A teoria positivista formulada por Auguste Comte no século XIX revolucionou os estudos sobre o conhecimento e a sociedade. Ao propor a aplicação de regras gerais, análogas às presentes em estudos das ciências naturais, Comte propõe a análise investigativa social através da chamada "física social". E tal tratamento da sociedade e das ações humanas é dado com base na defesa de princípios naturais e absolutos reinantes sobre a manutenção da ordem e organização social. Nesse sentido, ainda hoje, visões positivistas são defendidas e aplicadas em interpretações sociais e humanas-tais como as utilizadas por Olavo de Carvalho em seu texto "Mentiras gays".
É compreensível a defesa de Carvalho, sobre os moldes positivistas, acerca da sexualidade e de como ela é abordada atualmente. Tendo em vista os próprios argumentos do autor em defesa de uma lógica humana baseada e determinada pela natureza "em seu curso natural" constante e elencada por perspectivas pessoais de oposição à interpretação da homossexualidade como resultante de caracteres implícitos, subjetivos, Carvalho se posiciona precisamente como analítico crédulo na tese de que os gays são gays por opção. E em tal afirmação há a lógica positivista que sustenta o fato de a homossexualidade representar fuga à ordem ideal determinada pela natureza.
Assim como na religião, que rege a humanidade há milênios e carrega dogmas, constatações que permitiram aos povos a sobrevivência e a procura pela harmonia de convívio social, nos argumentos de Carvalho mostra-se claramente que a homossexualidade, como qualquer deturpação à dinâmica ideal e positiva, é resultado de um processo racional que foge às normas naturais de estabelecimento de união de homens com mulheres e nenhum intercâmbio entre tais. A ideia de ideologia homossexual proposta por Carvalho é embasada pela comparação com quaisquer outras ideologias, já que é de vontade de homossexuais que a sua sexualidade, ou melhor, opção sexual seja apresentada a crianças para que elas tomem conhecimento sobre tal ideologia e possam futuramente fazer suas escolhas.
Dessa forma, e como explicita Olavo de Carvalho, é evidente que a sociedade atual presencia uma crise de valores e de disseminação de ideologias que buscam apresentar a crianças opções que destoam totalmente da normalidade e da ordem. Sendo essas, portanto, características tão almejadas e essenciais para a manutenção de uma sociedade sólida a caminho do progresso e que supere quaisquer obstáculos, mesmo sendo estes resultantes de escolhas grupais que mais buscam por abalar a ordem social ideal.
Lorena Yumi Pistori Ynomoto. Direito- noturno
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
sábado, 20 de abril de 2019
A homo afetividade na mira da ciência
No final do século XIX, o Brasil
declarou-se uma República através da deposição da monarquia ministrada por um
golpe militar inspirado, em especial, por duas correntes ideológicas do mesmo
século: o iluminismo e o positivismo -o Augusto Comte é o pioneiro no assunto,
e afirmava a ciência como forma de
explicar o desenvolvimento de uma sociedade através de observações e
experiências cientificas, aspirando o progresso. Atualmente, a visão
positivista é usada por Olavo de Carvalho para defender sua tese sobre
“Mentiras gays”, no livro “O Imbecil Coletivo”.
Na atual conjuntura de propagação
de ideias, há uma nítida confusão entre o ferimento da dignidade humana e a
liberdade de expressão. Dessa forma, é preciso salientar que todos têm a autonomia
de manifestar opinião sobre diversos assuntos, aquisição garantida pela Constituição Federal. Portanto, precisa-se admitir
ser válida a tese desenvolvida por cada pessoa, independendo da coisa tratada,
afinal, relativizar quais direitos podem ser expressados não é uma forma democrática de um estado de direito agir/aplicar
suas leis. Para entrar no assunto, é preciso concordar que os grupos das
minorias na atualidade, como os deficientes físicos, gays, estão fazendo uso da
relativização para se apropriar de proteções legais especialmente para eles,
evitando com que convivam com todos de igual para igual juridicamente.
De acordo com Olavo de Carvalho,
ser homossexual é uma questão de opção, já que é um fato o homem e a mulher
serem atraídos como um objetivo maior a perpetuação da humanidade. Essa
constatação é tão verdadeira que escolher uma pessoa do mesmo sexo como
parceiro é uma escolha anormal e egoísta, visto que não irá trazer benefícios
para a sociedade como um todo, pois ela é incapaz de se relacionar amorosamente
com outras pessoas de sexo oposto. Da mesma forma, se eles já estão
prejudicando uma maioria, é questionável exigirem uma legislação específica que
os protejam de ataques a sua escolha de relacionamento, já que quem ataque a
humanidade são eles, ameaçando a perpetuação da espécie, como a própria ciência
biológica permite explicitar. Lembrando que o positivismo prega que através do
ordenamento da sociedade é possível o seu progresso, e, portanto, se uma parte
da população passa a ser mais protegida que outra, há o descontrole e
impedimento desse progresso natural.
