segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Moderno, mas Primitivo

Moderno, mas Primitivo

No final do século XIX, mais precisamente no ano de 1895, Émile Durkheim publicou sua obra: “As Regras do Método Sociológico”. Neste livro, o autor propõe à sociologia um novo objeto de estudo, o “fato social”. Durkheim define seu objeto da seguinte forma: “É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”. Há, também, um outro conceito que precisa ser explicado, a “solidariedade mecânica”, definida pelo autor como uma consciência coletiva, que, intrinsecamente, estabelece padrões de conduta, comportamento e mentalidade e, desse modo, formas alternativas à essas são vistas como ameaça pelo grupo dominante que estabeleceu os padrões.

Tal “solidariedade mecânica” seria predominante nas sociedades pré-modernas, como afirma o autor. Mas, aparentemente, se fizermos uma análise precisa de nossa realidade atual, podemos enxergar que esse conceito não está tão distante assim. Proponho, dessarte, uma retomada histórica: voltemos ao período da escravatura, no qual se um escravo desobedecesse alguma norma imposta pela Casa Grande, o “fato social”, sofreria o que definimos como “castigo exemplar”, uma punição física realizada a frente dos demais escravos para gerar uma coerção psicológica nos mesmos e, assim, sentindo-se ameaçados, não repetiriam o ato. Eis, então, a “solidariedade mecânica”, que estabeleceu os padrões de conduta a serem seguidos pelos escravos e toda e qualquer subversão a esses padrões seria reprimida duramente pelo grupo dominante branco.

Terminada essa proposta, voltemos à atualidade. Na sociedade contemporânea, os padrões conservadores e tradicionais ainda exercem uma coerção colossal sobre a vida dos indivíduos, um “fato social” ainda muito presente. Peguemos de exemplo, agora, os indivíduos pertencentes à comunidade LGBT+; todos os dias são alvo de homofobia, seja ela psicológica e/ou física, caracterizando, assim, a coerção exercida pelo “fato social” dos padrões tradicionais. Tal homofobia é o melhor exemplo que consigo imaginar para ilustrar a “solidariedade mecânica” em nossa realidade, quando um homossexual é linchado por um grupo de pessoas em prol da não subversão dos padrões conservadores impostos pela elite branca, isso é mais que autoexplicativo.

Portanto, infelizmente, ao analisarmos nossa realidade contemporânea, tendemos a querer nos definir como super desenvolvidos e modernos e, em partes, isso é verdade no campo tecnológico-cientifico, mas nem um pouco no campo social. Ainda precisamos evoluir muito conceitos como respeito e tolerância, pois só assim deixaremos de ser uma sociedade primitiva de fato.

 


Thales Goulart                                                               Direito - 1ano - diurno

 

 

 

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