Hodiernamente, com o avanço da tecnologia e a popularização das redes sociais, a forma como os indivíduos se relacionam, pensam e se comportam passou por profundas transformações. O que antes era papel exclusivo de instituições sociais tradicionais, como a família, a escola e a religião, agora também é exercido por plataformas digitais que moldam comportamentos e exercem controle sobre os indivíduos. Diante disso, é possível analisar o papel das redes sociais à luz da teoria de Émile Durkheim, compreendendo como elas funcionam como novas instituições sociais no mundo contemporâneo.
Em consonância, segundo Durkheim, os fatos sociais são maneiras coletivas de agir, pensar e sentir que exercem coerção sobre o indivíduo. Além disso, são exteriores à vontade pessoal, mas, ainda assim, influenciam fortemente nossas ações. As redes sociais, nesse contexto, se encaixam perfeitamente como fatos sociais, pois já estão presentes na vida social antes mesmo do nascimento de qualquer indivíduo e impõem regras não escritas sobre o que é aceito ou não. A cultura do cancelamento, por exemplo, mostra como essas plataformas exercem um controle moral que, muitas vezes, parece mais eficaz do que a punição formal do Estado.
Mediante isso, no livro de George Orwell, 1984, o autor apresenta uma sociedade distópica vigiada pelo “Grande Irmão”, em que qualquer desvio de comportamento pode levar à punição. Embora o cenário da obra seja fictício, ele oferece um paralelo com as redes sociais de hoje: nelas, cada postagem, opinião ou atitude é constantemente observada, julgada e, muitas vezes, punida pela própria coletividade. Assim como no livro, vivemos sob uma espécie de vigilância coletiva, em que a liberdade de expressão pode ser restringida por uma busca constante por aceitação e aprovação.
Dessa forma, é inegável que as redes sociais passaram a exercer uma função muito próxima à das instituições sociais analisadas por Durkheim, sendo responsáveis por criar uma nova consciência coletiva, definir normas sociais e exercer controle sobre os indivíduos. Embora esse fenômeno tenha aspectos positivos, como a democratização da informação, também exige reflexão crítica, principalmente para que não percamos a autonomia diante de padrões impostos por algoritmos e validações externas.
Portanto, compreender as redes sociais como uma espécie de nova instituição social é essencial para que possamos pensar em como lidar com seus efeitos, tanto como estudantes de Direito, preocupados com as transformações sociais, quanto como cidadãos que participam ativamente dessa nova realidade digital. Assim como Durkheim via as instituições como fundamentais para a coesão social, hoje precisamos repensar essa coesão diante de um mundo cada vez mais conectado — e, também, cada vez mais controlado.
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