segunda-feira, 9 de março de 2020

Cegueira Branca: Um excesso de ídolos

Hoje vivemos na sociedade dos excessos. Francis Bacon (1561-1626) ao discorrer sobre os métodos do conhecimento em sua obra “Novum Organum”, trata não só dos meios para adquiri-lo, mas também os empecilhos para que essa finalidade seja alcançada, obstáculos os quais são denominados pelo próprio autor como “ídolos”.
Apesar da grande gama de informações a que se tem acesso e com a intensa integração global nos dias atuais, a primeira impressão é que os métodos para se chegar ao conhecimento são tão múltiplos que podem ser facilmente alcançados. Entretanto, o efeito prático visto na sociedade é justamente o oposto. O ídolo do foro tem seus efeitos ampliados, pois em um dia, pode-se entrar em contato com milhões de pessoas. Assim também ocorre com a obtenção do conhecimento, reforçando os ideais dos ídolos do teatro e também da tribo, que estão relacionados com a falibilidade do intelecto humano e com as doutrinas diversas que atualmente podem ser facilmente acessadas.
Portanto, em vez da lucidez prevista pela variedade do acesso à informação, tem-se como produto uma cegueira branca, tal como a descrita metaforicamente por José Saramago (1922-2010) na obra “Ensaio sobre a cegueira”, que não se dá pela falta do conhecimento, mas pelo excesso dele.
Contudo, a solução proposta por Bacon continua sendo válida, apesar de mais complicada. A compreensão deve transcender os contatos superficiais com a informação e chegar a um entendimento mais profundo através da detecção desses ídolos em excesso e a escolha por abandoná-los e seguir a luz pura e lúcida do conhecimento verdadeiro.

Pedro Américo Andrade de Almeida
Direito - Noturno
1°Semestre - UNESP

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