segunda-feira, 4 de abril de 2022

Análise "Tempo e café" - pt.02

 

Quando René Descartes “bateu as botas”, Issac Newton era apenas uma criança, e quem poderia imaginar o que o futuro guardava para aquela criança. É clássico e famoso, o conto de Newton e o pé de maça. O físico ao observar uma maça que por acaso caiu em sua cabeça imaginou que algo a fizera cair, afinal, ela não poderia cair simplesmente por vontade própria, daí, vieram diversas experimentações, hipóteses, testadas, concluídas e falhas assim como tantas outras comprovadas, com Newton iniciava-se uma fase de descobertas e possibilidade de produção do conhecimento nunca antes vista, consolidavam-se os ideais de Descartes e Bacon, já dizia Francis Bacon: “A natureza supera em muito, em complexidade, os sentidos e o intelecto.”, e Issac Newton, regrou a natureza, decifrou seus mistérios permitindo que previsões quase exatas da influência dela sobre os corpos, por isso, a tecnologia, a produção e o conhecimento cresceram de forma imensurável e quanto mais entendíamos a natureza mais dinheiro retornava aos nossos bolsos, e com isso quanto mais nos apropriávamos da natureza mais satisfação e conforto eram gerados. Resultado: os sentimentos humanos? Esquecidos, afinal se os ideais do século XVII colocavam-nos como atraso e malefícios para o “progresso”, imagine três séculos depois em que o conhecimento está em segundo plano e o que determina o progresso é o acumulo incessante de capital.

 Colocando sobre analise e comparação o contexto geral da escritura do livro “O discurso do método” com o contexto dos acontecimentos recentes em nossa sociedade moderna, nota-se semelhanças – não igualdades – entre as bases e as dúvidas do pensamento cartesiano, com o atual pensamento científico e os questionamentos sobre ele. Imagine uma pirâmide gráfica ou um cone de ponta cabeça, na parte superior (maior) está a demanda, as pessoas anseiam por novas tecnologias, descobertas e melhores soluções para os problemas do dia a dia bem como fazia-se no XVII; em seguida encontra-se as incertezas, a modernidade mesmo sendo a era da tecnologia e teoricamente do “bem-estar” já que teoricamente mesmo alguém com baixa renda viveria melhor hoje do que um rei ou lorde na Idade Média, possui tantas incertezas quanto possuía René Descartes quando escreveu sua obra, a diferença pontual é que  para muitas foram encontradas respostas, mas novas surgiram e algumas com um aspecto diferente que talvez não possam ser sanadas pelo método mecânico que vem dado certo por séculos; conforme essas dúvidas crescem, geram-se confrontos, que podem tornar-se uma crise ou podem aplicar mutações nas ideias que vigoram, quer isto dizer, Descartes confrontou a veracidade, ou, no mínimo a funcionalidade das ideias filosóficas. Utilizarei o texto “O café e o horário do tempo” (também postado nesse blog) para exemplificar um confronto: Ve-veja be-be-bem, coroa! O horário de verão é fruto de muito tempo de estudo e possui o esforço de muitos estudiosos [...] registrando o fenômeno ano após ano, puderam de fato descobrir que é um fenômeno natural periódico, e que nós seres humanos, poderíamos nos utilizar dessa previsibilidade natural”. Esse trecho é o início da discussão entre o senhor – indignado com o horário de verão – e o jovem que defende a convenção utilizando-se da ciência, como autor julgarei como um juiz onipotente as ações das personagens, seguramente o fenômeno é real, não só observado, mas também estudado e comprovado e naturalmente, isso não exclui as afirmações práticas feitas pela personagem “Sr.Dagoberto” de que a convenção sobre o fenômeno é ou tornou-se ineficiente com o aumento de consumo energético uma vez que foram aumentadas o número de tecnologias – é válido ressaltar que a observação prática foi feita antes da comprovação cientifica – além disso, esse dilema é previsto por Descartes e justificado nas páginas iniciais do livro com a seguinte frase Portanto, meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha.

Desse modo é possível a conclusão de que a ciência quando superestimada, e as noções ou sentimentos humanos quando desvalorizados resultarão em dificuldades, instabilidades e perigos à condição humana (Cenário de maior parte dos países), mas, em virtude das três fases do “funil” anteriormente expostas, chegaremos à uma revolução das ideias, como fizeram Bacon e Descartes, e essa revolução pode inovar o método científico mecânico e acabar com a desconfiança e medo da população geral com as respostas científicas. Para não deixar uma lacuna nessa ideia, utilizarei a obra “O ponto de mutação” para exemplificar essa tendência, na obra – mais precisamente, no filme – a cientista Sônia desenvolve ideias que rompem com dinâmica científica, e a responsabiliza em parte por colocar em risco o planeta e as futuras gerações, já que a ciência não responde somente a busca pelo conhecimento, mas passou a responder principalmente ao interesses guiados pelos grandes investimentos capitalistas, essa nova corrente seria o Pensamento Sistêmico.

                                                                      Rodrigo Gabriel Leopoldino Zanuto, Direito - Noturno


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