Um outro problema é a demonstração
pacífica de quem não concorda com essa atitude egoísta, pois se existe o
direito dos homo afetivos declarar suas escolhas, também deve existir o direito de
as pessoas manifestarem suas repugnâncias a essas ações, afinal, é uma
liberdade de consciência de cada um. Assim, é preciso repensar que a lei deve
ser usada principalmente para garantir direitos inalienáveis ao indivíduo,
independendo se ele representa um grupo anormal a esse grande organismo que é a
espécie humana, como explica o positivismo, e não privilegiar uma escolha
minoritária como forma de se sobrepor a uma proteção comum a todos.
Das negativas homossexuais
No livro "O imbecil coletivo", mais especificamente no capítulo intitulado "mentiras gays", o pensador Olavo de Carvalho explica a respeito da atitude descabida dos homossexuais, os quais se fazem de vitimas e querem impor seus desejos pessoais a todos.
Vale ressaltar, que o posicionamento do autor se relaciona com o positivismo, tendo em vista que versa acerca da necessidade de se manter a ordem para que se possa atingir o progresso ao falar que é preciso que não se permita que as crianças tomem conhecimento sobre a possibilidade de se relacionarem com pessoas do mesmo sexo ao terem aulas de educação sexual, visando o futuro da espécie.
Nesse sentido, o autor buscou em sua obra expor o fato de que embora os gays gostem de se colocar na condição de coitados, muitos dos grandes tiranos eram homossexuais, como é o caso do Imperador Nero, o que comprova que na verdade atitudes preconceituosas contra esse grupo são exceções e não a regra como eles pregam. Portanto, é evidenciado que não é justo que eles tenham mais direitos como pretendem simplesmente por serem gays, a menos que assumam essa condição como uma deficiência.
Porém, Olavo deixa claro que ser gay não é uma doença, embora também não seja natural, mas simplesmente um desejo particular, o qual só passa a ser doença quando a pessoa que o exerce negligencia totalmente sua natureza se relacionando apenas com pessoas do mesmo sexo.
Além disso, como explicado pelo autor o preconceito é natural e deve ser tratado como o direito a liberdade de expressão, logo, é uma atitude opressiva querer impedir as pessoas de demonstrarem seu desprezo e nojo dos gays. No entanto, os homossexuais usam esse conceito de forma equivocada, tratando o como pejorativo e uma coisa a ser combatida, o que obviamente não faz sentido, tendo em vista que na realidade eles apenas usam dessa justificativa para tentarem inibir as pessoas e trazerem para o seu lado o máximo de indivíduos possível, visando criar um monopólio e impor suas vontades aos outro, fazendo assim com que as futuras gerações cresçam achando isso algo natural, o que na verdade não é, tendo em vista que se trata apenas de um desejo, o qual poderia ser controlado e não uma necessidade, enquanto as relações heteroafetivas são de crucial importância para a manutenção da espécie.
Ademais, a título de exemplificação, é tratado sobre como Graciliano Ramos sofreu com essa imposição homossexual, pois apenas em seu livro "Memórias do cárcere", o qual foi publicado postumamente, o escritor pode revelar sua aversão aos gays e o nojo que sentia de comer a comida feita no presídio e até emagreceu durante sua estadia lá, não pelas condições de higiene ou porquê fosse realmente ruim, mas sim por ser preparada por um gay, fato que ele nunca pode revelar durante sua vida, pois sabia que seria muito julgado e condenado por isso, tendo em vista que convivia com pessoas que defendiam a causa desse grupo social.
Sob esse viés, vale lembrar que desde que não haja violência ou privação de exercer suas atividades civis, o repúdio as relações homossexuais deve ser um direito tão válido quanto o de ser gay e que é necessário que se detenham as atitudes desse grupo as quais visam exibir quem faz parte dele como pessoas superiores a quem não o faz e agem como se suas ações fossem mais dignas de respeito do que as crenças e morais religiosas.
