Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
domingo, 3 de julho de 2022
O sangue dos que não se calaram
TIPO IDEAL
TIPO IDEAL
Max Weber, a respeito de seu conceito sobre fato social discorre que o fato social de um individuo compreende-se pela sua interação com a realidade, assim o individuo é o foco do estudo de Weber.
Essas chamadas ações sociais são influenciadas majoritariamente pela cultura, diferente de Marx que acreditava que a maior influencia partia do fator econômico da pessoa. Consoante Max, o local no qual a pessoa esta inserido cria possíveis característica que se esperam daqueles desse tal local, isso ele denomina como tipo ideal (simplificação e generalização da realidade.), é válido pontuar que não é o que a pessoa é, mas que ela poderia ser. Por exemplo, se colocássemos em uma situação hipotética que há duas pessoas, uma mora em um condomínio de alto padrão e a outra mora em uma periferia e pontuássemos que uma escuta MPB e a outra escuta Funk, a conclusão precipitada que se obteria é que o morador do condomínio escuta MPB e o morador da preferiria escuta Funk. Isso não significa que todos que moram na periferia realmente escutam funk e vice e versa, contudo devido ao local e a cultura que essas pessoas estão inseridas, pressupõe-se determinados gostos e ações.
Analisando-se fatos particulares é notado fatores em comum de certas pessoas em certos lugares, todavia, apesar de muitas vezes essas afirmativas serem compatíveis com a realidade é necessário atenção pois pode-se criar falsas noções e julgamentos baseados em generalizações muitas vezes preconceituosas.
A constante anomia na sociedade contemporânea - Durkheim
O sociólogo francês Émile Durkheim, considerado o pai da sociologia, possui, por meio de sua teoria funcionalista, o objetivo de explicar a sociedade, com suas ações coletivas e individuais. Para ele, a sociedade molda o indivíduo e exerce sobre ele uma coerção social no modo de agir e se comportar, visando a continuidade do funcionamento da sociedade como um organismo vivo e complexo, no qual todas as partes, ou seja, todos os indivíduos, devem cumprir seus papéis e funções para o pleno funcionamento do todo.
Caso haja interrupção dessas ´´regras``, que regem os indivíduos, um estado de anomia será criado na sociedade e ela perderá sua plenitude de funcionamento. Nas sociedades atuais, há uma mudança nos modos de produção (estabelecendo uma nova divisão social e uma intensa urbanização), o que complexifica seu funcionamento, transformando sua moral e suas tradições. Desse modo, a sociedade enfraquece suas estruturas que orientam as ações dos indivíduos e, tal ausência de ´´regras`` e controle social cria um estado anômico, no qual os indivíduos passam a ser individualistas e seguir seus próprios interesses, deixando, em segundo plano, os interesses coletivos.
Tal anomia se encontra presente na contemporaneidade com o excesso de informações e complexidade da vida moderna. Nesse contexto capitalista, acelerado e urbanizado, os interesses individuais superam, e muito, os coletivos, assim, ações como corrupção, crimes políticos e destruição do meio ambiente tornam-se, cada vez mais, constantes e absurdos.
Segundo a análise sociológica weberiana, o sociólogo deveria interpretar e compreender as ações sociais dos indivíduos. Estas, movem a conduta de vida, e possuem sempre um sentido que contribui para uma finalidade. Além disso, Weber destacava que as ações sociais são formadas a partir de valores, os quais divergem conforme os contextos nos quais os indivíduos estão inseridos.
Ademais, diferentemente de Marx, Weber acreditava que a cultura- síntese de todos os valores do indivíduo- possui tanto ou mais influência no modo de agir do que a economia e o sistema de produção. Desse modo, ao analisarmos os casos de letalidade policial no Brasil, percebe-se a interferência dos valores nas ações dos agentes de segurança pública, os quais, majoritariamente, utilizam-se dos tipos ideais que consideram verdadeiros para basearem suas atividades.
