quinta-feira, 14 de março de 2024

O Questionamento do Branco sobre a Ascensão Social do Negro

 

           A digital influencer Raquel Nazareth posta, em suas redes sociais, seu cotidiano. Compras, maquiagens, rotina de cuidados com a pele e passeios no Villlage Mall, seu lugar preferido. Entretanto, Raquel recebeu notória atenção dos expectores devido a outro motivo; como ela se tornou rica? Convenhamos que esse questionamento foge do conteúdo que a digital influencer publica, além de tal pergunta não ser feita as demais influencers da mesma rede social que Raquel. A única diferença entre Raquel, que vive sendo questionada sobre suas condições financeiras, das demais blogueiras é: Raquel Nazareth é uma mulher negra. Nessa perspectiva, e de acordo com a escritora Grada Kilomba, persiste, na sociedade contemporânea, o questionamento do branco sobre a ascensão social dos negros, evidenciado pelo pensamento de incapacidade que eles têm em relação as pessoas negras e pela negação da alteridade.

Diante desse cenário, se torna válido ressaltar o equivocado pensamento de que pessoas negras são incapazes intelectualmente. Por exemplo, em sua vida acadêmica, a escritora revela que foi barrada de frequentar a biblioteca de sua universidade pois, diferentemente dos outros estudantes brancos, Grada não parecia pertencer àquele lugar. Além disso, os trabalhos acadêmicos dela sobre o racismo cotidiano eram vistos como algo subjetivo, pessoal, imparcial, mas nunca científico. Grada Kilomba até mesmo cita que “elas/eles têm fatos/nós, opiniões”. Logo, a capacidade intelectual da escritora esteve sempre em observação e em julgamento, apenas por ela ser uma mulher negra.

Ademais, desde a colonização, perpetua a ideia de superioridade dos que estão no poder. Os demais grupos sociais, sem ser o do homem branco europeu, eram considerados “menos humanos”, somente por causa de serem diferentes. Nesse sentido, ao terem sua alteridade negada, esses grupos foram colocados em uma posição vulnerável e expostos a todo tipo de violência. Infelizmente, é percebível que, atualmente, essa falsa superioridade de determinado grupo social continua existindo, demonstrando que o poder está concentrado nas mãos deles. Para salientar esse argumento e comprová-lo, retomamos o que foi dito anteriormente, uma vez que, por não fazer parte do grupo social que acumula a maior parte do poder da sociedade, uma mulher negra rica é um acontecimento atípico para essa sociedade, recebendo questionamentos sobre a origem de seu dinheiro.

Conclui-se, portanto, que, assim como a mesma classe social persiste sendo a representação do poder na sociedade, a ideia de superioridade perpetua até os dias atuais, fazendo com que as capacidades e a ascensão social de grupos minoritários sejam encaradas como incomuns. Dessa forma, esse preconceito infundado, passado de geração para geração, é exposto no comportamento diário dos indivíduos na sociedade, permitindo que essa violência ainda aconteça.


Maria Clara da Silva Cruz, 1º ano Direito Matutino

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