Danieli Calore Lalau- Direito noturno
Em defesa do indefensível
"Será o fim do mundo? Segundo a lei da Ciência Biológica, acasalamento se dá entre macho e fêmea. Homem com homem, mulher com mulher, será o fim da espécie humana!". O trecho exposto foi retirado de um comentário presente em uma noticia de 2011, de um jornal local de Franca sobre o primeiro casamento gay ocorrido na cidade, mas poderia, perfeitamente, ter sido lido em qualquer outra reportagem que aborde esse assunto atualmente. Os pressupostos e perspectivas que circundam as mentalidades por traz desse tipo de pensamento são, perceptivelmente, baseados numa lógica de racionalidade restrita e imediata de pensar, assim como aquela que permeia o positivismo. Torna-se necessário compreender ( por mais difícil que seja) que aqueles que possuem esses posicionamentos consideram suas bases legítimas, cientificamente comprováveis.
Para que essa compreensão seja direcionada a sua completude total é necessário adentrar no íntimo, no cerne desse "submundo", no qual se desenvolvem tais opiniões (lê-se atrocidades) . Uma porta de entrada possível para esse universo paralelo (paralelo para alguns e universo próprio para outros) é tentar entender o que há por trás do pensamento de Olavo de Carvalho, exaustivamente repetido em seu texto Mentiras gays, presente no livro O Imbecil Coletivo. O autor, buscando desconstruir e desmentir o que ele concebe como mitos propagados pela comunidades gays , elabora sua tese de argumentos a partir de uma análise sequencial dos pontos que ele considera mais relevantes para serem discutidos. Inicia sua árdua tarefa com o propósito de dissolver as crenças em torno da falácia de que os homossexuais são marginalizados , perseguidos e superiores intelectualmente, utiliza para isso fatos históricos, jogos de lógica. Sua segunda empreitada é na defesa de que a heterossexualidade , diferentemente da homossexualidade, é uma necessidade para a preservação da espécie e não uma opção, um desejo de determinado grupo, ou a busca por um prazer inteiramente desnecessário, determinando, com isso, a indevida tentativa de se atribuir um mesmo valor para uma necessidade e um mero gosto. Além disso, discorre sobre a normalidade ou anormalidade das relações homoafetivas, e também sobre a infeliz e injusta tendência que os homossexuais possuem de taxar como preconceito qualquer opinião contrária a sua conduta ou que a considere como imoral. Refuta, indiscriminadamente, a pretensão de legislações específicas para defesa dessa comunidade e também a "exigência" desse grupo de introduzir às crianças suas doutrinas e preferências. Mas apesar de tudo, defende que os gays também tem direitos, melhor dizendo, um único e suficiente direito: sua conduta sexual privada não pode acarretar discriminações no emprego ou na vida social em geral. O que mais eles poderiam requerer? Um único direito é muito mais do que eles realmente precisam. Correto? Para Olavo de Carvalho, infelizmente, sim.
Amparado em um óptica positivista, que privilegia a rigorosidade do método, um conhecimento estritamente científico, a objetividade científica e que julga conhecer a realidade na sua imediaticidade, o autor desenvolve suas teorizações. A concepção imediatista, em especial, é notadamente relevante nas percepções de Olavo de Carvalho acerca dos homossexuais, não há uma tentativa de compreensão dos aspectos mais profundos que envolvem a realidade dessa comunidade, há apenas um enfoque no presente do tempo. Sua tentativa de esclarecer e desmentir "mentiras gays" pode ser vista como uma defesa da família "tradicional", da qual ele faz parte , formada por um homem e uma mulher, e que , dentro de uma perspectiva positiva, representa uma das principais instituições mantedoras da ordem em uma sociedade, sendo uma fonte da cultura, da moral predominantemente aceita, favorecendo, com isso, a perpetuação dessa ordem. Todas as críticas à homossexualidade e defesas à heterossexualidade como superior, são , dentro da mentalidade desse autor, cientificamente legítimas, concebíveis a partir de seu ponto de vista, que enxerga a realidade de maneira a justificar os seus direcionamentos.
A máxima defesa que, portanto, se pode oferecer aos detentores de posicionamentos voltados à recusa da ampla liberdade de expressão de todas as formas de sexualidade é que, por mais contraditórios que possam ser, estão justificados dentro da sua própria maneira de pensar, de compreensão. A exemplo de Olavo de Carvalho, que constrói seus fundamentos apoiado dentro da visão positivista, na qual as ideias se reduzem à automatização, à instrumentalização do imediato e a racionalidade se reduz à técnica , tornando-se predeterminada e perdendo, com isso, seu valor crítico e revelador da verdadeira realidade.