Nessa perspectiva, ao determinar para si, que homens, negros, jovens de classe baixa e moradores da periferia têm maior probabilidade de cometer crimes, os policiais, influenciados pelos próprios valores, agem de modo agressivo e violento contra esse tipo ideal estabelecido- razão pela qual, a maioria das vítimas decorrentes de intervenções policiais são pessoas cujas características se enquadram nessas.
Diante disso, constata-se, atualmente, que por meio da análise de Weber, podemos compreender a manutenção de diversas ações na sociedade, as quais são fundadas e moldadas por valores e pelo contexto em que os indivíduos estão inseridos.
Constrói e se Refaz com Base no Social
De maneira a contrariar a
tradição dos primeiros sociólogos que, até então, focavam suas analises da
imagem de sociedade como um corpo em geral, Max Weber, jurista e economista alemão,
foca suas considerações acerca do indivíduo buscando analisa-lo de acordo com
todos os mecanismos sociais que o cercam. Nesse sentido, Weber faz uso do conceito
de “Tipo Ideal”, referente a como um ser pode ser visto de forma idealizada,
não correspondendo, de fato, a como ele se apresenta de maneira real,
corroborando a ideia de que os indivíduos não podem ser colocados em caixas que
os tipifiquem diretamente, uma vez que esses sempre conterão traços de outros “Tipos
Ideais”. Nesse interim, o individuo aqui se colocaria como produto final de
peças de blocos de montar, composto de inúmeros fatores, não só – mas também –
relacionados ao trabalho, como igreja, família, escola, região, cultura, sendo peças,
e mesmo com claras instruções – Tipo Ideal – rotuladas na caixa, podem-se
formar inúmeros outros produtos finais. Dessa forma, faz-se imperioso analisar
como o Tipo Ideal se difere do Real, assim como suas implicações no campo do
mercado laboral.
Nesse sentido, primeiramente, Weber discorre acerca do
Tipo Ideal e sua discordância no plano real. Dessa forma, segundo uma visão Weberiana,
o Tipo Ideal se coloca quando se imagina, por exemplo, características de um
determinado grupo, pautadas em traços como roupas, ideologia, religião, costumes,
entre outros, dessa maneira, idealiza-se certa pessoa por participar de
determinado grupo com essas características. No entanto, Weber traz a ideia de
que essas características postuladas aos grupos não se afirmam, com exatidão,
no plano real, isso se dá uma vez que os indivíduos, como seres diversos, preservam
em si “Blocos”, como em legos, que não
necessariamente se encaixam ao ideal pensado ao grupo na qual ele pertence,
dessa maneira, por exemplo, ao se imaginar um profissional das artes cênicas,
envolvidos com questões humanísticas, não se espera que este tenda a questões relacionadas
com pautas do campo político da Direita, contudo, materialidade este fato é
encontrado em Regina Duarte. Assim, observa-se que o Tipo Ideal de Weber se
encontra na ideia de que os “Blocos” idealizados na construção de determinado
grupo não se refazem com exatidão no indivíduo, uma vez que, dada sua formação compartilha
de várias características de acordo com os mecanismos sociais que o cerca.
Ainda, tendo visto a questão do Tipo Ideal, é preciso
contextualizado no campo do mercado de trabalho. Nesse panorama, tal perspectiva
é uma critica de Weber ao Ideal de Classe Trabalhadora postulada por Marx e Engels,
que colocavam a massa trabalhadora como grupo que detinha dos mesmos ideais, e
não como um corpo heterogêneo em propósitos e culturas. Nessa continuidade,
Weber coloca o Trabalho como uma, e não a única, característica que compõe um
dos “Blocos” de formação do ser, considerando que o individuo leva ao trabalho
demandas inerentes a sua cultura. Com efeito, observa-se que o Tipo Ideal Marxista,
de uma Classe unida em ideais pró socias, e o Tipo Ideal Burguês, de uma classe
mecanizada, não são correspondidos, em nenhuma das faces, de forma completa. Dessa
maneira, pode-se analisar a cultura e formação do indivíduo, colocada por Weber,
pode ser uma forma de resistência ao mundo Capitalista de Produção Idealizado
pelo lado Burguês, tal panorama pode ser reiterado por manchetes comuns ao Brasil
contemporâneo que retratam um cenário no qual o ser um “Ser Humano” com
necessidade, fome, doenças, pensamentos é coibido pelo ideal de maquinas mudas
e inexpressivas: “Trabalhador é morto no RS após tomar café fora do horário
determinado, A Sulcromo, de São Leopoldo, onde ocorreu o crime, tem histórico
más condições de trabalho, diz sindicato dos metalúrgicos, em nota de repúdio.
