domingo, 4 de julho de 2021

A dicotomia contemporânea: entre o antropocentrismo e o ambientalismo

  

Há cerca de quatro séculos, Descartes e Bacon criticavam em suas obras a ciência promovida pelos filósofos da Grécia Antiga, uma vez que, tratava-se de um conhecimento de motivação egocêntrica, repleto de palavras e reflexões, contudo carente de verdadeira mudança social. Nessa perspectiva, os cientistas modernos incentivavam uma produção de saber crítica e metodológica com resultados que beneficiassem a humanidade, evidenciando um pensamento antropocêntrico, o qual, aliado ao sistema econômico vigente no período hodierno, acarreta danos catastróficos ao meio ambiente. 

Primeiramente, a ciência moderna proposta por Descartes e Bacon, apesar de bem intencionada, apresenta falhas, sendo uma delas a negligência voltada a seres não-humanos e ao âmbito o qual os abriga, revelada na alegação baconiana de que “A natureza devia ser caçada, posta para trabalhar, escravizada.”. Dessa forma, nota-se um antropocentrismo excessivo, que emprega uma postura exploradora em relação ao ambiente natural desde a ascensão do capitalismo. A exemplo disso, no século XIX, o contexto da Primeira Revolução Industrial fez com que potências europeias instalassem nos continentes África e Ásia um regime neocolonial, motivado pela busca predatória de matéria prima para alimentar suas indústrias. Portanto, a concepção dos cientistas modernos é agressiva perante à natureza.

Em concomitância, o longa metragem “O ponto de mutação”, baseado no livro homônimo de Fritjof Capra, evidencia essa crítica aos pensamentos cartesiano e baconiano a partir da ótica da personagem Sonia Hoffmann, a qual relata sua experiência como cientista, bem como, exalta a necessidade da ética no trabalho científico, na tentativa de evitar danos socioambientais. Assim, o filme eleva a ideia de “ciência em prol da humanidade” ao patamar de “ciência em prol do planeta”, discutindo a necessidade do pensamento ecológico aliado à transformação proposta por Descartes e Bacon. 

Em suma, a racionalidade em favor da mudança sugerida pelos filósofos da modernidade tem seu valor, porém está sujeita à crítica, tal que, à adaptação ao cenário atual, visando a um “bem” não somente do homem, mas, sim, da Terra que o contém, reduzindo a devastação ambiental através de uma ciência ecológica, como ilustrada em “O ponto de mutação”. 

Caroline Migliato Cazzoli - Direito Matutino - Turma XXXVIII


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