O Imbecil Individual
Auguste Comte, importante filósofo do século XVIII, teve um enorme impacto na cena acadêmica da época ao propor uma mudança no estudo do homem e da sociedade, ciência que, mais tarde, com Durkheim, se tornaria a Sociologia. Extremamente influenciado pelas Matemáticas e Ciências Biológicas, aquele pensador propunha analisar as Ciências Humanas sob essas óticas, visando criar a mais importante das ciências: a já citada Sociologia. Para isso, seria necessário o uso do pensamento positivo, o mais evoluído método filosófico (acima do teológico e metafísico), que reconhece a impossibilidade de obterem-se noções absolutas sobre algo; e que busca deixar de tratar fenômenos sociais como corpos isolados, mas considerá-los ramos de uma mesma árvore.
Outro aspecto da obra comteana seria os conceitos de estática versus dinâmica, os quais estudam, respectivamente, as condições constantes da sociedade, ou seja, ordem; e as leis de seu desenvolvimento, ou progresso; sendo esse raciocínio a origem do lema positivista: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim.” Pensamento esse responsável por uma das mais ferrenhas críticas ao autor, demonstrando seu pensamento conservador do ponto de vista político e social (não devendo esse ser confundido com o aspecto inovador de sua obra do ponto de vista do método científico). Apoiado por industriais e militares de sua época, Auguste Comte pregava a busca pelo desenvolvimento tecnológico apoiado na ordem, na conservação dos costumes, demonstrando seu caráter antirrevolucionário.
A mesma crítica pode ser feita sobre o filósofo contemporâneo Olavo de Carvalho, um dos pilares ideológicos do atual governo Bolsonaro. Em seu livro “O Imbecil Coletivo”, especificamente no capítulo “Mentiras Gays”, o autor disserta sobre suas concepções extremamente conservadoras e preconceituosas sobre a homossexualidade e homossexuais, propagando achismos transvestidos de verdades científicas sobre tal grupo, variando desde considerar a “incapacidade de apresentar um comportamento heterossexual” como uma doença (chegando até a utilizar o termo “homossexualismo”), até a quase igualar essa orientação sexual (ou “opção”, segundo Carvalho) à pedofilia.
É inegável a influencia de Comte, presente na utilização de argumentos supostamente científicos, biológicos, na expressão de um pensamento conservador, para impedir o avanço nas lutas sociais, visando manter a suposta “ordem” vigente em busca do “progresso”; visando manter estagnadas as estruturas sociais que permitem tamanha desigualdade presente no Brasil, tanto de gênero, quanto de classe ou raça ou orientação sexual; visando perpetuar a ordem dos privilégios àqueles que estão no poder, seja ele político, econômico ou militar.
Julia Parreira Duarte Garcia – Direito Matutino
Outro aspecto da obra comteana seria os conceitos de estática versus dinâmica, os quais estudam, respectivamente, as condições constantes da sociedade, ou seja, ordem; e as leis de seu desenvolvimento, ou progresso; sendo esse raciocínio a origem do lema positivista: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim.” Pensamento esse responsável por uma das mais ferrenhas críticas ao autor, demonstrando seu pensamento conservador do ponto de vista político e social (não devendo esse ser confundido com o aspecto inovador de sua obra do ponto de vista do método científico). Apoiado por industriais e militares de sua época, Auguste Comte pregava a busca pelo desenvolvimento tecnológico apoiado na ordem, na conservação dos costumes, demonstrando seu caráter antirrevolucionário.
A mesma crítica pode ser feita sobre o filósofo contemporâneo Olavo de Carvalho, um dos pilares ideológicos do atual governo Bolsonaro. Em seu livro “O Imbecil Coletivo”, especificamente no capítulo “Mentiras Gays”, o autor disserta sobre suas concepções extremamente conservadoras e preconceituosas sobre a homossexualidade e homossexuais, propagando achismos transvestidos de verdades científicas sobre tal grupo, variando desde considerar a “incapacidade de apresentar um comportamento heterossexual” como uma doença (chegando até a utilizar o termo “homossexualismo”), até a quase igualar essa orientação sexual (ou “opção”, segundo Carvalho) à pedofilia.
É inegável a influencia de Comte, presente na utilização de argumentos supostamente científicos, biológicos, na expressão de um pensamento conservador, para impedir o avanço nas lutas sociais, visando manter a suposta “ordem” vigente em busca do “progresso”; visando manter estagnadas as estruturas sociais que permitem tamanha desigualdade presente no Brasil, tanto de gênero, quanto de classe ou raça ou orientação sexual; visando perpetuar a ordem dos privilégios àqueles que estão no poder, seja ele político, econômico ou militar.
