domingo, 8 de agosto de 2021

CARTA DE DURKHEIM PARA ESPOSA

Para Louise Dreyfus


Hoje é dia 20 de setembro de 1900 e eu vi algo estranho, não sei explicar. 

Eu acho que tive um vislumbre do futuro…

O ano era 2021, as pessoas começaram a usar tijolos luminosos chamados celulares para se comunicarem, ouvirem músicas (sentiria tanta falta das minhas óperas de sexta-feira) e lerem por aparelhos chamados "kindle". Este último foi o que mais me impressionou, como eles conseguem ler sem papel? 

Sei lá, isso nem eu sei explicar, eu só sei dizer desumildemente que eu estava certo…os fatos sociais não ficaram no passado, mas tornaram-se uma realidade atemporal. 

Eu fiquei cerca de 2 dias naquela realidade e, nesse tempo, assisti um negócio colorido (tipo um cinema a domicílio)...era assustador, uma mistura de jornal com cinema, mostrava as notícias e eu vi um "influencer" "cancelado" porque falou mal de uma banda chamada BST...STB...BTS...algo assim. Eu vi uma mulher sendo espancada até a morte porque tinha sido alvo de uma Fake News. Eu vi uma mulher trans que morreu queimada pelo simples fato de ser quem era. Eu vi um garoto sendo cruelmente assassinado com um tiro na cabeça por ser gay. Eu vi...eu vi...eu vi, mas a única certeza que eu tenho é a da infelicidade do acerto. 

Também fui visitar uma conferência de professores universitários, me senti orgulhoso quando ouvi meu nome não sendo precedido por pensador, filósofo ou estudioso, mas por quem eu sempre fui, um sociólogo. Sempre quis entender o mundo social que me rodeia e passei anos fazendo isso, mas não consegui ficar feliz, porque se eu estou certo o mundo está realmente condenado, pessoas que se odeiam porque estão fora dessa onda do comum que conduz a sociedade. 

Além disso, "Para que houvesse pena, seria necessário pelo menos que houvesse alguma proporção entre o castigo e a falta, e, para tanto, seria necessário que o grau de gravidade desta última fosse seriamente estabelecido", lembro quando escrevi isso na página 86 do livro "Da Divisão do Trabalho Social"...por meio dela eu me convenci que o século XXI não rompeu de maneira tão absoluta com o passado. Naquela realidade futurista e paralela criou-se um negócio que eu ainda estou me esforçando para entender, a tal das redes sociais. 

São venenos? São coisas boas? Não sei dizer, a única coisa que tenho certeza é que elas validaram essa ideia...o "tuiter", uma espécie dessas redes, serve para as pessoas exporem suas opiniões e lá eu vi a destilação do ódio e uma coisa chamada cancelamento, onde pessoas que humanamente erraram perdiam fãs, dinheiro e prestígio em horas, a gravidade era aquela que o povo estabelecia. Eu lembro de ler sobre um goleiro que matou a esposa e voltou a ter prestígio, mas uma jogadora de vôlei que gritou "Fora Bolsonaro" (não sei quem é, mas a galera daquele período disse que ele é um desgraçado - deve ser líder de seita) e foi condenada a destruição completa, sem emprego e sem a possibilidade de um "habeas-corpus". As penas continuam sendo desproporcionais e a gravidade destas cabe a "nicknames" como @robertoboso22 @joaocristao e @gustavo534. Parece que o ruim só piorou.

Infelizmente, até o momento, essas foram minhas únicas percepções, acordei hoje suando e vim direto escrever pra tentar entender o que ocorreu. Eu só peço que não me chame de louco Louise, não é coisa só da minha cabeça. 




David Émile Durkheim




GABRIEL RIGONATO - NOTURNO (1º PERÍODO DIREITO)

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