terça-feira, 4 de agosto de 2020

O impacto da ascensão das milícias no funcionalismo da sociedade

De acordo com o Disque Denúncia, entre os anos de 2016 e 2017, mais da metade de ligações anônimas que delatavam sobre organizações criminosas no estado do Rio de Janeiro, referiam-se as atividades ocasionadas pelas milícias. Ademais, esses grupos são conhecidos pela composição de ex-policiais ou militares que cuidam da manutenção da segurança de maneira ilegal em cidades e bairros (boa parte também em periferias) que apresentam a ausência de um poder público ou de fato a negligência do governo, e utilizam-se da extorsão de serviços e do comércio para garantir uma falsa defesa social.

Em primeira análise, ao comparar esse domínio de milícias e o controle exercido por essas corporações na sociedade contemporânea com a teoria do funcionalismo elaborado por Émile Durkheim, é perceptível uma falha no modo funcional do corpo social, que distingue do que o sociólogo defende como ideal para evitar a anomia. Isso porque, o grupo que realmente tem o papel de garantir a segurança da comunidade segundo a Constituição mostra-se insuficiente, ao ponto de ser substituído, por grupos que ao violarem o que a lei determina e ocupar uma posição o qual não possuem legitimidade, fragilizam a coesão social.

Em segunda análise, é nítido como essas organizações afetam o funcionamento da sociedade de maneira negativa, visto que ambientes governado por milícias devem seguir normas paralelas ao que de fato a juridicidade determina. Desse modo, a presença de tais organizações incita indiretamente a coletividade a romper com o pacto social de operar mutuamente seguindo as leis que permitem o convívio em harmonia dos indivíduos. Por conseguinte, o princípio da solidariedade orgânica proposto por Durkheim, pode ser aplicado nessa ascensão das milícias, visto que com o maior desenvolvimento de consciências individuais, passa a ser questionado a efetivação jurídica, influenciando essas corporações a construírem uma nova legislação (popularmente conhecida como “regras da rua”) de acordo com seus interesses que será instituída em determinada área, destoando com esse equilíbrio.

Portanto, essa banalização da desordem e a negligência por parte do poder público de modo a não conter as milícias prejudicam o progresso e a efetivação do direito penal na sociedade brasileira, e particularmente no Rio de Janeiro. Para tanto, essa impunidade de tais organizações da milícia pode causar a desintegração social. Entretanto, na perspectiva de ampliar e construir uma coesão social é viável a implantação de políticas públicas que possam reverter esse cenário, oferecendo oportunidades a populações mais carentes para que esse ciclo - principalmente de jovens em posições subalternas que geralmente são os sujeitos punidos e não fazem diferença nesse sistema corrupto- consiga ser reduzido, a fim de que se rompa definitivamente.

REFERÊNCIAS


VITÓRIA DAYUBE BARBOSA- 1 ANO NOTURNO

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