido em partes para que seja possível analisá-lo e entendê-lo. O desenrolar o tema leva-os a análise das políticas demagógicas e ineficientes que apresentam-se como regra nos governos da atualidade.
Da grande crítica às ações mecanicistas que tomam conta dos políticos de maneira geral surge uma nova proposta de como governar. O método proposto visa a prevenção em detrimento da reparação. Os resultados viriam a longo prazo mas a intervenção feita nas causas do problema e não em suas consequências tem, sem dúvida, maior eficácia.
O raciocínio ecológico tão priorizado nos dias de hoje também manifesta-se ao longo do filme. As relações humanas com seus semelhantes e com os elementos da natureza são fundamentais e inevitáveis. "Nenhum homem é uma ilha". As conexões são a base da existência. Somos todos parte da teia de relações que coordenam a vida dos homens.
Essa interdependência obriga os seres humanos a pensar coletivamente. A preservação e o uso inteligente dos recursos naturais torna-se imprescindível para que haja qualidade de vida em um futuro que aproxima-se em alta velocidade. O desenvolvimento sustentável faz-se necessário para prevenir o surgimento de grandes feridas que, se abertas, talvez não seja possível remediar.
É chegada a hora de entender a "natureza da árvore"
A essência da evolução humana
"Ver o mundo como máquina pode ter sido útil por trezentos anos... mas esta percepção, hoje, além de errada, é na verdade nociva."
Teia de relações
Capra e a crítica aos mecanicistas.
No filme "Ponto de Mutação", adaptação feita do livro de mesmo nome do austríaco Fritjof Capra, há o dialogo de três pessoas de diferentes classes sociais e ideologias. A discussão central gira em torno do legado cartesiano e dos malefícios ou benefícios que tal abordagem traz para a sociedade atual.
Capra defende ao “convencer” o seu personagem político e mecanicista, reducionista, cartesiano, de que muitas vezes- principalmente no contexto social- as demandas devem ser observadas de forma sistêmica. Os objetos devem ser tratados como seres indissociáveis e somente assim os problemas sociais seriam resolvidos.
Gaia
Pluralismo de ideias
O filme ‘’Ponto de Mutação’’ consiste num interessante diálogo travado entre três pessoas que, insatisfeitas com os rumos tomados pelo mundo e pelos seres humanos, utilizam uma isolada ilha francesa como válvula de escape. Um político, uma cientista e um poeta apresentam suas diferentes formas de observar o mundo e as suas leis, de modo que embasam grande parte dos seus raciocínios na filosofia e na ciência.
O político, com um pensamento cartesiano, fragmenta seus ideais em várias partes, para estudando e entendendo cada uma, procurar conhecer o todo. Assim, consegue prever e controlar possíveis abalos em seu governo.
A cientista, possui uma forte base do pensamento baconiano, de modo que atribui grande importância aos métodos científicos. No entanto, após frustrações com a ciência, demonstra um grande amadurecimento em conhecimentos intuitivos, racionais, de modo que é a principal articuladora das discussões do filme.
O poeta, por sua vez, possui uma postura mais neutra, de modo que concorda ora com o político, ora com a cientista, uma vez que possui uma visão diferente do mundo. Tudo é poesia: a paisagem, os sons, as pessoas. Assim, suas opiniões acerca dos diálogos são sempre embasadas em versos de antigos poetas.
Com isso, os diferentes pontos de vista se confrontam, principalmente, quando o assunto é a sustentabilidade do planeta. Para a cientista, o mundo não pode ser visto de forma cartesiana, ou seja, deve ser visto como um todo através das relações existentes entre cada ser e objeto que compõem a natureza. Os problemas globais não podem ser resolvidos pensando neles de forma separada. Tudo está interligado e deve ser considerado como um todo.
Toda essa discussão, em suma, demonstra a importância e a necessidade do diálogo, mesmo entre pessoas com pontos de vista extremamente diferentes, principalmente diante de assuntos tão atuais como o desenvolvimento sustentável. Seja pelo método cartesiano, seja pelo método baconiano, essas diferentes formas de pensar não se negam, mas se completam, sendo imprescindíveis para a manutenção do bem estar do mundo.
Necessária mutabilidade
Mutação com responsabilidade
O filme “Ponto de mutação” traz uma abordagem alternativa a respeito da ciência ao considerar mecanicista o modelo cartesiano até então utilizado. Através da Holística, a proposta é de observação dos processos em vez das estruturas, além de considerar uma conexão única entre todos os fenômenos.
