segunda-feira, 20 de abril de 2020

A busca pela suposta cura milagrosa


              Ninguém no mundo esperava um panorama como o atual pudesse ocorrer: pilhas de corpos, mortos, pobreza, desemprego, falta de equipamentos básicos para a segurança dos profissionais da saúde, quase sem insumos médicos para garantir a sobrevivência de vidas humanas.
 Até então, os especialistas previam a provável descoberta de superbactérias imunes aos antibióticos atuais ou a vírus ainda não explorados e sem uma vacina que pudesse funcionar. Infelizmente, esse cenário mostrou-se muito mais perto e rápido do que esperávamos e uma epidemia pela SARS-COVID-19 tragou o mundo para seu momento mais devastador de perda de vidas desde a gripe espanhola, há exatos 100 anos atrás.
            Assim, o que era para ser um momento de união e solidariedade entre diferentes espectros políticos, tal como ocorreu em diversos outros países ocidentais, mostrou-se, no cenário brasileiro e estadunidense, uma disputa de narrativas para ganhar apoio político, ao apostar as vidas humanas como se fossem meras fichas em uma partida de Poker. Ademais, existe uma politização da cura, no qual busca-se colher os louros da aplicação de substancias diversas que afirmam ser benéficas, mas sem estudos que comprovem isso, no qual a hidroxocloroquina e a cloroquina são as bolas da vez, remédios usados no caso de Malária ou Lúpus, que acarretam consequências muito mais serias para a posterioridade, tal como cegueira e taquicardia, sendo usadas como palanques eleitorais para lideres demagógicos insuflarem suas imagens.
            Outrossim, isto não é muito diferente de quando os congressistas brasileiros, em 2016, aprovaram o uso da fosfoetanolamina sintética¹ sem estudos aprofundados da ANVISA, agencia sanitária de nosso pais, em pacientes com câncer, num lapso de racionalidade. Com toda a comoção creditava-se que a mesma seria a cura milagrosa para o câncer e de que ela teria sido ignorada pelo Estado de SP durante 20 anos e teria vindo à tona agora, uma doce ilusão de se agarrar e um discurso conciso, numa lógica obscurantista, para vender aos seus eleitores, nada muito diferente do panorama atual onde a busca por uma suposta cura milagrosa é creditada a cloroquina.
            Isto afronta diretamente as ideias de René Descartes e seu método racionalista que buscava trazer à tona a verdade, sem o uso da emoção humana como fator de interferência. Ao utilizar-se de tais momentos de comoção para ganhar status e difundir o uso de medicamentos sem um rigoroso processo de testagem, estaríamos ignorando grande parte dos avanços científicos dos últimos séculos. Sendo assim, não adianta a eficácia de um estudo, o rigor de seu método e que permite agregar confiabilidade aos seus resultados e para usar suas descobertas em vidas humanas, e sim pautar a ciência pela política, um nítido conflito de interesses no qual iria vencer a ideia que o público aceita-se, que mostra-se maior adesão naquele momento.
            Num dos primeiros indícios de achatamento da curva de contaminação e de um grato respiro ao sistema de saúde brasileiro, seja ele público ou privado, que exibe seus leitos quase hiperlotados, alguns brasileiros alienados começam a manifestar-se pelo fim do isolamento social e a retomada da atividade econômica, sem se importarem para as consequências nefastas de seus atos. Ao argumentar que eles não conhecem ninguém próximo infectado e a fala da autoridade maior do pais, o Presidente da República, que minimizou, em rede nacional, a seriedade da doença e a relegou ao status de “gripezinha”, mostra-se um flanco para atacar a ciência, suas descobertas e tudo aquilo que ela significa para a humanidade. 
                 Isto é fruto direito da deficiencia do sistema educacional que não consegue cumprir sua função emancipadora e produz analfabetos funcionais que não conseguem interpretar a realidade ao seu redor, e que acabam por acreditar naquilo que lhe é mais palatável. 
           Com a mesma velocidade que informações uteis de prevenção são difundidas, mentiras e teorias conspiratórias são propagadas e atingem uma grande massa de trabalhadores que vê seus direitos sendo cortados e seus empregos ceifados pela crise econômica que instaura-se, no qual clama-se por uma ajuda em seu momento mais desesperador e irracional, um derradeiro prato cheio para alguns.
            O resulto disso é nítido, tal como a fosfoetalamina sintética², a hidroxocloraquina poderá mostrar-se ineficaz e danosa para o combate ao COVID-19, tal como alguns países já comprovaram³. Infelizmente quantos deverão servir de cobaia para provar isso? Quantas vidas perderemos pela irresponsabilidade de alguns? Somente o tempo mostrará os resultados de nossas ações atuais e de como o futuro, seja ele luminoso ou sombrio, será moldado pelas mesmas.

CARLOS AUGUSTO POLIRODO DA SILVA – 1ª ANO DE DIREITO – MATUTINO





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