Julia Parreira Duarte Garcia – Direito Matutino
O Positivismo e sua lógica excludente
Auguste Comte foi um filósofo francês, responsável
por fundar a Sociologia e o Positivismo.Nasceu na França em Montpellier, no ano
de 1798.Com 16 anos, em 1814, Comte
ingressou na Escola Politécnica de Paris,ocasião que teve grande
influência para o direcionamento de seu pensamento.Trabalhou
toda a vida intensamente na criação de uma filosofia positiva e na exigência de
uma doutrina social inteiramente baseada nas ciências.
O tema pelo qual Auguste Comte dedicou grande
atenção, o Positivismo ,foi um sistema cuja
proposta era de ordenar as ciências empíricas como o modelo por
excelência do conhecimento humano;caracterizado pela eliminação e subordinação
das especulações metafísicas ou teológicas. Comte atribuía que a ciência
positiva teria sido fundada por intelectuais tais como Francis Bacon, René Descartes e Galileu.O positivismo ou comtismo possui outros aspectos além do
cientifico,ele é tido como uma disposição do espírito e é concebido como síntese filosófica.
Uma das propriedades fundamentais do positivismo
consiste no vislumbramento de leis gerais da sociedade sob a perspectiva da
Teoria da estática e da dinâmica sociais, que busca ordenar a sociedade através
de uma abordagem científica.A estática social são as condições das quais funções
dependem, são o estado atual das instituições, entre elas a família, a moral,
códigos, trabalho etc;se trata da ordem social.A dinâmica consiste num
movimento de avanço humano,é uma mudança harmoniosa com a ordem que
possibilita a manutenção da estática.Disso deriva o lema de “ordem e progresso”
, em que o progresso é interdependente da ordem.
A ordem para o positivismo é determinada por leis
lógicas e pela utilidade, cada indivíduo na sociedade possui uma função a
desempenhar e isso constitui sua utilidade.As leis lógicas são formadas pela
normas naturais existentes, tal como a relação heterossexual que é considerada
dentro da norma natural pois tem como função a procriação enquanto uma relação
homossexual em que inexiste a possibilidade de procriação e apontada como anormal
indo contra a ordem social e criando instabilidade nos rumos do progresso
humano.
A ciência positiva influenciou muito o Brasil e
ainda tem incutido no consciente e inconsciente da população o ideal de um
método eficaz..Se na época em que foi criado o método positivo de se fazer
ciência era visto como um grande avanço epistemológico na contemporaneidade já
observa-se que a visão positivista caminha muitas vezes lado a lado com uma
visão dualista e cruamente objetiva, além disso o positivismo passou a ser uma
ferramenta muito utilizada pelo conservadorismo retrogrado que não admite
transformações nas instituições sociais.No Brasil um forte representante desse reacionarismo
é o auto intitulado filosofo Olavo de Carvalho, um pensador que escreveu
diversos livros e possui uma comunidade considerável de adeptos de suas ideias
conspiratórias, preconceituosas, intolerantes e de sua argumentação infundada.
Entre os livros que Carvalho escreveu se encontra “O
imbecil coletivo” publicado em 1996.Nesse o autor no capítulo intitulado
“Mentiras Gays” se dedica a deslegitimar a luta por igualdade de gênero e por
conceber falsas premissas,nada científicas,ou seja,afirmativas sem fundamentos
e sem um conhecimento organizado de modo sistemático.Em sua obra Carvalho cria
uma argumentação fantasiosa e conspiratória a respeito de situação das pessoas
homossexuais, ele inverte a história e demonstra que essa comunidade supostamente
oprimida que luta por igualdade e direitos na verdade é a mesma que se mostrou
opressora em diversos momentos históricos.Ademais,o autor interpreta que o
homossexualismo nunca deverá ser visto como uma prática normal e não poderá se
equiparar às relações heterossexuais.
O método positivo teve grande importância para a
constituição da ciência moderna, mas apesar disso não absteve-se de falhas; um problema da filosofia positiva que deve ser
ressaltado é de que a teoria da estática e dinâmica sociais, é um mecanismo
excludente que desconsidera as particularidades dos indivíduos.O infortúnio
reside no fato desse sistema ser exclusivo, ao designar papeis aos indivíduos
de acordo com uma finalidade concreta e puramente funcional. A exemplo,uma
pessoa homossexual que não tem uma relação cuja consequência é o ato de
procriar é considerada como transgressora da ordem social , não sendo tratada
de maneira isonômica na sociedade.A utilização de tal ideia por Olavo de Carvalho fica evidente num
fragmento de “Mentiras gays” que diz: “As relações entre sexos diferentes não
são uma opção livre, mas uma necessidade natural para todas as especies
animais.Não se pode atribuir o mesmo valor para a heterossexualidade e
homossexualidade, pois o primeiro é uma necessidade e o segundo desejo”.Nessa
lógica um artista, um louco, alguém de gênero não binário, uma pessoa homossexual
entre outras posições que fogem a tradição das instituições e consequentemente
da estática, são enxergadas ,por pessoas
como Olavo de Carvalho, como ocupantes de papeis desvirtuados não necessários,
verdadeiros empecilhos para o progresso e manutenção da ordem nas sociedades.
