domingo, 7 de maio de 2023

Compreensão da realidade social à luz do marxismo

 Viviane e Max, entregadores de aplicativo, foram humilhados em espaço público por Sandra, moradora de um bairro nobre. Viviane teve a sua perna mordida e Max teve as suas costas chicoteadas. Ambos ouviram falas como “Eu não sou da laia de vocês! Voltem para a favela”, além de outros xingamentos racistas e aporofóbicos. Tal ocorrido não ficou marcado apenas na pele, por meio das marcas de dente e das marcas de chicote, mas também por toda a história daqueles indivíduos, os quais já possuem um passado que estigmatiza os seus corpos.

Analisar esse caso pela perspectiva marxista é entender a participação do passado no acontecimento presente. Nesse sentido, o peso da escravidão e o peso da negação de uma plena reparação histórica ainda impactam o comportamento social. O Brasil foi o último país americano a abolir o escravagismo e os governos pós- abolição não se preocuparam em investir em políticas públicas efetivas de inclusão social e reparação por tamanho erro. Com efeito, a população negra ainda sofre intensamente com o racismo - mesmo que eles sejam feitos de maneira velada – e com a pobreza, como pode ser observado na matéria do IPEA que revela que pretos são a maioria nas favelas. Marx afirma que os homens fazem a sua própria história, logo, possuem livre-arbítrio, mas eles não a fazem como desejam. Existem limitações que delimitam a história dos indivíduos que são legadas e transmitidas pelo passado. Portanto, percebe-se que a desigualdade racial e social, herdadas do passado brasileiro, são embates travados por minorias e que impedem uma vivência plena, com equivalência de oportunidades com as demais classes. Por isso, casos como o de Viviane e Max ainda são noticiados.

O entendimento histórico de tal dinâmica social contraria o ideal meritocrático pregado pelo mundo coorporativo e pela classe dominante. Para esses agentes sociais, o sucesso do indivíduo depende do esforço que ele empreende para conquistar os seus sonhos. Não há uma análise sociológica e histórica que compreende as mazelas sociais e catracas invisíveis que impedem que o esforço seja mero instrumento para ascender socialmente. Esse ideal mascara a bruta realidade em que, apesar de muito suor e trabalho, ainda existam filas em açougues para que famílias que lutam contra a fome consigam doação de ossos. Essa discrepância de olhar social demonstra o que Marx defende acerca da consciência: para ele, não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência. Tal determinação é, muitas vezes, feita por meio da base material. Por isso, há diferentes formas de se enxergar uma dinâmica social: para o mais abastado, que possui oportunidades e uma série de privilégios, o esforço pode ser sinônimo de sucesso. Infelizmente, para a classe social mais baixa, tal correlação nem sempre é verdadeira.

Conclui-se, pois, que analisar a sociedade a partir de uma concepção materialista da história é compreender o papel do passado nas dinâmicas contemporâneas e perceber como a base material influencia consciências engendradas no tecido social. Por tais motivos, os estudos marxistas estão à luz dos problemas sociais vigentes e se fazem tão importantes para o entendimento deles.

 Aluno: 231224702 - Giulia Lopes Batista Pinto | Direito - Matutino

 

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