domingo, 3 de julho de 2022

Roteiro Didático de Ideias: o Compreensivismo de Max Weber

 

    Nasce em Weber a ideia de uma Ciência Social propriamente dita, capaz de compreender e interpretar o quesito causa et consequentia das chamadas ações sociais, sendo estas motivadas por valores que divergem em diferentes sociedades. Portanto, para de fato entender as ações sociais, é necessária a compreensão desses valores em relação ao agente da ação social: um chinês não conseguiria entender um costume estadunidense sem antes compreender os valores norte-americanos que constituem aquele costume.

    É a partir do compreensivismo, então, que o indivíduo volta a ser o objeto central de estudo sociológico, relegando o coletivo para o segundo plano, pois é o homem enquanto elemento singular, o agente responsável pelas ações sociais. Desse modo, os entes coletivos como o Estado, são consequências das ações individuais de diferentes elementos da sociedade, diferentes representações do coletivo existem de forma dualista: possuem um caráter físico e real, mas também possuem um caráter expresso na consciência dos homens, sendo que, este último pode ser traduzido nos valores que orientam as ações humanas em sociedade.

    Ademais, a ideia de relação social está diretamente ligada ao fenômeno da ação, sendo que aquele nada mais é do que o conjunto deste, isto é, uma relação entre duas partes é social quando há ação social originando-se de ambas. Para entender cada ação é necessária também a noção de que há um contexto histórico presente no fenômeno, normalmente encontrado na ideia de cultura¸ pois esta é representação imediata de valores exprimidos em determinada sociedade. A questão é: o indivíduo que é agente responsável de uma ação social específica, pode ponderar e escolher os valores que estão de acordo com o seu próprio modo de pensar para reiterar sua ação. Em tom de exemplo, na luta feminista, muitos daqueles que se posicionaram contra os direitos adquiridos pelas mulheres, acabaram por utilizar de valores cristãos para defenderem sua ação social de conservação dos moldes patriarcais da sociedade. Outro fenômeno explicado por Weber é que em muitos casos, a ideia de não-ação não deixa de ser um posicionamento a favor ou contra determinados valores.

    Quanto à metodologia pura da sociologia compreensiva de Weber, é apresentada a chave do “tipo ideal”, que difere da ideia de “dever ser” trabalhada por Durkheim, por se tratar de um conceito puramente utópico de diferentes configurações sociais, tendo como consequência fenômenos extremamente puros, sem quaisquer interferências ou vícios. É a racionalização radical de possibilidades reais.

    Paralelamente, Max também define o conceito de poder para a sociologia: é a capacidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, agindo unilateralmente e independentemente de quaisquer resistências, em busca de uma relação de dominação. A dominação, portanto, se dá no exercício do poder sobre as ações sociais do dominado. No entanto, justamente por não depender das resistências, dependendo da intensidade destas, a dominação pode se tornar uma relação instável, pois nem sempre o indivíduo dominado aceita um modo de condução de sua vida vindo de uma fonte externa. Para isto, existe o conceito de legitimidade na dominação weberiana, muitas vezes associado à matéria do Direito, uma fonte que pode ser considerada legítima como ferramenta de orientação da ação social. Afinal, o Direito positivado, principalmente o penal, apresenta diversos “tipos ideais” em sua redação.


Pedro Henrique Falaguasta Nishimura - 1º Direito Matutino

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