Lívia Alves Aguiar 1ºano Direito Matutino
A corrente filosófica e sociológica do Positivismo foi de suma importância para a mentalidade ocidental do séc. XIX. Em um período de enormes avanços científicos e industriais, é de se esperar que tal progresso desenfreado ecoe mudanças drásticas à sociedade de diversas maneiras. O cerne da teoria positivista consiste na consideração do conhecimento científico, útil e pragmático como o único conhecimento verdadeiro e essencial, visando melhorar o bem-estar da condição humana através do progresso científico-industrial.
Para Auguste Comte, o pai do Positivismo, o último (e mais avançado) estágio de uma sociedade seria a organização de um estado positivista permanentemente focado na dualidade do avanço -- a dinâmica do progresso em simbiose com a estática e a segurança da ordem. Uma das fundações primordiais para salvaguardar a ordem social consiste no núcleo familiar tradicional, este composto por um casal monogâmico e heterossexual.
Em sua obra "O Imbecil Coletivo", o filósofo contemporâneo Olavo de Carvalho indulge o leitor a desconstruir as diferenças sociológicas perante a comparação direta entre a homosexualidade e a heterossexualidade. Segundo o filósofo Olavo de Carvalho, em seu livro O Imbecil Coletivo: "[...]a Hetero e homossexualidade não são igualmente opções. As relações entre sexos diferentes não são uma opção livre, mas uma necessidade natural para todas as espécies animais. ". Partindo desse princípio, vemos que há clara contradição entre as duas orientações: Enquanto a heterossexualidade se manifesta de maneira orgânica e necessária para a organização social, a homossexualidade, segundo Olavo, configura como mais nada do que um fetiche ou parafilia destituída de significância e importância social, especialmente quando comparada a heteroafetividade.
Nos moldes positivistas e na crença de Olavo, tal destituição de sentido para o funcionamento da sociedade configura que a homoafetividade, por concepção, se encontra em uma posição desigual e abaixo da heterossexualidade. Olavo afirma que "[...]alguma relação heterossexual, ainda que em dose menor, continuará sempre necessária, e, neste sentido, mais valorosa para a humanidade do que a homossexual." Dessa maneira, a própria clamação por igualdade entre hetero e homossexuais se torna falaciosa: A homossexualidade, ultimamente, não é essencial à humanidade, e, para o positivismo, o essencial, necessário e pragmático sempre torna-se preferível e leva prioridade acima sobre aquilo que não é.
(PS: As visões reproduzidas neste texto não representam as idéias reais do autor, sendo esta dissertação apenas um exercício de parcialidade obrigatória sobre as crenças do tema mencionado acima.)
Rodrigo Riboldi Silva - 1° Ano - Direito Noturno
Para Auguste Comte, o pai do Positivismo, o último (e mais avançado) estágio de uma sociedade seria a organização de um estado positivista permanentemente focado na dualidade do avanço -- a dinâmica do progresso em simbiose com a estática e a segurança da ordem. Uma das fundações primordiais para salvaguardar a ordem social consiste no núcleo familiar tradicional, este composto por um casal monogâmico e heterossexual.
Em sua obra "O Imbecil Coletivo", o filósofo contemporâneo Olavo de Carvalho indulge o leitor a desconstruir as diferenças sociológicas perante a comparação direta entre a homosexualidade e a heterossexualidade. Segundo o filósofo Olavo de Carvalho, em seu livro O Imbecil Coletivo: "[...]a Hetero e homossexualidade não são igualmente opções. As relações entre sexos diferentes não são uma opção livre, mas uma necessidade natural para todas as espécies animais. ". Partindo desse princípio, vemos que há clara contradição entre as duas orientações: Enquanto a heterossexualidade se manifesta de maneira orgânica e necessária para a organização social, a homossexualidade, segundo Olavo, configura como mais nada do que um fetiche ou parafilia destituída de significância e importância social, especialmente quando comparada a heteroafetividade.
