terça-feira, 21 de abril de 2020

Negacionismo suicida


Nas últimas décadas a medicina vem se especializando cada vez mais, a tecnologia tem beneficiado a ciência e seus pesquisadores, permitindo que possamos compreender melhor o mundo em que vivemos, as dificuldades que ele apresenta e que sejamos capazes de enfrenta-las sem grandes prejuízos. Entretanto, junto ao crescimento do conhecimento, grandes movimentos negacionistas ganham ascensão, duvidando de fatos pesquisados e comprovados, muitas vezes por ceticismo, em outros momentos por uma ideologia que abrange o sistema de ideias de certa classe social e legitima os interesses da mesma.
Entre eles o movimento antivacina, inicialmente conspirado por um médico britânico que acabou por estar associado a advogados que queriam lucrar em processos contra empresas de vacina, ou a teoria terraplanista, que deixou de ser uma crença para tornar-se uma ideologia. Ideologicamente falando, esta renuncia consensos históricos e o racionalismo para construir uma dinâmica benéfica para quem a induz. Não surpreende que no governo Bolsonaro, o qual teve sua candidatura apoiada pelos ruralistas, dados matemáticos de satélites que indicam o aumento das queimadas na Amazônia sejam negados e chefes de institutos nacionais de pesquisa demitidos após posicionarem-se contra o presidente na questão, afinal isso dificulta a expansão de fronteiras agrícolas e impede o crescimento de poder e do famoso capital. É o terraplanismo ambiental tomando conta.
Mais recentemente, o mundo vem enfrentando a pandemia do covid-19, doença ocasionada por um novo vírus e que tem causado certa confusão por onde passa. Países por todo o globo têm seguido as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), no geral, evitar aglomerações e lavar bem as mãos, mas a preocupação em determinados locais tem ido além da doença. É comum que dúvidas sobre a economia do país surjam neste momento, afinal, muitos trabalhadores, a engrenagem do sistema econômico, encontram-se em quarentena, certificando-se de que o vírus de grande transmissão tenha seu ciclo interrompido. No Brasil, o próprio chefe de Estado tem feito campanhas contra o isolamento social, disseminando a mensagem de que a doença não passa de uma “gripezinha”, que a imprensa e seus oponentes têm inflado as estatísticas para causar pânico à população e, por fim, tem incentivado passeatas e, mesmo suspeito de estar com a doença, tem comparecido em público para cumprimentar apoiadores. Enquanto o número de contaminados no país cresce todos os dias, o presidente parece aplicar um terraplanismo em prol da economia, sem se importar, porém, se a população está sendo infectada e morrendo.
Dessa forma, se analisarmos a situação, é o capital que encontraremos como condutor, agindo destrutivamente, mesmo que custe vidas. A pandemia tem colocado à prova governantes, suas capacidades de lidar com crises e controlar sua população ou, no pior cenário da falta de aptidão, guia-la para um negacionismo suicida. É necessário avaliar até qual momento é saudável confrontar a ciência e quando a sede de se provar e articular seu poder torna-se irresponsável. As crises abrem e fecham muitas portas, talvez seja hora de identificar pequenos líderes, para que num futuro próximo possamos saber escolher aqueles que saberão lidar com a economia sem sacrificar sua nação em troca.

Amanda Pereira Ramos - 1º ano - Direito (matutino)
Tema: Evolução do pensamento científico moderno e o atual contexto político-social global marcado pela pandemia de covid-19

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