segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A volatilidade da palavra

  Escrever não é fácil. Expor uma opinião acerca de qualquer assunto nos dias de hoje, menos ainda. O que é hoje, pode não ser amanhã, o que segue determinado caminho agora pode não estar no mesmo curso até o fim do dia. Talvez essa mesma rapidez, essa mesma volatilidade, tenha tornado mais fácil escrever para o outro, para quem me lê através de uma tela e em cinco minutos já estará lendo outro texto. O que terá absorvido daqui?

Qual a importância de uma palavra? Não ela em si, mas a sua duração quando tudo o que nos rodeia parece fumaça. A atualização do feed ou próxima postagem na barra de rolagem que você lê enquanto se pendura na barra do ônibus? A sucessão de notícias no jornal da tarde que se assiste enquanto se come correndo nos seus 15 minutos de almoço, ou no da noite que os olhos pesam de exaustão? Ou os trinta minutos daquele podcast que você ouve enquanto lava a louça, arruma a casa, corre na esteira da academia...?

 As mídias sociais são talvez o mais claro reflexo do que somos hoje como sociedade. Tudo passa muito rápido, uma notícia se sucede a outra, a conexão com o que se lê é curta e o pensar não dura mais que os poucos segundos ou minutos de leitura do texto. Somos bombardeados com uma infinidade de informações que se perdem nos deveres diários, nossas relações com tudo o que nos rodeia acabou se tornando tão volátil quanto as redes sociais. Uma notícia se resume ao título, um livro ao resumo, um vídeo aos 60 segundos do tiktok ou 15 segundos dos stories, o trabalho à próxima porca a se apertar.

 Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, cunhou a expressão "Modernidade líquida" para caracterizar uma sociedade cujo comportamento está atrelado a globalização, internet e ao consumo. Em uma entrevista, Bauman diz que "viver sob pressão de mudanças constantes e, em geral, imprevisíveis favorece uma cultura de esquecimento, em vez de uma cultura do aprendizado e da lembrança". É essa liquidez, como ele chama, que se expressa em diversas relações que exercemos às vezes sem perceber, ditadas pelo tempo cada vez mais curto e um pensamento cada vez mais individualista. Não construímos relações sólidas, não pensamos no coletivo e dessa forma estabelecemos abismos cada vez maiores entre as classes e entre nós mesmos.

 Essa sociedade do consumo que vivemos adoece cada vez mais rápido. Um dia de 24 horas já não parece suficiente para tudo o que é preciso fazer, nos tornamos ansiosos e culpados por já não conseguirmos consumir notícias na velocidade que são produzidas, trabalhamos para acompanhar as tendências do mercado e baseamos nossa felicidade naquilo que adquirimos. Nesse contexto de liquidez, de consumo e produção desenfreados, nem mesmo as palavras ditas são duradouras, somem no ar como fumaça, como a nossa memória e as nossas relações.

Jordana Queiroz Dias. Turma XXXVIII, 1 semestre - Matutino.

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