Evidentemente, é louvável a busca por novos pensamentos com vistas ao desenvolver de toda a sociedade. Entretanto, o plano meramente metafísico não proporciona rigor, mas apenas uma interminável divagação por desconsiderar qualquer conhecimento empírico.
Dessa forma, a simples apresentação do ideário constitui um quadro poético em detrimento da busca pela verdade, isto é, valoriza uma realidade mais contemplativa do que fática.
A despeito de sua natureza hipotética, essa reflexão nos permite adentrar às inúmeras possibilidades do saber humano e não deve ser mitigada mesmo pertencendo a um mundo basicamente teórico.
Sistemas interligados
O mundo atual contradizendo Descartes e Bacon
Acerca dos ideais de Descartes, seu método de fragmentar tudo e tanto quanto possível é o mais criticado. O contra-argumento é o de que na verdade, na natureza nada pode ser fragmentado, porque tudo está interligado. A matéria, a energia: tudo está interligado e só por isso há forma.
Tal critica permite uma análise do tema no contexto social. Não é difícil atestar que todas as microrrelações sociais estão interligadas. Para um processo produtivo e consumidor no mundo capitalista, para que as relações sociais atinjam proporções nacionais e até globais é necessário que todos os homens estejam relacionados de alguma forma. Com certeza todos precisam de todos e algo que acontece com um atinge toda a cadeia de alguma forma, mesmo que em pequenas proporções.
Já no que tange aos ideais de Bacon, uma crítica interessante para o contexto atual é a que é feita encima da idéia de que o homem precisa dominar a natureza e se utilizar dela(o tanto quanto necessário) para obter conforto.
O homem claramente sempre necessitou usufruir dos bens naturais para sobreviver e com os números populacionais atuais precisa muito mais. Mas pegando carona na Campanha da Fraternidade amplamente difundida pela Igreja Católica esse ano: "A criação geme em dores de parto." O meio ambiente não suporta mais as condições que lhe estão sendo impostas. O ser humano já tem exagerado, e muito, na degradação de seu maior bem e a natureza claramente implora por trégua. O Japão que o diga...
Portanto, fica evidente que os antigos métodos devem ser repensados na atualidade e não deixando de citar positivamente a genialidade de Descartes e Bacon, o filme e o autor deste post convidam os leitores e espectadores a pensarem além dos métodos, de forma a observar as falhas e adaptar grandes pensamentos aos dias atuais.
Descartes rumo ao passado
Mutações da visão
A parte ou o todo?
Nossa sociedade tem dado demonstrações de que a maneira como agimos e a analisamos possui falhas. Tragédias e problemas que só parecem aumentar corroboram esta afirmação.
Muitos políticos prometem a resolução de determinadas dificuldades específicas e isoladas e, quando as cumprem, mesmo solucionando o problema designado, ignoram a amplitude da situação, fazendo com que novos problemas surjam.
Caso algum político estivesse realmente determinado a proporcionar uma melhoria significativa, este deveria se lançar à tarefa de resolver os problemas encarando-os como interdependentes, como um sistema e não como órgãos separados, para evitar que, com a solução de um, surja outro novo.
Velhos confrontos, novos caminhos.
Da explicação sistemática à volta da contemplação
"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito." – William Blake.
O filme Ponto de Mutação pode, a nós, cartesianos, parecer maluco, progressista demais, mas não, as idéias trazidas por ele fazem parte do rol de idéias mais antigo que já existiu. Idéias, se é que se pode chamar essa atividade de idéia, que nos foram há muito apresentadas sob uma roupagem diferente: a roupagem de uma sabedoria mais “contemplativa” e menos explicativa.
Parte-se da física quântica para colocar-nos em dúvida acerca de vários aspectos decisivos. O micro (átomo) é desvendado e com isso a diferenciação de matéria, pensamento e probabilidade torna-se impossível; como pode um elétron estar, potencialmente, em vários lugares ao mesmo tempo?