A nota exige que o crime seja apurado e punido” Redação CUT 07/2022;
ADOECIMENTOS
E MORTES NO MERCADO A depredação do trabalho no Brasil A despeito da gravidade
e da abrangência, a relação entre saúde e trabalho é um assunto normalmente
pouco destacado na cena política LE MONDE DIPLOMATIQUE, Acervo Online | Brasil
por Vitor Filgueiras 03/2018; VERGONHA E RAIVA NA FILA DA FOME Uma psicóloga
conta mudanças na rotina de atendimento em um centro de assistência social cuja
fila agora tem de engenheiros a artistas desempregados, Olga Jacobina, REVISTA
PIAUI, 05/2022; Prefeitura de Araraquara
é obrigada a explicar atestados negados Município negou atestados e descontou
salários de servidores que se afastaram por terem casos de covid-19 na família
Com informações da CBN A CIDADE ON/Araraquara – 06/2022; Falta
de segurança e desrespeito ao ser humano é rotina nas agências do Bradesco
CONTRAFAT CUT,05/2017; A precarização do trabalho e os “frilas fixos” Edição
863 por Phellipe Marcel da Silva Esteves, OBSERVATORIO DA IMPRENSA, 08/2015.
Os dados caos, referentes a condições de trabalho e questões culturais, revelam
a diversidade referente ao real dos Tipos Ideais, revelando como muitas vezes,
o próprio ser humano é rejeitado em casos trabalhistas no qual o ideal é ser máquina.
Depreende-se que, portanto, o Tipo Ideal de Weber monta o
indivíduo com caraterísticas estigmatizadas que, assim como blocos em jogos de
montar, revelam passo a passo para formação de determinado individuo de um
certo grupo social, no entanto a factibilidade deste Tipo Ideal não se faz materializável
uma vez que esses mesmos blocos se reorganizam, em razão de questões religiosas,
familiares, culturais, que formam o indivíduo de formas diferentes das previstas
no plano ideal. Destarte, para Weber o ser é colocado como objeto principal na
produção da Sociologia Compreensiva, sendo necessário olhar de maneira ampla
para o ser, e não se limitar a uma imagem produzida pela embalagem, contendo o
Tipo Ideal. Logo, o Indivíduo, para Weber, assim como lego, se constrói e se refaz
com base no social.
Retirado de : <https://education.lego.com/pt-br/> |
Weber e sua relação com o direito no Brasil
Weber, em sua obra, cria uma ruptura em relação ao conceito de sociologia presente em Émile Durkheim, pois enquanto Durkheim trabalhava a sociologia no mesmo patamar das ciências naturais, buscando uma total objetividade da mesma, Weber inaugurou o conceito de objetividade possível. Para o sociólogo, seria impossível separar a mínima subjetividade na produção do conhecimento humano, ou seja, para Weber, o cientista social necessitaria buscar ao máximo essa objetividade, mas ela nunca alcançaria em sua totalidade.
Já na sua teoria em si, para Weber, a ação individual (a qual ocorria na relação do indivíduo com a sua cultura) era a melhor forma de análise da sociedade. Nesse sentido, Weber tem como método o que ele denominou “tipo ideal”. Trata-se de uma estratégia para analisar as causas das ações sociais, isto é, para compreender as interações que os indivíduos mantêm entre si formando um “emaranhado social”, ou seja, um corpo social. Dessa forma, esse tipo ideal, carregado por juízo de valor do próprio pesquisador, sem, no entanto, comprometer a objetividade do conhecimento, entrará, por sua vez, em conflito com os fatos reais. E é justamente nessa comparação que se obtém a verdade científica.
