sábado, 22 de agosto de 2020

Xingamentos marxistas e o esclarecimento da população

“Esses estudantes das universidades públicas são todos marxistas!” e cá estamos dissertando sobre isso. Tal temática tem como crítica a idealização de ideias, o que acaba sendo contraditório ao chamar-nos dessa forma, como se ajoelhássemos todos os dias em frente a um altar com a foto de Karl Marx, Friedrich Engels e outros autores importantes dessa linha de pensamento, como Robert Owen ou contemporâneos como Silvia Federici 

Por isso, noção dessa teoria deve ser entendida e estudada racionalmente - assim como todas - a servir, principalmente, como uma ferramenta para o entendimento da sociedade, baseada na compreensão materialista da história. Tal análise encontra subsídios em sua aprovação desde o neolítico, quando as primeiras produções oriundas da sedentarização humana e cultivo agrícola foram estocadas, a gerar uma desigualdade que, porventura, resultou no acúmulo de poder daqueles que detinham mais alimentos sobre outros, a ficarem subservientes por uma necessidade de sobrevida. Assim, com o tempo, a humanidade, numa visão Hegeliana, ia se contradizendo e se dinamizando, dadas as tensões e conflitos que resultavam numa nova realidade. Com isso, a dialética platônica, utilizada nessa análise, acaba por também tangenciar tal tema, uma vez que reafirma o pensamento do materialismo histórico ao ter a síntese dessa nova realidade histórica como a luta entre a tese e a antítese, gerando tal evento a partir de contradições e complementações. 

Logo, passando pela Roma antiga, são vistas oposições entre homens livres e escravos que resultaram no Feudalismo, com seus senhores feudais e servos também antitéticos, a gerar o gérmen do Capitalismo, com sua máxima inequidade entre a burguesia e o proletariado. Dadas as exemplificações, é nítido como a sociedade sempre se compôs, sendo as relações de produção aquelas que definem a posição do indivíduo na sociedade, refletidas na organização da vida social e isso é fato, não qualquer achismo.

E, com isso, é possível permear a realidade brasileira, entendendo o seu âmago de país subdesenvolvido latino-americano, cuja jovem democracia ainda é arrastada em desigualdades e ainda latente naquele velho coronelismo. Portanto, a questão de Infraestrutura econômica cede a todos os âmbitos civis, políticos e culturais seus valores, explicitando como, ao ter desigualdade na infraestrutura – capitalista -, haverá também na Superestrutura, como reflexo dessa. Por isso, direitos políticos, acesso à cultura, à saúde e à educação são tão desiguais, a revelar como essa democracia, ao defender questões liberais, acaba coagindo o impedimento de ascensão e emancipação do povo a partir, principalmente, da Educação e do Direito, posto que o poder sempre pertenceu, majoritariamente, às elite, que se beneficiaram historicamente dele e nunca tiveram pretensão alguma de perder seus privilégios de classe dominante. A realidade brasileira é árdua, uma abertura de olhos extremamente dolorida, mas necessária, ainda mais quando encontramos um abismo social exponenciado pela globalização, como os 27 anos de diferença entre as expectativas de vida de bairros com poucos quilômetros de distância (Cidade Tiradentes e Moema), dado o Mapa de Desigualdade de São Paulo.  

Assim, a mudança por uma melhoria holística não virá conforme as coisas têm se perpetuado neste país. Ela deverá vir a partir da base, mas isso parece ficar mais difícil a cada dia, com governos neoliberais cujos recursos baseiam-se em cortes orçamentários e privatizações imperativas, colocando a economia acima da Lei, em que alguns acabam sendo mais livres que outros, mantendo populações que são cotidianamente esmagadas por essa suposta liberdade. É livre pra dormir na rua, livre para passar fome, livre pra morrer por falta de condições materiais. Qual é dessa tal de liberdade que parece amarrar e abafar o grito ainda mais? Darcy Ribeiro, com sua famosa frase sobre crise da educação brasileira como um projeto expõe nada mais que a constante opressão da tese sobre a antítese. Até quando esperaremos pela síntese, então?


Anita Ferreira Contreiras - 1º ano Direito - Noturno

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