domingo, 8 de agosto de 2021

Uma análise Durkheimiana sobre Rex Orange County


A princípio pode gerar estranheza submeter letras de um cantor indie-pop (ou bedroom pop, aos que preferem termo mais específicos) sob uma análise de um clássico da sociologia, feito o Durkheim. Mas, será elencado pontos em que as letras de Rex Orange County possuem intersecção com determinadas constatações  do sociólogo francês. 

Além de partilharem a Europa, ainda que em circunstâncias cronológicas bastante distantes, há neles cruzamentos no que se tange a premissa sociológica de  Durkheim, com o Fato Social e as letras escritas pelo jovem adulto Alex O´Conner.

Dentro da sociologia Durkheimiana e a busca por desenvolver uma teoria que pudesse, racionalmente, explicar a coesão social, há um elemento que para ele é o método sociológico: o Fato Social. De maneira que o Fato Social  é, parafraseando, as formas de agir, fixas ou não, passíveis de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. Isto é, o ser humano em uma sociedade está condicionado a agir com uma determinada conduta, seja por meio das leis positivadas (Constituição, à exemplo das atuais democracias), como também, por regras sociais, consideradas moralmente "corretas". 

Assim, pode-se elucidar tal construção, por meio de uma pensamento banal do que se espera de um jovem classe média na sociedade vigente: terminar o ensino fundamental e médio, e entrar em uma universidade. Não somente em uma universidade: uma boa universidade, conceituada. Depois, conseguir um emprego, casar-se e construir uma família.  Há inúmeros questionamentos se essa "roteirização" da vida é o certo, ou o que realmente se deve fazer ou não. Não obstante, não se pode deixar de concordar que aquele que decide desviar desse percurso, claro, dentro dessas condições trazidas acima, é julgado moralmente pela sociedade. 

Porque reiterando, a sociedade estabelece suas regras para além das postas em uma legislação. Com seus mecanismos de subjugar os indivíduos, e reverberando os pensamentos intrínsecos ao tempo-espaço. Assim, relaciona-se Alex ao Fato Social de Durkheim.

Dentro de seus inúmeros privilégios de homem branco, cis normativo e classe média Alex contempla esse perfil desenhado anteriormente: de um jovem adulto que se senti julgado e forçado a decidir precocemente seu futuro. Sem, literalmente, saber quais rumos deseja tomar para si,  sente-se deprimido, errado e não pertencido à uma sociedade que pede concretude, sucesso e rápidas decisões. É errado não querer seguir o certo? é uma das suas questões, por isso, são colocados alguns de seus versos, visando trazer eles até a  sociologia de Durkheim:

"So I find new sounds on a daily basis (então eu encontro novas músicas no dia a dia)
It's not difficult to listen on a daily basis, but (não é difícil ouvir no dia a dia)
Still question my existence on a daily basis (ainda continuo questionando minha existência no dia a dia)
Tie my shoes up on a daily basis (amarrar meus tênis no dia a dia)
Write my thoughts down on a daily basis (escrever meus pensamentos depressivos no dia a dia)
Worry about life (preocupar-se sobre a vida)
And wonder how many days I have left on this daily basis (e me perguntando quantos dias eu ainda tenho nesse dia a dia)
Sixteen years in so see all you're able to see (dezesseis anos, depois, o que você pode ver)
Sixteen years in because you'll never be free (dezesseis anos, porque você nunca será livre)" Curfew (álbum bcos u never i'll be free)


Nesse verso, pode-se analisar uma angústia de estar preso a algo supostamente invisível, que o impede de ser livre. De maneira que, a sociedade, isto é a capitalista, na qual ele está inserido, força condutas.


"But I didn't realize I ran from the light (mas eu não percebi, eu corri da luz)
And no one can save me, I'm bleeding (e ninguém pode me salvar, eu estou sangrando)
I do my best, but I rarely am a regular guy (eu faço o meu melhor, mas raramente eu sou um cara normal)
At least I've got 3-6-4 more days to get it right (pelo menos eu tenho 3-6-4 dias para acertar)" New House (single)

Aqui, Alex sente-se estranho, fora do molde padrão, e isso o  deprime. Porque não ser "comum", "normal"  é como viver com um ferida aberta. A coerção social é muito além de apontamentos, falas ou subjugar por meio da força física. Está também em não sentir parte daquilo, ser um vírus infectante ao organismo vivo.

"Swimming pools 
Rich youth and being cool (piscinas, juventude rica e descolada)
We didn't learn a single thing in school (nós não aprendemos, uma única coisa na escola)
But daddy already payed (mas, o papai já pagou)" Belly (álbum bcos u never i'll be free)

Por fim, o último verso escolhido, no qual pode-se relacionar com o papel da educação em forjar o ser social, pondo no indivíduo desde sua primeira infância até a adolescência as regras, as imposições de visões de mundo e comportamentos. Contrapondo, com o sentimento de vazio, de que essa passagem pelo meio acadêmico não deixa insumos, ou o constrói. Além, de mais uma vez, ser desenhado o modelo de "sucesso", com o qual ele não se sente identificado. 

Ao submeter um artista jovem, da pós-modernidade, com o qual bebe muito em um existencialismo à sociologia Durkheimiana, consegue-se extrair além do óbvio: um reflexo de uma constatação de quase dois séculos sedimentada pela sociedade capitalista.
Inferindo-se que quem se recusa, ou não se visualiza dentro das normas, as leis da plateia, recebe por consequência uma sensação de ser uma peça defeituosa em um quebra-cabeça perfeito. 

Isabella Barra Nova Uehara - 1a semestre Direito (NORTURNO)



Nenhum comentário:

Postar um comentário