domingo, 7 de maio de 2023

O capitalismo como estilo de vida

As redes sociais e os avanços tecnológicos têm causado o surgimento de diversos ramos de mercado nos últimos anos. No entanto, um deles pode ser destacado: os coachs, pessoas que vendem a promessa de sucesso econômico partindo de uma ideologia neoliberal, muito presente no cotidiano. Ao olhar para esses conteúdos, é notável a repetição de certos ideais de meritocracia, de que se o indivíduo trabalhar o “suficiente” ele pode alcançar uma condição financeira muito melhor; estamos falando da clássica frase “trabalhe enquanto os outros dormem”.


Quando se analisa tais didáticas, a lógica capitalista se mostra presente. É exposta uma urgência de ser sempre produtivo, pois esta é a única forma de ascender socialmente. Tal concepção ignora totalmente a realidade da maioria da população brasileira, que é quem mais consome esse tipo de conteúdo. Afinal, como uma pessoa que acorda às 5 da manhã para ir trabalhar e só volta para casa após as 10 da noite vai poder “trabalhar enquanto os outros dormem”? Essa valorização da produção sobre outras necessidades humanas é uma espécie de alienação do proletariado, que se vê impelido a vender sua força de trabalho cada vez mais sob a promessa de uma melhor qualidade de vida. Desta forma, temos cada vez mais indivíduos sobrecarregados e doentes ao tentarem alcançar uma fórmula impossível para o sucesso.


Ademais, tal ideologia também afeta as relações interpessoais, uma vez que um dos conceitos divulgados por ela é o do networking: mesmo as relações sociais devem ser pautadas em interesses econômicos pois, mais do que amizades sinceras, é importante ter contatos que o ajudem a ascender na hierarquia econômica. Richard Senett exemplifica isso ao falar da “força dos laços fracos”, com um exemplo de como as dinâmicas de trabalho afetam o relacionamento de um homem com seus filhos. Este não consegue passar valores como lealdade pois não os vivenciam em seu cotidiano. Isso se reflete na realidade de várias famílias, que não conseguem conciliar este ritmo acelerado e insano de trabalho com uma relação saudável em casa.


Partindo de uma análise materialista, como proposta por Marx e Engels em seu livro A ideologia alemã, é vital perceber a diferença entre o que é propagado como meritocracia e aquilo que é a realidade do proletariado brasileiro. A ascensão econômica está relacionada a muitas outras coisas para além do esforço de trabalho das pessoas: enxergar a realidade desta forma é uma ilusão, pois não se leva em conta as particularidades de tal classe. Mais do que isso, tal ideal é uma forma de dominação, pois leva os indivíduos a venderem cada vez mais em situações precárias a sua força de trabalho, na vã esperança de um dia alcançar este sucesso prometido.


Ana Paula de Souza


RA: 231221029


1º Direito matutino


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