No campo do direito, para Weber, a dinâmica de racionalização deveria ir do material para o formal, reduzindo as decisões a princípios tecnicamente pré-determinados e o estabelecendo um sistema de regras com lógica interna, de modo que toda decisão jurídica seja a aplicação de uma disposição jurídica abstrata a uma constelação de fatos concreta; que para todo fato concreto deva ser possível encontrar, com os meios da lógica jurídica, uma decisão a partir das vigentes disposições jurídicas abstratas; e que, portanto, o direito objetivo deva constituir um sistema sem lacunas.
Apesar do conceito parecer utópico, a ideia de um direito sem lacunas é retirada pelo próprio código civil brasileiro. Uma vez que ele traz uma ideia de que “não há lacunas porque há juiz”, dado que caso não haja lei específica para algo, o juiz deve se utilizar das morais e dos costumes para julgar um caso. Logo, é possível afirmar que essa análise do Direito é pertinente à modernidade do Brasil.
Paulo Henrique Illesca Da Costa
Max Weber e a Dominação
Para Weber, a ação social é executada pelos indivíduos, dando sentido à existência social ou seja há uma intencionalidade sobre a ação social. Não sendo possível substituir uma ação que não tenha racionalidade e objetivo. Muitas vezes esse objetivo é a dominação.
De acordo ele, há dominação legal ou dominação burocrática, a qual estabelece normas estatutárias, hierarquia funcional, administração baseada em documentos, demanda por aprendizagem profissional, exigência de rendimento . A segunda forma de dominação é a tradicional que é baseada na autoridade, normas (fundadas na tradição) e estabilidade pela tradição e consciência coletiva.. E por fim a dominação carismática, que é exercida por autoridade e normas arbitrárias ou subjetivas (dependendo do líder).
A dominação legal , para Weber segue os contratualistas, portanto um pacto, um acordo entre todos membros da sociedade, que se submete à um conjunto de leis e regras. Nesse sentido, o Estado é o sujeito das ações sociais que subordina o povo à sua autoridade para próprio bem desses. Não é atoa que o Estado detêm o monopólio da força de forma legal. Para ele, se as pessoas não fossem violentas não seria necessário, o Estado como instituição.
Na dominação tradicional, o que há é uma relação moral implícita em que os valores morais, conferem a tradição do poder por exemplo do patriarcado. Outros exemplos, segundo Weber, são a autoridade divina de Deus e o poder conferido por ele à um sacerdote, para ser seu representante. Nesse tipo de liderança, no patriarcado, como citado, a figura do patriarca é tradicionalmente obedecido, porque exerce um poder. Assim, a tradição faz esse tipo de dominação se perpetuar em determinadas sociedades.
Na terceira e última forma de dominação, que é a carismática, ocorre pela influência do carisma que uma pessoa pode ter e mobilizar pequenos grupos ou até multidões. O que ocorre, é que as pessoas ficam submetidas e devotas ao líder que tem carisma, não apenas por sua liderança, mas há também certa crença e fé nesse tipo de liderança. Nessa linha, há certo misticismo sobre o líder, porém é um tipo de dominação instável, pois pode haver uma quebra de expectativas e encanto sobre esse líder. Pode-se citar Antônio Conselheiro em Canudos, Hitler na Alemanha nazista e Mahatma Gandhi na Índia (quando era colônia Britânica).
Desse modo, as relações sociais estão no cerne do contexto dos interesses por poder e até mesmo da economia. Havendo uma aceitação entre dominantes e dominados. E no período moderno, de acordo com Weber há um desencantamento com o mundo, na forma que se dão as relações de poder pela racionalização e pela burocracia, enfim na forma que o Estado e a gestão dos negócios privados exercem seu poder, de modo impessoal, perante a sociedade. Enfim, no modo em que o mundo é manipulado pela razão e mecanização das relações sociais.
