segunda-feira, 23 de maio de 2022

Queda Livre: Fato Social e Black Mirror

   "Black Mirror" é uma série britânica lançada em 2011. Famosa por críticas sociais através de metáforas chocantes, a série instiga a reflexão causando um certo desconforto ao telespectador, sempre com alusões às diversas correntes sociológicas.

   No primeiro episódio da terceira temporada, chamado "Queda Livre" ("Nosedive" ou "Free Fall"), um mundo teoricamente perfeito nos é apresentado. Neste mundo, todas as pessoas passam a maior parte do tempo felizes e tudo é colorido. Contudo, um aplicativo de celular, muito semelhante ao Instagram é utilizado por quase 90% da população. Neste aplicativo, pessoas postam praticamente o tempo todo, o que estão fazendo, e assim, elas são "rankeadas" de 0 a 5 estrelas e uma média é gerada e disponibilizada para que todas as pessoas vejam ao andar nas ruas a nota de cada indivíduo.

   Sendo assim, Lacie (Bryce Dallas) é uma jovem popular de classe média que se preocupa muito em manter sua média sempre alta para que esta seja socialmente aceita pela sociedade e possa participar de certos eventos e entrar em lugares específicos da elite (no episódio, portas automáticas bloqueiam para pessoas com notas abaixo do requisitado pelo estabelecimento). Vivendo sempre para tentar parecer "perfeita" - assim como a maioria - Lacie cria uma realidade fictícia para seus seguidores do "Instagram", posta fotos de comidas saudáveis e logo em seguida as joga fora, somente com o objetivo de angariar seguidores e manter sua média alta. Entretanto, é visível o descontentamento de Lacie, pois acaba afastando amigos de longa data (e até mesmo o próprio irmão), apenas por suas notas serem consideradas baixas. Por fim, a jovem consegue atingir uma nota alta - suficiente para estar em espaços da alta sociedade - entretanto, seus membros passam a evitá-la a todo custo, pois apesar de sua nota, seus poder aquisitivo é inferior aos demais.

   Desse modo, ela percebe que todo o seu egoísmo e vaidade só lhe trouxeram problemas, e, portanto, ela decide assumir suas particularidades e reconhecer que o mundo não é perfeito, muitos menos as pessoas, sendo que são seus defeitos que as tornam únicas.

   Por conseguinte, é possível analisar o episódio através da perspectiva do sociólogo francês, Émile Durkheim e sua principal teoria: o fato social. O aplicativo em questão, pode ser considerado um fato social pois cumpre os três fatores básicos propostos por Durkheim:

  • Generalidade: o aplicativo abrange todos os indivíduos daquela sociedade, entretanto, nem todos o utilizam, pois o consideram aprisionador das particularidades de cada indivíduo.
  • Exterioridade: antes mesmo de Lacie nascer, o aplicativo já existia, e apesar de não ser acatado por todos os habitantes, ele continua existindo.
  • Coercitivdade: bancos, concessionárias, lojas de roupa e até mesmo bares exigem uma nota mínima para que o indivíduo possa entrar e utilizar-se dos serviços disponibilizados, portanto, o aplicativo se impõe naquele espaço de diversas formas.
    Por fim, é possível também analisar o episódio com a nossa realidade: a utilização de redes sociais pode ser considerado um fato social pelas mesmas particularidades do aplicativo fictício citado, e assim, aqueles que não o utilizam podem ser considerados seres anômicos, pois vão na contramão da ordem regida por aquele determinado fato social.




Lorenzo Pedra Marchezi - Direito - 1º Ano - Noturno

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