domingo, 4 de julho de 2021

A humanidade dominou a ciência ou a ciência dominou a humanidade?

 

A epistemologia, também conhecida como Teoria do conhecimento, é um ramo imprescindível da ciência moderna que estuda como o ser humano adquire e justifica seus conhecimentos. “Como sabemos a verdade?” “Como adquirimos este conhecimento ou afirmação?” Estas são algumas das questões que a epistemologia busca solucionar. A saber, a religião foi a primeira forma de conhecimento estabelecido pela sociedade, este conhecer possui como fundamento a providência dívida. No entanto, ao partir para a modernidade, pode-se perceber a existência de duas bases epistemológicas principais e distintas, a empirista e a racionalista.

Ao analisar a corrente empirista, percebe-se que Francis Bacon foi um dos grandes precursores do pensamento, tendo desenvolvido um novo método de análise e interpretação da realidade humana. A filosofia empírica do autor busca encontrar por meio da experiência as condições necessárias e suficientes para o resultado de uma afirmação verdadeira. Em contrapartida, Descartes debruça sobre uma perspectiva racional para encontrar a veracidade.

No entanto, ao analisar a prerrogativa dos autores pode-se perceber que ambos concedem a finalidade última da ciência: superar a forma de conhecimento vigente e instaurar um conhecer capaz de propiciar uma transformação social. Contudo, muito desse conhecimento moderno proposto por esses autores, será utilizado pelas elites e classe burguesa como um instrumento capaz de dominar econômica e politicamente.

Ao fazer uma análise nem tanto minuciosa sobre a realidade humana, pode-se perceber a existência de um completo paradoxo. Nós enquanto humanidade fomos capazes de desenvolver uma ciência extraordinária, apta a levar o homem à Lua, apta a descobrir doenças antes incuráveis como o câncer, apta a desenvolver um sistema altamente desenvolvido de comunicação instantânea e global. Mas, em contrapartida, nossa ciência não conseguiu (ou não quer) resolver o problema da fome mundial, das guerras, a questão do acesso à moradia para todos, da saúde acessível para todos. Chega a ser irônico pensar que nossa humanidade destina quase que completamente sua atenção para a questão de desenvolvimento nuclear e bélico, mas fecha os olhos para as questões sociais que são consideradas fundamentais para qualquer indivíduo, mas que nem todos possuem. 

Como chegamos ao ponto de uma ciência que leva o homem ao espaço, mas que não soluciona o problema da fome? Como chegamos ao ponto de desenvolver uma ciência predadora que destrói um dos meios mais necessários para a manutenção da vida humana, que é a natureza? É claro que não se pode negar os benefícios trazidos por esse conhecimento científico. No entanto, pode-se comparar a ciência a um remédio, que quando usada de maneira desmedida e desmensurada, ela é prejudicial ao usuário. A diferença é que a ciência pode ser prejudicial para uma sociedade inteira ou até mesmo para o mundo inteiro, pois assim como mencionado no filme Ponto de Mutação, “ninguém é uma ilha, todo homem faz parte do continente”. Em outras palavras, somos todos parte de uma teia inseparável de relações.

Lastimavelmente, assim como mencionado na obra cinematográfica, a humanidade vive uma crise de percepção. A ciência moderna, a tecnologia, os negócios torturaram o nosso planeta. É a velha ideia patriarcal do homem dominando tudo. É como se a natureza funcionasse feito um relógio - você a desmonta, a reduz a um monte de peças simples e fáceis de entender. As coisas mudam tão rápido nas mãos do homem. A natureza se fragiliza, a chuva torna-se ácida. No entanto, precisamos de uma nova maneira de entender a vida, precisamos de uma nova visão do mundo. Não podemos mais nos esquivar, não podemos correr o risco. Precisamos encorajar a humanidade a buscar a prevenção, não somente a intervenção.

            Bacon, mencionou em seus escritos a seguinte sentença: “Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece”. Essa afirmação é muito relevante para os tempos atuais, no qual a humanidade vive uma crise sem precedentes na saúde pública mundial. Um microrganismo, que ainda é debate dentro da comunidade científica acerca da sua característica como ser vivo ou não, está assolando o mundo, causando centenas de milhares de mortes, intensificando a fome, intensificando o desemprego e intensificando o sofrimento humano. Enquanto isso, temos a ciência em mãos e capacidade suficiente para desenvolver tecnologias altamente avançadas para minimizar MUITAS mortes. Mas, ao invés de juntar forças e impedir a destruição da humanidade, somos suficientemente egoístas ao ponto de iniciar uma corrida contra o tempo para ver quem desenvolverá o melhor método de tratamento ou a melhor vacina. Somos suficientemente egoístas para iniciar uma briga geopolítica e se beneficiar com a crise de mortalidade mundial. Não sei, “Talvez sejamos atraídos pela morte, como lobos por cordeiros”.

Lívia Gomes - direito noturno 

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