segunda-feira, 8 de maio de 2023

As relações sociais e as relações de produção no capitalismo

    A teoria marxista traz como metodologia as condições materiais como ponto de partida para a análise filosófica em contraposição às filosofias idealistas. Isso, porque são essas condições que definem a vida em sociedade e os demais aspectos do cotidiano e da divisão de classes.

    Considerando tal aspecto dessa teoria, pode-se inferir que as relações sociais da população recebem interferência direta das relações de produção as quais um indivíduo pode ser submetido. Dessa forma, Marx e Engels afirmam que o homem possui pouca ou nenhuma autonomia no que tange às suas relações dentro do modo de produção capitalista.

    A partir dessas observações, vale fazer um paralelo da teoria apresentada com a sociedade contemporânea em aspectos variados, partindo do pressuposto de que qualquer atividade da vida cotidiana pode ser considerada social e que tais relações sociais do homem são fruto de suas relações de produção.

    Algumas das principais dinâmicas contemporâneas de trabalho são através de aplicativos, como Uber, Ifood, Rapi, entre outros. Nesses aplicativos, o trabalhador é considerado autônomo e/ou empreendedor, de modo que o aplicativo oferece apenas a plataforma, não sendo considerado um contratante da força de trabalho daquele indivíduo. Por essa razão, não há direitos trabalhistas garantidos, nenhum tipo de segurança física ou financeira. Isso significa que se um homem é o provedor de sua família e sofre um acidente de trabalho, não receberá nenhum tipo de apoio financeiro para manutenção de suas condições materiais nesse período de afastamento obrigatório.

    A popularização dessa forma de trabalho se dá por 1) a facilidade de adentrar esse mercado, 2) a demanda, porém também 3) ideologias capitalistas e neoliberais espalhadas pela sociedade cada vez mais rápido. Essas ideologias partem de princípios meritocráticos, os quais afirmam que o esforço do trabalhador é o que define seu sucesso, sua renda e sua qualidade de vida. Ao contrário, a partir de uma análise marxista, é possível dizer que o indivíduo não possui autonomia para definir nenhum desses fatores, considerando que este precisa participar dessas relações de troca para garantir as condições materiais de sua própria sobrevivência e de seu núcleo familiar também.

    Ademais, outra dinâmica contemporânea de trabalho que pode ser analisada a partir de tal visão é o home office. Este se popularizou, principalmente, no período da pandemia, devido às políticas de distanciamento, lockdown, entre outras, o que já demonstra a necessidade da continuidade da produção independente das circunstâncias que circundam o mundo afora.

    O home office possui problemáticas, principalmente, no que diz respeito ao trabalho sob demanda e a separação de casa e trabalho. O primeiro se dá devido a não definição de carga horária, que é o que ocorre em empregos regime CLT, e sim na definição de uma taxa de produtividade necessária para um determinado período, o que aumenta naturalmente a quantidade de trabalho a ser feito.

    Desse modo, casa e trabalho se misturam e, consequentemente, as relações sociais se confundem nesses ambientes, pois a produtividade deve ser tamanha que as horas de trabalho se misturam com a pausa para alimentação, pausa para lazer, pois todos esses ocorrem num mesmo ambiente.

    Por fim, além das ideologias neoliberais que se transmitem com facilidade na sociedade através das redes sociais, a religião também é uma fonte de conteúdo capitalista, ao afirmar que “o trabalho dignifica” e que “Deus ajuda quem cedo madruga” faz-se com que a população acredite em tais ideias, da mesma forma como se apega a religião como fuga às problemáticas das condições materiais cotidianas e das relações de trabalho precárias.

    Marx e Engels já realizavam essa análise da religião em suas obras tratando dessa como “a expressão da condição material”, a religião como sendo o ópio do povo, de modo que esta supre as faltas que a vida real possui, gerando um apego por parte da população.

    Portanto, em conclusão, as relações sociais contemporâneas estão permeadas pelas relações de trabalho, pelas condições materiais de existência, pelas relações de troca e, em resumo, pelo capitalismo e suas ideologias. Assim, é possível realizar um paralelo a teoria marxista, que se faz extremamente atual, tendo em vista os exemplos apresentados de como ela se configura na prática através de meios atuais.

 

Isadora Mendonça Brasil – 1º ano – Direito noturno

RA: 231220715


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