Nos moldes positivistas e na crença de Olavo, tal destituição de sentido para o funcionamento da sociedade configura que a homoafetividade, por concepção, se encontra em uma posição desigual e abaixo da heterossexualidade. Olavo afirma que "[...]alguma relação heterossexual, ainda que em dose menor, continuará sempre necessária, e, neste sentido, mais valorosa para a humanidade do que a homossexual." Dessa maneira, a própria clamação por igualdade entre hetero e homossexuais se torna falaciosa: A homossexualidade, ultimamente, não é essencial à humanidade, e, para o positivismo, o essencial, necessário e pragmático sempre torna-se preferível e leva prioridade acima sobre aquilo que não é.
(PS: As visões reproduzidas neste texto não representam as idéias reais do autor, sendo esta dissertação apenas um exercício de parcialidade obrigatória sobre as crenças do tema mencionado acima.)
Rodrigo Riboldi Silva - 1° Ano - Direito Noturno
O Esforço para a Compreensão do Indefensável
O
autodeclarado filósofo, Olavo de Carvalho, tornou-se expoente da ala
mais conservadora dos recentes movimentos de direita, no Brasil.
Fundamentando-se – majoritariamente – na filosofia positivista,
criada e idealizada por Auguste Comte, o astrólogo desenvolve, ao
longo de suas obras, máximas que permitem sumarizar as diversas
mobilizações sociais, que se instauraram dentro do campo
progressista. Partindo, portanto, do encargo de realizar uma defesa
(ponderação) acerca de seus posicionamentos, inicio uma análise
positiva do capítulo “Mentiras Gays”, presente no livro “O
Imbecil Coletivo”.
Ao
iniciar a elaboração de sua perspectiva, caracterizando as pautas
abordadas pela comunidade LGBTQ+ como “mitos lisonjeiros”, o
autor incide na classificação comtiana frente aos diversos estados
do espírito humano, em que os mitos representam a condição mais
primitiva da intelectualidade coletiva e, consequentemente, uma
condição anacrônica perante a realidade atual. Desse modo, Olavo
vincula a imagem de figuras autoritárias homoafetivas, como Ernst
Rohm e Mao Tsé-tung, à ideia de ruptura com o fenômeno da
perseguição e marginalização social realizada sobre a comunidade
LGBT, em virtude da presença de regimes repressivos comandados ou
auxiliados por homossexuais, inviabilizando a construção de uma
Regra Geral positiva acerca desse fenômeno e, por conseguinte, sua
veracidade.
Nesse
ínterim, visto a necessidade da perpetuação da espécie humana,
por meio da reprodução, a condição “natural” do indivíduo
estaria, instintivamente, atrelada à heterossexualidade. Isto posto,
a homoafetividade – de acordo com a óptica olaviano-positivista –
manifestaria um estado de anormalidade, em função da tendência
natural de homens e mulheres, sendo incoerente o tratamento dessa
classificação como um preconceito, uma vez que fundamentada na
ciência.
NOTA:
Gostaria de ressaltar que não coaduno com essa visão, muito menos a
considero válida. As ideias de Olavo são, por si só, incoerentes,
mal fundamentadas e inconsistentes. Esse curto texto é um mero
esforço para se tentar justificar seus posicionamentos.
Caio Laprano - Noturno (1º Ano)
Preconceito transvestido de ciência.
O positivismo, fundamentado por Comte, consiste no desejo
de se analisar a sociedade sob a mesma ótica neutra e pura das ciências naturais.
O método positivista, por esta mesma característica, corrompeu-se de seu propósito
central. Ao utilizar-se deste instrumento, alguns pensadores acabam embeber suas
dissertações com seus preconceitos e juízo morais. Notório exemplo deste fenômeno
na contemporaneidade brasileira é Olavo de Carvalho.
Dentre as mais diversas falácias expostas por ele, uma
foi-nos proposta para análise, que discorre sobre a concepção da
homossexualidade. Nesta breve exposição, Carvalho faz uso claro do método
desenvolvido por Comte. Pode-se notar as conotações positivistas no modo como
ele busca justificar e fundar suas ideias com base em argumentos históricos e
proposições lógicas. Contudo, percebe-se nitidamente a forma como estes argumentos
são expostos a fim de corroborar com uma posição preconceituosa em relação à
comunidade gay. Este é um exemplo de como o método de Comte pode ser utilizado
de equivocado e com a finalidade de justificar preconceitos.
Mais pernicioso que a deturpação de um método genuíno é o
efeito que estas obras surtem na sociedade. Considerável parte da população, ao
ter acesso a um texto tão cheio de preconceito e fatos inverossímeis, mas com aparência
de teor científico, pode tomar aqueles argumentos como base para a perpetuação
de atitudes desrespeitosas e opressoras no convívio social. Mais precisamente,
na sociedade brasileira, atualmente, é notável a ascendente dos discursos de
ódio contra as minorias, o que explicitar uma direta conexão com este tipo de obra.