Todo o macro, então, pede por uma nova análise. Essa análise não pode, no entanto, ser a análise científica comum. É preciso levar em consideração o todo, as relações e não mais as partes separadamente. “Baba Nam Kevalam”, o mantra dado por Shrii Shrii Anandamurti, fundador e líder espiritual da instituição Ananda Marga, é inspirado em conhecimentos orientais antiquíssimos e sem se utilizar de física quântica moderna, ou qualquer parafernália intelectual cartesiana, traduz o seguinte pensamento: tudo é expressão de um mesmo ser divino, que está em tudo, em todos; tudo é amor, tudo está interligado; somos todos frequências diferentes de uma mesma onda. Por piegas que possa parecer, faz sentido como a física vem descobrindo.
A matéria, posta em xeque, assume caráter de possibilidade, de pensamento, de subjetivismo. O documentário “What the Bleep do We Know!?: Down the Rabbit Hole” traz experimentos interessantes, como o poder de elementos subjetivos sobre elementos objetivos (a capacidade de pensamentos e sentimentos mudarem a estrutura molecular da água, por exemplo). São ensaios, que buscam aproximar ciência e espiritualidade e mostrar o poder do pensamento, sentimento e fé.
O conhecimento objetivo, às suas últimas consequências, se aproxima da sabedoria contemplativa, aquela que não é explicada e sim sentida. Algo que ilustra tudo isso de forma hollywoodiana é o filme Avatar, no qual, em um outro planeta, todos os indivíduos (Na’vi) estão espiritualmente (e até fisicamente) conectados com Eywa, sua divindade, e consequentemente conectados entre si e com a natureza.
A idéia dessa rede de interligação e a idéia de que Deus está em todas as coisas e não fora delas, deixando um pouco de lado o vício de explicação e comprovação ou não comprovação sistemática, são bastante válidas; O mundo atual precisa acreditar nisso, o social seria favorecido já que o famoso bem comum finalmente apareceria de fato a partir do instante em que bem individual e bem de todos (e por todos entende-se todos os seres animados, e até os inanimados) se tornarem a mesma coisa.
Fragmentos de um todo
A busca do equilíbrio
Nesta ânsia, não poupam o custo do sacrifício da vida, da existência, aplicada a uma parcela da humanidade presa pelas quatro paredes dos modelos econômicos mecanicistas, que independente do custo social, só pensam na validação econômica de suas teorias e negociações. Os sistemas existentes não encorajam a prevenção, só a intervenção, que não consideram que só se constrói um modelo de sucesso no presente, se estimularmos o futuro. Chega-se a dedução de que precisamos adotar o modelo de intervenção colocado como feminino, nutriente, construtor, ao contraposto do modelo masculino basicamente dominador.
Para o desenvolvimento de uma condição de perpetuidade e oportunidades para o futuro, dentro deste conceito de nutriente, devemos aplicar um raciocínio ecológico, em contraponto ao pensamento cartesiano clássico, pensando em um mundo de recursos exauríveis, orgânicos e espirituais, sejam da natureza ou da capacidade de absorver as injustiças sociais. Para poder entender e aplicar este pensamento, se faz crucial ativar a percepção, sendo que se somente as bordas da percepção aparecessem, tudo se desvendaria como realmente é.Nesta forma sistêmica de pensar, identificamos os pilares como sendo as conexões, tudo se interconecta, formando mesmo com seus vazios e sem condições de definições exatas, a solidez da matéria, do pensamento e da estrutura do universo tangível. O que não vemos, o que não entendemos, necessariamente não pode ser abominado, relegado , sob pena de nossa cegueira estar baseada somente na miopia da falta de abertura para o novo.
Somos todos uma parte da teia imensurável e inseparável da relações, é nossa responsabilidade perceber as possibilidades do amanhã, pois antes de tudo somos os únicos responsáveis por nossas descobertas, nossas palavras, nossas ações, e os reflexos das mesmas no universo em que estamos inseridos.Um obstáculo para a expansão este pensamento é a clara e objetiva descoberta da interdependência, do fato de que mesmo sem o controle por parte de nossas ações, que nosso planeta flui em um processo vivo, se adaptando, transcendendo, progredindo, transgredindo padrões, evoluindo.
O pensamento voltado aos processos e não as estruturas, nos dá a ferramenta essencial para poder entender o princípio, os porquês e o caminho possível para esta evolução, conseguindo assim delinear a tênue e interlaçada margem entre o pensamento clássico cartesiano e o sistêmico totalmente integrativo, plotando o objetivo mestre das sociedades modernas, das mentes que buscam a perpetuidade no futuro: o desenvolvimento sustentável, a busca do equilíbrio.Luís Felipe Hetem