segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Análise de julgado com base em Sara Araújo

 

Em 2019, a Presidência do TJRJ com o apoio do prefeito Crivella, permitiu uma ação que buscava recolher da Bienal do Livro qualquer conteúdo que tivesse temáticas homoafetivas publicamente exposto. Esse trágico caso expressa o conceito de linha abissal, proposto por Sara Araújo.

De acordo com a autora, a linha representa uma divisão entre o Norte e o Sul; entretanto, essa divisão não é necessariamente geográfica; ou seja, esse é um Sul que diz respeito de tudo aquilo que não é hegemônico, aquilo que não está necessariamente no sul geográfico, mas no “sul de pensamento”. Em outras palavras, falar de Sul é falar de grupos e discursos os quais sofrem apagamento, silenciamento e opressão do sistema.

Essa ideia se apresenta no caso da Bienal de 2019 pois, de acordo com a autora, esse Norte não apenas dita e padroniza o “normal”, como também é averso a qualquer expressão do Sul. A manifestação do Sul é sempre uma ameaça à ordem do Norte. Ou, nas palavras da autora: “O que acontece do lado de lá não conta (outros conhecimentos, outros direitos), é invisível, não existe ou pelo menos não existe numa lógica de simultaneidade”. (p. 96, 2016).

Sendo assim, a sexualidade ou a identidade de gênero fora do parâmetro definido pelo Norte é mal vista e tratada com aversão. No caso da Bienal, vemos na prática como essa divergência é retribuída com um esforço para que haja repressão e censura, e consequentemente, não ameace ordem do Norte.

Entretanto, nesse caso tivemos uma espécie de final feliz, no qual a decisão foi suspensa pelo STF, que decidiu que a proibição era absurda. Além liberar ordens para que os fiscais cessassem as procuras e apreensões.

Dessa forma, consequentemente há um cruzamento momentâneo da linha abissal, e uma visão otimista de que, talvez, gradualmente haverá mais espaço para o Sul.

 

Vitoria Talarico de Aguiar, 2º semestre matutino

Nenhum comentário:

Postar um comentário