Joel Martins S. Junior
1º Ano de Direito - Noturno
Sociedade do Tipo Ideal e a Ameaça à Democracia
Título: Sociedade do Tipo Ideal e a Ameaça à Democracia
Tese: A utilização do tipo ideal na desconstrução da democracia
Segundo Weber, todo coletivo dentro de uma sociedade compartilha de um conjunto de valores morais e quando este grupo se mobiliza por meio de uma ação social, seu objetivo é impor um tipo ideal (representação do indivíduo que é composto por todos os valores presentes no coletivo em questão, por isso seria ideal) em um outro indivíduo ou outro coletivo que seria considerado subversivo a partir da ótica do grupo, com o intuito de ir moldando um projeto de sociedade considerada ideal.
Atualmente, há um aumento na incidência de manifestações conservadoras no território brasileiro e nas redes sociais. Tal expressão política, geralmente, vem acompanhada junto de valores cristãos e conceitos morais que, mesmo sendo individuais, representam um coletivo através de criações comuns dentro dos núcleos familiares. Esse sentimento coletivo de compactuação de valores por um grupo de pessoas, em pequena escala, possui uma inteferência apenas em no âmbito privado de cada indivíduo que compõe este grupo, porém, em maior escala, essa expressão política, por meio das ações sociais, pode tomar proporções maiores ao ponto de tornar o seu projeto de sociedade ideal em algo que afete toda a sociedade brasileira, como exemplo disso, a escolha de representantes políticos com discursos extremistas propondo uma salvação da sociedade ou dizendo que nos dias atuais a sociedade está sofrendo uma desvirtuação em massa dos valores cristãos e da família, tem se tornado muito mais frequente.
A presença de representantes políticos escolhidos apenas pela ideologia e pelo tipo ideal que se pretende projetar na sociedade, acima de qualquer outra qualidade que deve estar presente em um político voltado para o povo como um todo, é um fator crucial para ser analisado quando a saúde da democracia está em questão. Mesmo que Weber compreenda que seja um movimento natural do ser humano realizar ações sociais movidas por valores em prol de um tipo ideal, é de extrema importância também perceber que, quando a influência destes valores se torna decisivo dentro do meio político-representativo, passa a se tornar prejudicial para as estruturas democráticas, pois, quando o principal objetivo de um representante político passa a ser injetar um tipo exemplar de indivíduo baseado em valores que não são universais, a segregação e abuso do Estado em prol deste objetivo passa a ocorrer com mais frequência.
Portanto, a presença no discurso político do objetivo de impor um tipo ideal na sociedade como um todo passa a se tornar uma ferramenta para ganhar apoio popular em decisões totalmente segregacionistas e anti-democráticas no que dizem respeito ao respeito das diferanças morais, culturais e individuais que compõem uma sociedade.
O papel da religião na política brasileira
Analisando a política brasileira sob a ótica Weberiana, percebemos como os valores da religião estão incutidos na ação social dos indivíduos, e por consequência, se exteriorizam no âmbito político. O Brasil se mostra um país no qual a religião sempre manifestou papel importante na vida dos indivíduos, seja no âmbito do consolo pessoal com a fé no transcendente, seja pela falta de perspectiva no plano material, dado às mazelas de um país com uma desigualdade brutal. Ou mesmo pela questão de Estado, dado a laicização recente do país, sendo esta feita de forma vertical, sem um entendimento democrático do seu real significado. Dessa forma, a relação entre as instituições religiosas e a política sempre foi imbricada, tornando a religião um eficiente cabo eleitoral, instrumentalizando os valores morais dos indivíduos, em nome de um projeto de poder de determinados grupos religiosos. Observamos essa cooptação de valores, na demonização de projetos importantes contra o preconceito, como o “Escola sem homofobia”, apelidado pela Bancada evangélica de “Kit gay”, no qual determinados agentes políticos inventaram diversas pautas mentirosas sobre o tema, incutindo um verdadeiro pânico moral nos grupos religiosos da sociedade, sendo essas pautas utilizadas como um verdadeiro catalisador para mobilização eleitoral desses grupos, fomentando uma nova identidade cultural conservadora no Brasil.
Sociologia compreensiva como instrumento de entendimento do Estado Autocrático.
