segunda-feira, 10 de agosto de 2020

 

Um Por Todos, Todos Por Um: como o famoso lema dos 3 mosqueteiros explica a lógica de Durkheim



Em 1844, mais de dez anos antes de Durkheim nascer e quase cinquenta anos antes da publicação de Da Divisão do Trabalho Social, Alexandre Dumas publica um de seus livros mais famosos: Os Três Mosqueteiros. O romance, apesar de sua permanência como ícone da literatura francesa, é uma típica história de cavalaria, onde quatro amigos enfrentam várias aventuras a serviço da coroa francesa – tendo como sua mais importante mensagem a lealdade entre os quatro amigos. Dessa lealdade vem o lema “um por todos, todos por um” que acaba definindo a história e também exemplificando, de uma forma redutiva, o conceito de fato social e solidariedade de Durkheim.

Entenda, o objetivo máximo de Durkheim era a institucionalização da sociologia como ciência, mas, para que isso aconteça é preciso que, inicialmente, se estabeleça qual o objeto de estudo dessa ciência. E se para a física mecânica o objeto de análise é o movimento, para a sociologia o objeto de análise é o fato social. A definição desse fato social e a compreensão de seu poder de coerção sobre os indivíduos se torna, então, o próprio fazer sociológico.

Durkheim critica a análise ideológica e metafísica de Comte, pois este observa a sociedade sobre a lente do progresso e não pelos próprios acontecimentos, causando um viés de confirmação em sua análise. Para ele, o fato social deve ser estudado por si só, como algo que é independente do indivíduo e resulta na sua conduta em sociedade. O fato social, então, é unânime ao indivíduo e apenas identificado quando há resistência contra o qual, pois a sua própria função de evitar a anomia só é realizada quando indivíduos acreditam que essas escolhas e opiniões são pessoais e não coletivas.

A resistência a um fato social é confrontada com punição pois a manutenção da coesão é o modus operandi do fato social, já que seu propósito de existência é essa repressão em si, que orienta a dinâmica social. Então, por exemplo, se o objetivo máximo de viver em um coletivo são as melhores chances de sobrevivência, o fato social torna a morte e o assassinato algo moralmente repreensivo - para evitar essa anomia que arriscaria esse objetivo. Isso significa, portanto, que se algo é mensurável como uma estatística (casamento, suicídios, nascimentos etc) este se define como uma materialização de um estado e/ou condição coletivo, e não apenas individual.

O que nos leva, finalmente, ao ponto do texto: unos pro omnibus, omnes pro uno. Na sua concepção inicial, é escrito para representar a lealdade que um grupo de pessoas tem entre si, mas eu proponho a aplicação de uma lente durkheimiana sobre a frase. Não seria a própria existência e definição do fato social uma forma de lealdade? Já que o todo social compõe o indivíduo e o transforma (vide, todos por um) através do que Durkheim acaba chamando de solidariedade, ou seja, a manutenção – mesmo que repressiva – da coesão social.

E, não seria essa própria coesão, convencionada por indivíduos que formam o grupo (vide, um por todos), mesmo que indiretamente? Afinal, os fatos sociais e a definição do que é aceitado e do que é reprimido pelos quais, se transformam com o tempo e com a localidade da cultura. Se os sentimentos e pensamentos comuns são frutos de uma orientação da dinâmica social e esses sentimentos em si são perceptivelmente mutáveis com o tempo (a variação estatística de casamentos, de suicídios, de natalidade etc) então há uma forma de controle – mesmo que mínima – sobre essa coesão. Pois para que cada um seja arrastado por todos, todos devem arrastar cada um.


Isadora Lima Ribeiro - 1o Semestre - Direito/Noturno

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