segunda-feira, 25 de abril de 2022

Pandemia: da concretude à alienação atrelada aos ídolos

 

Francis Bacon, fundador do método indutivo de investigação científica, foi um dos assíduos críticos da Filosofia Grega, escolástica e renascentista. Nesse sentido, a partir de uma análise empirista, Bacon propõe uma reforma do conhecimento, preterindo a lógica aristotélica, a qual não apresentava uma noção segura científica. Sob esse cenário, o filósofo afirmava que a existência de ídolos, ou seja, falsas noções intrínsecas na psique humana, intensificava a inércia da racionalidade humana, impedindo seu efetivo progresso. Traçando um panorama comparativo com a realidade contemporânea, pode-se citar a disseminação de “fake news”, tendo em vista que essas notícias falsas não só constituem o imaginário humano, corroborando a alienação e a vulnerabilidade à manipulação, mas também impedem a obtenção de um conhecimento verídico e validado pela racionalidade. A exemplo disso, é imprescindível salientar o caso relacionado às vacinas contra a COVID-19, no qual o negacionismo, fundado por notícias falsas, foi a gênese de movimentos antivacina no Brasil.

Segundo Francis Bacon, os ídolos podem ser divididos em quatro aspectos, sendo eles: os ídolos da tribo, os ídolos da caverna, os ídolos do foro e os ídolos do teatro.

Primeiramente, os ídolos da tribo constituem a própria natureza humana, originando-se nos preconceitos, limitações e em supostas verdades absolutas. Sendo assim, os ídolos da tribo simplificam as noções racionais e reduzem o complexo ao simples e, por consequência, concebem as irredutíveis superstições. Para elucidar essa definição de Bacon, é possível citar o caótico cenário pandêmico, no qual os indivíduos adotavam a equivocada premissa de que as vacinas que combatem a COVID-19 poderiam findar em resultados nefastos, invalidando seu verdadeiro propósito preventivo. Nesse viés, o movimento antivacina solidificou-se devido aos negacionistas ídolos da tribo (“fake News”), os quais foram instigados por indivíduos imprudentes que exercem influência sobre a população brasileira, tendo como lamentável resultado a morte de mais de 600 mil pessoas. Sob essa óptica, é notório ressaltar como a humanidade fica sujeita à manipulação e aos danosos efeitos das notícias falsas.

Outrossim, os ídolos do foro correspondem à tendenciosa arte de manipulação em massa por meio das palavras. Desse modo, a ambiguidade é promovida pelas distorções e pelas abstrações, as quais estão presentes em discursos proferidos por oradores parciais que, impiedosamente, manipulam seu público. Transpondo para o paradigma real, é possível enfatizar o irresponsável comportamento dos indivíduos que, sob um amplo domínio e influência, utilizaram das palavras para pregar não só uma visão deturpada da vacina, mas também para preterir a relevância da pandemia e do isolamento social. A exemplo disso, pode-se citar alguns líderes influentes que, a partir das notícias desvinculadas da veracidade, negligenciaram as irreversíveis consequências da COVID-19, tal como fez Jair Bolsonaro, o Chefe de Estado brasileiro, durante 2020 e 2021.

Portanto, o cenário pandêmico pôde elucidar o contexto redigido por Francis Bacon, evidenciando como a humanidade ainda está vulnerável aos ídolos e às suas falsas concepções de realidade. Logo, os homens ainda possuem um forte vínculo com os ídolos concebidos pela sociedade, comprovando que a humanidade é facilmente manipulada pelas notícias falsas e não possui autonomia suficiente para refutá-las e alcançar o conhecimento verídico e racional.

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