De
início, o pensador Max Weber define a sociologia como uma ciência que pretende
compreender interpretativamente a ação social e explicar os seus sentidos e
seus efeitos. Para isso, diferente de outras correntes sociológicas, a
sociologia compreensiva parte da análise sobre o indivíduo e não mais sobre o
coletivo. Deste modo, o indivíduo se configura como a expressão do social e as
suas diferentes ações tem influências históricas e culturais.
Diante
disso, ao analisar a sociologia compreensiva sob aspectos mais específicos,
como os conceitos de dominação, poder e legitimidade, nota-se a importância desta em
discorrer sobre o entendimento das atividades sociais, visto que torna-se
possível entender, a partir da compreensão social, como regimes políticos
autocráticos e seus respectivos totalitarismos se formam e se formaram ao longo
da história.
Em
primeiro plano, para Weber o poder pode ser definido como a probabilidade de
impor a própria vontade numa relação social mesma que esta enfrente
resistência. Já o domínio é entendido como a probabilidade de encontrar
obediência a uma ordem de determinado conteúdo. No entanto, tais aspectos não
são características própria de Estados autocráticos, pois a sua presença
remete-se a tempos passados, onde a formação de Estados nacionais e do capitalismo
ainda era embrionária. Desta maneira, talvez o que realmente caracterize o
totalitarismo sob a análise da sociologia compreensiva seja a legitimidade, não
esta relacionada com a formação de um Estado de direito que siga normas
constitucionais, uma vez que muitas autocracias vieram de golpes e constantes
violações aos direitos, mas sim na busca de aceitação, disposição a dominação
pelo povo, seja por motivos afetivos, carismáticos ou racionais.
Com isto, a legitimidade, centrada nesta aceitação da dominação como algo válido, foi estratégia central de diversos ditadores em diferentes épocas. Os populistas utilizavam do carisma e da falsa aproximação a classes populares como estratégia de manutenção de governo(dominação carismática), além de tentarem fazer de suas imagens públicas um culto de admiração pelos seus seguidores e pelo povo, por exemplo. Assim, manter o poder sobre diferentes alternativas sempre foi o principal objetivo, ocultando todo o autoritarismo presente nestes Estados.
Em síntese, nota-se a grande importância da compreensão e ação social e o estudo do indivíduo para o entendimento de regimes políticos autoritários e os conceitos que o compõem, como a legitimidade, o poder e a dominação. Assim , por meio de uma análise que embarque os indivíduos e as suas instituições, torna-se possível evitar a corrosão de um regime democrático, diante de todos os exemplos históricos presentes e seus respectivos entendimentos à luz da sociologia compreensiva.
João Felipe Schiabel Geraldini. Direito Noturno. 1ano.
Quem sabe sobre nosso destino?
Atos? Simples manifestações de nossos desejos e sentimentos?
Racionais? Carnais?
Quem sabe...
Única certeza que temos é que consciente ou não, arcaremos com as consequências.
Será que sofreremos por algo que realmente queríamos fazer e temos noção?
Quem sabe...
Poder, dominação, subordinação, palavras tão próximas e tão perigosas.
Algumas vezes teremos duas pessoas afetadas.
Outras vezes teremos grupos.
Ou até mesmo teremos países inteiros entrelaçados há estes conceitos.
Uma guerra infinita , onde quem ganha não é o mais forte, e sim aquele que melhor convence.
Palavras bonitas são necessárias? Não.
Basta vociferar oque eles querem escutar, e trazer a tona um pouco do radicalismo primitivo que tem escondido dentro de cada ser.
Pronto!
Legiões de subordinados apareceram, para lhe exaltar.
E Com unhas e dentes lhe proteger.
Talvez se curvar diante de sua imagem?
Quem sabe...
Isso pode parecer apenas mais um conto aleatorio quanto qualquer outro que temos por essa vastidão que chamamos de mundo.
Porém, o poder é perigoso, e concentrado na mão de poucos , pode significar nossa ruína...
Por fim, nos resta saber.
Caminharemos para mais uma lastimável guerra pelo poder?
