quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Linhas de montagem

Aristóteles, na Grécia Antiga,  já afirmava: "O homem é um ser social.". Tal afirmação foi tomando portes cada vez maiores ao longo da história. Com a queda do Feudalismo, fim do Antigo Regime e instauração plena dos regimes democráticos após as grandes Guerras, a sociabilidade dos homens tornou-se visível. Todos esses acontecimentos históricos foram marcados por mobilizações sociais que visavam mudar os paradigmas de suas épocas, transformando a realidade na qual estavam inseridos, por meio de lutas, revoluções e engajamentos do corpo social. Esse sentimento de mudança foi atrelado a uma sensação de pertencimento, a qual corrobora para a moldagem da sociedade até os dias atuais. 
Um sociólogo que tratou desse assunto é Émile Durkheim, ele afirmava que os indivíduos possuem uma dupla natureza, tanto social quanto individual, as quais os condicionam a agir de acordo com as regras de sociabilidade, pois visam a não exclusão e a coesão social. Um exemplo disso, são as mutilações genitais nas mulheres canadenses, feitas para que elas não sentissem prazer no ato sexual. Entretanto, essa ação foi proibida no Canadá, o que levou as moças à África para a realização de tal ato. Quando entrevistadas, essas mulheres declaravam que queriam as mutilações, não por um querer de gostar, mas sim de pertencer na sociedade em que viviam, para não serem excluídas.
Ao tratar do funcionalismo coletivo, Durkheim cria o conceito de "Fato social", que são todas as formas de agir, pensar e sentir que não dependem do indivíduo em si, mas sim do domínio da sociedade. Tal pensamento, influenciou as instituições modernas, uma vez que para manter a ordem e evitar a anomia, as regras devem estar naturalizadas no pensamento coletivo. Assim, a educação e as escolas tem papel fundamental, pois são elas que moldam os seres sociais, transformando as crianças em indivíduos prontos para a vida adulta em sociedade. Entretanto, ele criticava o ensino com viés ideológico, uma vez que a verdadeira ciência deveria seguir a realidade como ela é, se desprendendo dos valores individuais e pré-estabelecidos. 
Esse assunto entrou em voga durante as eleições presidenciais de 2018. A questão das "escolas sem partido" foi um tema muito debatido, no qual o então candidato Jair Bolsonaro, afirmava que doutrinadores de esquerda estavam afetando as crianças, por meio das aulas de sociologia e filosofia, e que ele, caso fosse eleito, tiraria essas matérias do currículo obrigatório, promovendo aulas sem ideologia, diferentemente do que estava sendo feito no Governo passado. Entretanto, é impossível ministrar aulas e fazer ciência sem expressar opiniões próprias, ou seja, sem deixar transparecer as ideologias que movem os seres humanos. Assim, essa mudança na grade escolar geraria alienação e cidadãos acríticos, consolidando uma harmonia social baseada na desinformação. 
Portanto, ao criar instituições que agem como linhas de montagem, orientando os indivíduos apenas para aquilo que as convém e punindo os seres abjetos, que não foram devidamente socializados e que agora portam-se de maneira desconexa com o todo, não estamos formando uma sociedade devidamente inclusiva e interdependente, mas sim uma federação punitiva e excludente. 
Julia Dolores - Direito matutino. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário