segunda-feira, 23 de maio de 2022

Anomia: o abalo à supremacia estadunidense

 “Temos traficantes de drogas vindos de outros países, temos estupradores, temos assassinos. Você acha que eles vão nos enviar suas melhores pessoas? A resposta é não."

"Os que estamos recebendo são os senhores das drogas, estamos recebendo os membros da gangue...”

"Eu iria construir um muro. E ninguém mais entraria ilegalmente. Eu faria o México pagar por isso, porque eles realmente extorquiram este país.”

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, não só proferiu falas que marginalizam os imigrantes latinos, mas também incitou o sentimento segregatório na psique norte americana, fomentando a discriminação racial direta. Nessa lamentável circunstância, a obstrução imposta aos estrangeiros revela uma duplicidade semântica, tendo em vista que Trump, a partir de seu intangível discurso xenofóbico, provocou a aversão excludente ao latinos, bem como materializou seu ódio e construiu um muro que separava os marginalizados estrangeiros dos estadunidenses.

Analisando a postura de Donald Trump, é imprescindível fazer uma alusão ao pensamento de Durkheim, pois o sociólogo francês discorre sobre a influência coercitiva do fato social. Afinal, essa questão exemplifica a atuação de forças exteriores ao indivíduo pautadas de acordo com máximas puramente morais. Outro ponto notório corresponde à caracterização da ideologia como coeficiente que distancia a ciência das realidades. Logo, as pré-noções extrínsecas à psique humana obstaculizam a busca pela verdade científica.

Outrossim, para Durkheim, a “Solidariedade” é compreendida como um artifício que promove a coesão e a harmonia na humanidade, inibindo a vigência do estado de anomia, o qual corresponde a uma desordem nas convenções normativas sociais. Assim, há uma bifurcação da “Solidariedade Durkheimiana” em duas vertentes, sendo elas, a Solidariedade Mecânica e a Solidariedade Orgânica. O primeiro âmbito proposto pelo sociólogo consiste em um estágio primitivo de teor punitivo, desse modo, a Solidariedade Mecânica é constituída pelo medo e pela penalização. Divergindo da perspectiva preambular, a Solidariedade Orgânica ressalta o caráter restitutivo e teórico do Direito. Vale frisar que, de acordo com o pensamento de Émile Durkheim, a resistência é interpretada como a gênese das reações punitivas que buscam evitar a anomia e manter a harmonia social, a qual, em análises contemporâneas, possui efeitos deletérios e segregatórios.

Portanto, o movimento migratório - consequência da submissão dos estrangeiros ao estado de precariedade e vulnerabilidade – pode ser interpretado como um exemplo de anomia, tendo em vista a proposta de Durkheim. No momento em que Trump rotula os latinos como “traficantes”, “estupradores” e “assassinos”, o ex-presidente norte americano inferioriza os imigrantes a uma condição depreciativa, alegando, lamentavelmente, que o abalo à ordem social estadunidense foi provocado por eles. Consequentemente, elucidando as punições arcaicas presentes na Solidariedade Mecânica, é imprescindível reiterar como a construção do muro que separa os moradores dos Estados Unidos dos marginalizados latinos formaliza uma pena concreta, a qual, ilusoriamente, tenta instituir a supremacia estadunidense.  



Disponível em: https://istoe.com.br/imigrantes-chegam-ao-muro-de-trump-e-venezuelanos-fogem-para-o-brasil/ Acesso em: 22 mai. 2022.

Maria Yumi Buzinelli Inaba – Direito Matutino


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