Seremos capazes de nos desfazer das amarras e vendas que nos foram colocadas?
Esses questionamentos todos nos serão respondidos?
Nossa mera existência estará em nossas mãos ou sob o controle de outros?
Quem sabe... Isso tudo apenas o tempo nos dirá.
Gustavo Brunelli Esteves, 1° Ano Direito
Roteiro Didático de Ideias: o Compreensivismo de Max Weber
Nasce
em Weber a ideia de uma Ciência Social propriamente dita, capaz de compreender
e interpretar o quesito causa et consequentia das chamadas ações
sociais, sendo estas motivadas por valores que divergem em
diferentes sociedades. Portanto, para de fato entender as ações sociais, é
necessária a compreensão desses valores em relação ao agente da ação social: um
chinês não conseguiria entender um costume estadunidense sem antes compreender
os valores norte-americanos que constituem aquele costume.
É a partir do compreensivismo, então, que o indivíduo
volta a ser o objeto central de estudo sociológico, relegando o coletivo para o
segundo plano, pois é o homem enquanto elemento singular, o agente responsável
pelas ações sociais. Desse modo, os entes coletivos como o Estado, são consequências
das ações individuais de diferentes elementos da sociedade, diferentes
representações do coletivo existem de forma dualista: possuem um caráter físico
e real, mas também possuem um caráter expresso na consciência dos homens, sendo
que, este último pode ser traduzido nos valores que orientam as ações humanas
em sociedade.
Ademais, a ideia de relação
social está diretamente ligada ao fenômeno da ação, sendo que aquele
nada mais é do que o conjunto deste, isto é, uma relação entre duas partes é
social quando há ação social originando-se de ambas. Para entender cada ação é
necessária também a noção de que há um contexto histórico presente no fenômeno,
normalmente encontrado na ideia de cultura¸ pois esta é representação
imediata de valores exprimidos em determinada sociedade. A questão é: o
indivíduo que é agente responsável de uma ação social específica, pode
ponderar e escolher os valores que estão de acordo com o seu próprio
modo de pensar para reiterar sua ação. Em tom de exemplo, na luta feminista,
muitos daqueles que se posicionaram contra os direitos adquiridos pelas
mulheres, acabaram por utilizar de valores cristãos para defenderem sua
ação social de conservação dos moldes patriarcais da sociedade. Outro fenômeno
explicado por Weber é que em muitos casos, a ideia de não-ação
não
deixa de ser um posicionamento a favor ou contra determinados valores.
Quanto à metodologia pura da
sociologia compreensiva de Weber, é apresentada a chave do “tipo ideal”,
que difere da ideia de “dever ser” trabalhada por Durkheim, por se tratar de um
conceito puramente utópico de diferentes configurações sociais, tendo
como consequência fenômenos extremamente puros, sem quaisquer interferências ou
vícios. É a racionalização radical de possibilidades reais.
Paralelamente, Max também define o
conceito de poder para a sociologia: é a capacidade de impor a própria
vontade dentro de uma relação social, agindo unilateralmente e
independentemente de quaisquer resistências, em busca de uma relação de dominação.
A dominação, portanto, se dá no exercício do poder sobre as ações sociais do
dominado. No entanto, justamente por não depender das resistências, dependendo
da intensidade destas, a dominação pode se tornar uma relação instável, pois
nem sempre o indivíduo dominado aceita um modo de condução de sua vida vindo de
uma fonte externa. Para isto, existe o conceito de legitimidade na
dominação weberiana, muitas vezes associado à matéria do Direito, uma fonte que
pode ser considerada legítima como ferramenta de orientação da ação social.
Afinal, o Direito positivado, principalmente o penal, apresenta diversos “tipos
ideais” em sua redação.
Pedro Henrique Falaguasta Nishimura - 1º Direito Matutino
Tipos de ação social segundo Max Weber
Max Weber, em sua linha de pensamento, define a ação social do ser, que seria uma ação que o indivíduo faz, que tenha como base a sociedade, desse modo colocando a primazia no indivíduo. Assim, ele acaba divergindo de Durkheim, que acreditava que os fatos sociais se sobrepõem sobre os indivíduos.
