segunda-feira, 5 de julho de 2021

A importância de ouvir

Nota-se que, principalmente no decorrer da última década (leia-se: 2.011 a 2.020), a espécie humana, claro que não em sua totalidade, esteve tomada por uma vontade imensa de estar certa quanto ao que se diz; por tabela, percebe-se também o desejo incontrolável de que o outro, caso pense diferente, esteja errado. Isso é consequência, em grande parte, do avanço dos meios de telecomunicações, através dos quais toda e qualquer informação pode ser confrontada de modo instantâneo, sem que necessariamente seja empregado o mínimo bom senso ao se fazer a referida contestação.

Mas o que é o certo? E o errado?

Caso houvesse maior disposição para ouvir um ponto de vista dissonante ao que se tem, em detrimento de querer sair como certo em uma discussão, o aprendizado seria maior, visto que ocorreriam mais trocas, ou seja, diferentes experiências de vida seriam compartilhadas. O conhecimento de que se dispõe hoje é resultante da união de distintas formas de agir, pensar e escrever que se deram ao longo do tempo; e essa união possibilita o desenvolvimento de todas as esferas do conhecimento... Como exemplo desse processo, tem-se: no campo matemático da Probabilidade, é aprendido que dois eventos não são mutuamente excludentes se eles podem ocorrer ao mesmo tempo; mas esse conceito também é aplicável quando se estuda a Genética, parte fundamental da Biologia.

O âmbito universitário, agora restringindo a análise ao Brasil, é outro modelo de que a diversidade, seja ela cultural, ética, política, por parte do corpo docente e do discente, contribui de forma positiva para a edificação do conhecimento. A história de uma universidade foi construída por pessoas bastante diferentes que viviam em um mesmo ambiente, debatendo sobre os mesmos assuntos, mas analisando-os através de olhares distintos, sendo que, por trás de cada olhar, havia uma história de vida única... E nem por isso a universidade “deu errado”.

Partindo desse modo de enxergar as situações, fica mais suavizado o estudo das aulas 2 e 3 do curso de Introdução à Sociologia, cuja temática gira em torno de modos divergentes de ver a produção do conhecimento, porque essa visão de mundo exime o leitor de “tomar partido” de uma das teorias lidas ou assistidas, e sim o direciona para um olhar mais acolhedor, aberto a diferentes pontos de vista, sem se preocupar em definir qual está certa e qual está errada, como se essa distinção fosse simples assim de ser feita, aliás.

A perspectiva apresentada por Francis Bacon, em seu livro Novum Organum (1.620), é vinculada ao método Empírico-Indutivo, através do qual se induz a ocorrência de um evento que se deseja estudar e, a partir de experimentos feitos com esse evento, o conhecimento é produzido. Portanto, Bacon atribui muito valor à experiência, ao olhar, ao toque, fazendo uma grande revisão do conhecimento que vigorava até então, representado, principalmente, pela filosofia Escolástica, influenciada, a título de exemplo, por Aristóteles.

René Descartes, apesar de, assim como Bacon, também estar disposto a questionar a tradição, propunha outra maneira de fazê-lo, como se percebe em sua obra Discurso do Método (1.637). Descartes, conhecido pelo método do Racionalismo, propunha a criação de uma nova ciência, que seria única e universal. Fazia isso buscando um fundamento único para todos os conhecimentos, tendo a dúvida como recurso para a busca da verdade; o método de Descartes, portanto, é o método da dúvida... É preciso, em um primeiro momento, duvidar de tudo. Para ele, esse era o método que conduzia sua razão na busca do que era verdadeiro. Procurava uma certeza que resistisse a qualquer dúvida, e a encontrou: “Eu penso, logo existo”, escrevendo que esse era o primeiro princípio da filosofia que ele pretendia criar.

No que tange ao filme Ponto de Mutação (1.990), de Bernt Capra, também constatam-se maneiras dissonantes de enxergar a vida. Uma física, um poeta e um político dialogam sobre o mundo e as múltiplas maneiras de se produzir conhecimento. A maior parte do filme gira em torno do que a física Sonia Hoffman argumenta, demonstrando uma visão mais consciente e sustentável sobre os problemas mundiais. Jack Edwards, o político, mantém-se durante boa parte do filme relutante quanto às contundentes afirmações de Sonia; mas, percebe-se que, conforme ele vai aceitando mais as ideias da física, seu semblante muda... Jack fica mais aberto ao que lhe é antagônico, retrucando menos e mais disposto a ouvir. Thomas Harriman, o poeta, fala menos, mas não se omite! É no desfecho do filme que ele discursa de maneira mais longa, quando diz aos seus interlocutores Sonia e Jack: “Vocês errarão se esquecerem-se de que a vida é infinitamente mais do que as suas ou as minhas obtusas (limitadas) teorias a respeito dela. Sentir o Universo é um trabalho interior.” Thomas, portanto, elucida a ideia apresentada no terceiro parágrafo deste texto, cujo ponto central é o respeito às mais variadas maneiras de se enxergar os acontecimentos.

Decerto, enquanto o subtrair vencer o adicionar, será mais difícil construir conhecimento, por mais variados que sejam os métodos conhecidos.

 

Aluno: Marcos Tadeu Gaiott Tamaoki Junior

Curso: Direito (noturno)/2.021

Termo: Primeiro

Turma: XXXVIII.


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