segunda-feira, 5 de julho de 2021

O anacronismo da produção

 

   Entre os séculos XIV e XV ocorreu o Renascimento Cultural e, com isso, uma grande crise no sistema medieval. A população, que antes sentia-se protegida por um modelo geocêntrico, no qual colocava o homem e a Terra na centralidade de um universo finito caia em terra com o surgimento do heliocentrismo de Nicolau Copérnico e, com isso, toda uma visão de mundo, levando a uma grande crise existencial. A existência já não mais era explicada e justificada pelos modelos existentes. Aquilo que era tido como verdade tornou-se duvidoso.

   Com isso, teve início duas correntes filosóficas, o Empirismo e o Racionalismo, as quais buscavam, por meios diferentes, um conhecimento verdadeiro; um conhecimento sólido, uma vez que as estruturas existentes já não eram suficientemente sólidas para sustentar a vida. Dois expoentes dessas escolas, Francis Bacon e René Descartes, respectivamente, reconheceram essa ruptura e buscaram métodos para tal resposta. Dessa mesma forma, Sonia Hoffman, cientista do filme “Ponto de Mutação” percebe que o sistema atualmente vigente, e oriundo do pensamento de Bacon, já não era sustentável para o mantimento do planeta

  A celebre frase de Francis Bacon “Conhecimento é poder” foi muito relevante no decorrer dos séculos, mudando a visão de ciência existente além de sustentar o ideário da Revolução Industrial. Segundo a visão boconiana, cabe ao homem, por meio da razão, submeter a natureza ao seu poder, levando a humanidade ao progresso. Todavia, essa visão não lavava em consideração as limitações do ecossistema. Justamente esse aspecto da natureza é colocado em discussão pela cientista, que enxerga a destruição causada por um sistema capitalista, arrogante e egoísta.

   Todavia, essa visão não se afasta muito da realidade atual. Recentemente, em diversas partes do mundo observou-se o desmatamento de grandes florestas equatoriais, vazamentos de petróleos; uma abrupta crise ambiental de modo geral e âmbito global. Pode-se perceber, então, a forte permanência do ideário beconiano e da primeira fase da Revolução Industrial, mesmo após três séculos.

   Desse modo, mesmo com uma forte revolução dos meios tecnológicos e científicos, há o mantimento dessa visão degradante de produção por meio do qual o mundo capitalista se desenvolveu e, mesmo havendo, nas últimas décadas, conferências a fim de solucionar e mitigar os malefícios ambientais, por meio de políticas, as quais algumas mostraram certo resultado, não é o suficiente. Isso, por sua vez leva o questionamento: as políticas adotadas por diversos países não demonstraram grande efeito pois são insuficientes ou a forma com que o modo de produção capitalista ainda se desenvolve de maneira insustentável?

   A resposta, na realidade, é a união de ambas as possibilidades. Da mesma forma que as políticas objetivadas não sejam suficientes para mitigar os danos causados por séculos de destruição ambiental na velocidade necessária devido à crítica situação na qual o ecossistema se encontra, os paradigmas pelos quais o mundo se desenvolve e produz já não condizem com a situação global.

   Mesmo com uma produção maior que qualquer outra antes já vista, com equivalente geração de lixo, é notável que o acesso a tais produtos está no controle de um seleto grupo privilegiado, sobretudo pertencentes a países desenvolvidos e, quando presente em países pobres, a desigualdade é ainda mais gritante. Dessa maneira, enquanto uns consomem exponencialmente mais do que necessitam, outros vivem em condição de indignidade e desnutrição.

   Portanto, tal qual defendido pela cientista do filme, para que haja a sustentação do mundo como o conhecemos, é necessário que haja uma mudança de referenciais; uma mudança da visão de mundo. Entretanto, isso deve ocorrer de modo unificado, em todas as camadas sociais e produtivas, isto é, caso ocorram de modo fragmentado, não haveria nenhuma mudança significativa, pois, o mundo e a vida social e econômica se sustentam e devem estar em consonância para que funcionem da maneira que deve, uma vez que “nenhum santo sustenta-se só”.


Vítor Salvador Garcia Lopes - 1º Ano Diurno 

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