Weber definia a ação social em tipos: o tipo afetivo, o tipo tradicional e o tipo racional.
O tipo afetivo é aquela ação que o sujeito faz por afeto ao outro, como por exemplo fazer alguma coisa relacionada a casa para a sua mãe, você não quer fazer, mas faz porque gosta dela. Já o tipo tradicional é aquela que é feita com base em costumes, está ligada ao hábito, como por exemplo, tomar banho todos os dias, você faz isso porque sempre fez e já está acostumado.
O tipo racional é dividido em duas partes, o por fins e o por valores. A ação racional por fins é aquela que envolve ganhos, quando o indivíduo só pratica uma atividade se ele for lucrar em alguma coisa, como por exemplo, trabalhar. Já a por valores é aquela que envolve crença, por acreditar em algo, por exemplo, seguir uma prática tradicional de alguma religião.
A importância de Max Weber para a análise da sociedade brasileira contemporânea
Max Weber, um dos principais sociólogos conhecidos, não atuou somente no cenário do seu tempo (1864-1920), mas também continua exercendo influência na contemporaneidade. Tal fato não se deve a qualquer razão, mas ao reconhecimento do vigor de sua análise, ao aperfeiçoamento das técnicas de pesquisa e à decisão de utilizar a sociologia como instrumento para compreender o Brasil. Dessa forma, a construção teórica weberiana do indivíduo como ser importante nas averiguações sociais, a importância dada à razão e aos valores particulares de cada um contribuiu com o estudo dos fenômenos de mudança social no país.
Nesse
sentido, grande parte da produção sociológica brasileira estabelece um diálogo
com a obra de Weber; diálogo acerca da aplicabilidade de suas categorias
analíticas, de suas teorias e, principalmente, do conceito de tipos ideais, ou
seja, desse conceito teórico abstrato basilar para comparação entre aquilo que
é observado e sua abstração teórica, ao capitalismo periférico atual. Desse
modo, a burocracia, com todas suas nuances hierárquicas, rotineiras e fixas,
pode ser analisada através do mecanismo de tipo-ideal citado, o poder, pelos
tipos de estratificação social existentes no Brasil atual e a evolução do sistema
capitalista ocidental pelo pressuposto da racionalidade.
Um exemplo
de estudo da sociedade brasileira através de Weber se mostra em uma das
resenhas de Alberto Guerreiro Ramos, que assinala a chegada da edição mexicana
do livro “Economia e sociedade” do sociólogo tratado. Neste artigo, o escritor
busca incitar os estudiosos brasileiros de administração acerca da importância
das categorias analíticas colocadas no livro como ferramentas para examinar os
problemas administrativos do país. A resenha chega no âmago das adversidades
pela extensa exposição compreensiva da teoria de Weber e dedica espaço exclusivo
aos tipos-ideais de dominação.
O artigo,
após alguns anos, foi utilizado por outros autores para analisar as classes
sociais no Brasil através da burocratização como subprocesso que compõe a
passagem do padrão de estratificação antigo para o atual, caracterizado pela
diversificação; passagem, esta, que advém da secularização e da urbanização.
Além disso, alguns autores utilizaram até a estrutura de poder dos indígenas
brasileiros sob o ângulo dos tipos weberianos, o que mostra a grande
contribuição dessa teoria até os dias de hoje.
Portanto,
é notável que a teoria weberiana, que classifica as organizações como sistemas
burocráticos vistos como ponto de partida para cientistas políticos e outros
sociólogos iniciarem seus estudos, ainda vigora e influencia o pensamento de
diversos atores no exame da sociedade brasileira atual. Partindo da premissa da
ação social, do tipo-ideal, da razão e dos valores individuais tal obra
torna-se fundamental para o entendimento das relações internas e externas de
que participam as sociedades de capitalismo dependente, como a brasileira, o
que deveria ser valorizado pelos estudiosos desse século.
Núbia Quaiato Bezerra- Direito noturno