segunda-feira, 9 de agosto de 2021

 Não há autonomia de escolha em nada que fazemos, usamos, vestimos, nos lugares que frequentamos. Em uma perspectiva mercadológica, acreditamos estar escolhendo produtos segundo critérios como qualidade e custo-benefício. No entanto, a realidade nos revela que, na ordem capitalista, os critérios são plantados pelas grandes empresas, e pouco valem para determinar o valor real do produto escolhido: o que importa é consumir. 

Essa ilusão de escolha que permeia a trajetória de cada indivíduo inserido na sociedade foi teorizada por Durkheim, com o nome de coerção. Segundo essa ideia, o ser humano é condicionado, antes mesmo do nascimento, a agir de certa forma para viver em sociedade. É quase como uma ordem, uma vez que não se sujeitar a ela torna a vida impossível. O exemplo em que me baseio é o uso da moeda: se eu, nascida no Brasil, não me sujeitar ao sistema de troca estabelecido no país, não consigo consumir itens fundamentais para minha subsistência. Assim, enquanto moro na cidade, é imposto a mim o uso de dinheiro para trocar por alimento, dinheiro esse adquirido por meio do trabalho. Esse ciclo assegura minha cidadania e meus direitos constitucionais, o que me leva a crer que segui-lo é uma ordem. 

O próprio capitalismo se sustenta sobre essa lógica quando as grandes empresas promovem a ilusão de escolha: você é livre para economizar e direcionar sua renda, mas só com o que fornecemos. Não importa a marca de computador que eu escolho, ainda assim vou alimentar empresas responsáveis pela concentração de renda da qual a sociedade é vítima. No entanto, se não comprar um computador, minha formação universitária é comprometida e, por consequência, minha inserção no mercado de trabalho também; como não posso optar por não entrar no mercado de trabalho, automaticamente sirvo como uma ferramenta para a perpetuação do ciclo criado pelo sistema econômico.

Em suma, a coerção, que se manifesta para perpetuar o capitalismo, o faz da mesma forma em outras perspectivas, como o gênero, a sexualidade, a maternidade, tudo para manter uma estrutura patriarcal. Por isso, a ruptura com esses modelos é tão complexa: o processo de tomar consciência da falta de autonomia é o primeiro passo; entretanto, trata-se de uma ordem desenvolvida por inúmeras gerações, que tende a mecanizar essas ideias. Além disso, como trata-se de um fenômeno coletivo, é essencial que uma parcela significativa da sociedade tome essa consciência e busque meios para sair desse estado de manipulação.


Aqui, um exemplo da ilusão de escolha, sobretudo no capitalismo.

Ana Clara Alves Gasparotto - 1o semestre de Direito Matutino


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