segunda-feira, 28 de junho de 2021

A revisão da política de cotas: uma análise histórica do racismo brasileiro

 Durante o século XVIII vigorou no meio científico o que se convencionou chamar de “Darwinismo social”, um conjunto de teorias científicas absurdas que, baseando-se na teoria evolucionista de Darwin, tentavam comprovar a superioridade da raça branca perante as outras raças. Tais teorias justificaram o imperialismo europeu nos continentes africano e asiático, além de promover, entre outros desastres, o racismo nos países de passado escravista, como Estados Unidos e Brasil.

 Nesse período,  Brasil era ainda uma nação escravista, que tinha o serviço de negros escravizados como mão de obra nas lavouras de café. Porém, no ano de 1888, período no qual essa corrente “científica” era não só tida como verdadeira mas também era utilizada para justificar as mais abomináveis ações do homem branco frente a outros povos, a abolição da escravatura foi outorgada pela princesa Isabel, decretando, em fim, a liberdade de todos os negros no Brasil, uma conquista extraordinária para tal etnia. No entanto, a liberdade dada ao negro não veio acompanhada de medidas de integração do mesmo à sociedade, muito menos atuou amenizando o racismo, preconceito alicerçado na época pela ciência.

 O preto no Brasil continuou a ser vítima do racismo, devido a sua natureza “subumana”, antes justificada pela religião e agora, pela ciência. Além disso, sua não integração à sociedade o levou a ser marginalizado, sofrendo do desemprego e sendo obrigado a viver em habitações precárias.  Com isso, aquele contingente de pessoas afrodescendentes, que não tendo para onde ir nem como se sustentar, viam--se com vidas miseráveis e sem moradias devidas.

“O cientificismo é uma crença irracional na verdade da ciência…Tornou-se uma religião hoje em dia.”: essa frase, dita pela cientista Liv Ullmann, personagem do filme “Ponto de mutação”, sintetiza bem a visão que se pode ter da ciência, que quando guiada erroneamente, é capaz de criar catástrofes, guerras, e perpetuar os preconceitos.

 No entanto, ao analisar Descartes, pode-se perceber que há formas de se guiar a ciência de maneira benéfica a todos. O método científico defendido pelo mesmo na obra “Discurso do método” tem por finalidade formular uma metodologia científica que buscasse a verdade, mediante o uso das faculdades da razão, a fim de discriminar o verdadeiro do falso. A primeira das quatro leis desse método Cartesiano postulava que o ser não deveria assumir nada como verdadeiro, enquanto aquilo não fosse comprovado empiricamente e por meio da razão. Assim, por meio do método cartesiano, "pré-noções", que afastam o ser humano da verdade seriam superadas, e a verdade seria finalmente alcançada de maneira sistemática e sem erros no processo.

 Assim como Descartes, Bacon também defendia uma ciência empírica, que pautava-se na experiência metódica e sistemática como forma de se obter verdades. Esse pensador, em sua obra “Novum Organum”, defendia que as “antecipações da mente”, inverdades convenientes e aceitas por todos, afastavam o homem da verdadeira ciência, a qual deveria pautar-se em bases sólidas.

 O “Darwinismo social”, assim como o racismo em si, são "pré-noções" que falham quando analisados sob a ótica dos métodos Cartesiano e Baconiano, pois são sustentados por mentiras convenientes aos homens brancos da época, os quais pautaram a sua ciência com os fins de dominar outras raças. Infelizmente, o erro da discriminação racial postergou até os dias atuais, e deve, portanto, ser combatido o mais rápido possível, para que de fato as superstições sejam superadas e a ciência possa servir ao bem da humanidade, assim como Descartes desejava.

 Por fim, tendo traçado o contexto histórico e o pensamento desses cientistas e filósofos, cabe a afirmação que a revisão da política de cotas, prevista para o ano de 2022, mostra-se preocupante não só por, possivelmente, restringir o acesso de etnias historicamente oprimidas às universidades, um retrocesso absurdo no combate a desigualdade racial no país, como também pode representar um obstáculo à luta do povo brasileiro contra o racismo estrutural, arraigado na sociedade brasileira.

André Macedo Daleck-1º Ano Diurno

Um comentário:

  1. Contextualização histórica cirúrgica, faz-se necessária a revisão para a correção dos erros desumanos cometidos...

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