quarta-feira, 18 de maio de 2022

Peças quebradas ou resistentes?

O filme “Divergente” - baseado em uma coleção de livros americanos - mostra uma distopia, com uma sociedade está dividida em facções, cada qual com sua função específica e princípios. Em meio a essa realidade, há aqueles que não se encaixam nesse sistema - pertencendo a mais de uma facção - e são chamados de “divergentes”. Essa população é perseguida, posto que representam, segundo o governo e o costume, uma ameaça à harmonia social e o símbolo de uma ruptura social. 

Essa história muito se relaciona ao funcionalismo de Durkheim, uma corrente que estabelece que cada ação social possui uma função para assegurar a estabilidade do coletivo. Essas ações são denominadas “fato social” e consistem em tudo aquilo que tem como substrato a ação do homem e que está de acordo com as regras sociais. 

Entretanto, tal como refletido no filme, essa concepção funcionalista delimita as ações sociais a um conjunto moral reproduzido por um grupo seleto de pessoas. Dessa forma, observa-se uma extrema caça e punição aos indivíduos que buscam questionar esse padrão imposto pela sociedade sem quaisquer explicações. 


Já na contemporaneidade brasileira, esse cenário é observado quando - assim como no filme - tem-se uma perseguição à minorias, que exprimem possíveis rachaduras às tradições de grupos dominantes. É sob esse viés que são noticiados frequentemente ataques à pessoas LGBTQIA+ e/ou racializadas, por exemplo. Assim, o funcionalismo coloca como regra a reprodução de um modelo coletivo, que promove a exclusão e negação daqueles que não o seguem. Essa concepção, portanto, aumenta exponencialmente a discriminação das minorias no Brasil, o que propicia grande desigualdade social e prejudica o acesso aos direitos fundamentais por esses grupos.


Percebe-se, então, que o funcionalismo, ao estipular a analogia de uma máquina que precisa de todas as suas peças em ordem para funcionar integralmente, gera, na prática, inúmeras fraturas sociais em nome de um “combate à anomia”. 


Mariana Medeiros Polizelli

1° semestre - Matutino 

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