Enfim, o uso da corrente positivista para fundamentar e
incentivar práticas violentas na sociedade vai além da simples deturpação de
uma orientação filosófica, configura um desserviço à realidade humana. Todavia,
não cabe julgar o método, que apesar das falhas teve grande importância para o
desenvolvimento da ciência moderna, o que se julga e de ser abominado são as
distorções deste método como forma de justificar posições preconceituosas. E,
por fim, o texto “Mentiras Gays” de Olavo de Carvalho deve ser lido e utilizado
de parâmetro para identificar outras formas de preconceito transvestido de ciência.
Luiz Felipe de Aragão Passos - 1º Ano de Direito/Diurno.
Leis totais para perspectivas estagnadas.
No século XIX, em meio à consolidação da Revolução Industrial e à efervescência histórica e cultural que fragmentava o continente europeu em distintas ideologias, surge o positivismo do filósofo frânces Auguste Comte. Essa corrente filósofica é construida como solução da "anarquia social" vigente na época através da perspectiva científica como principal chave de reorganização da sociedade moderna. Para Comte, portanto, a sociedade poderia ser ordenada e organizada em leis lógicas, cuja formulação vem da investigação da realidade pela observação dos fatos e antecipação dessas consequentes leis naturais, familiares para todos os seres humanos.
Na contemporaneidade ainda persistem os gatilhos positivistas no pensamento e na ação do indivíduo pós moderno: desde a paternidade de Comte no desenvolvimento da sociologia como ciência humana até a autoridade positiva nos pensamentos e ideologias a respeito das relações humanas. Nesse sentido, a análise dessa segunda permanência positivista é exemplificada pelo pensamento do brasileiro Olavo Luiz Pimentel de Carvalho, especificamente no capítulo Mentiras Gays de seu livro "O Imbecil Coletivo".
Nessa situação, Olavo de Carvalho inicia seu texto afastando-se da principal função do filósofo, ofício erroneamente atribuido a ele, ao repudiar a reflexão crítica e o questionamento constante através de uma argumentação baseada em uma lógica antecipada e geral, ou seja, positivista. Assim, é possível perceber que a metodologia de sua argumentação textual e ideológica é positivista ao estruturar sua narrativa em "Mentiras Gays" por meio da análise crua e pura de fatos descontextualizados, que são estudados pela própria visão antecipada do autor, legitimada por sua interpretação supostamente universal e correta da história, que pode até ser familiar e natural, mas para quem ?
A exemplo dessa maquinação dos fatos têm-se, logo no começo do capítulo, uma ilustração histórica sobre os atos sexuais do imperador romano Calígula - "(...) mandava capar os jovens bonitos para tomá-los como noivas (...)" (CARVALHO, 1999, p.204) - que serve como legitimação plena da máxima de que homossexuais, para Olavo de Carvalho, oprimem muito mais do que sofrem opressão. Como se não bastasse ignorar os inúmeros casos de preconceito e violência contra as expressões sexuais não normativas, Olavo também não se importa em cometer anacronismos ao dissertar sobre a sexualidade na Roma Antiga a partir de sua visão contemporânea. Tal questão pode ser amplamente construida, no entanto, a partir de análises históricas como a do mestre em Antropologia Social Pedro Paulo Abreu Funari em seu livro "Grécia e Roma" :
Para perceber quanto essa necessidade é profunda e imperiosa, basta pensar um instante nos efeitos fisiológicos do espanto, e considerar ser a sensação mais terrível que podemos sentir aquela que se produz todas as vezes que um fenômeno nos parece ocorrer de modo contraditório às leis naturais, que nos são familiar (COMTE, 1830, p.78)
Na contemporaneidade ainda persistem os gatilhos positivistas no pensamento e na ação do indivíduo pós moderno: desde a paternidade de Comte no desenvolvimento da sociologia como ciência humana até a autoridade positiva nos pensamentos e ideologias a respeito das relações humanas. Nesse sentido, a análise dessa segunda permanência positivista é exemplificada pelo pensamento do brasileiro Olavo Luiz Pimentel de Carvalho, especificamente no capítulo Mentiras Gays de seu livro "O Imbecil Coletivo".
Nessa situação, Olavo de Carvalho inicia seu texto afastando-se da principal função do filósofo, ofício erroneamente atribuido a ele, ao repudiar a reflexão crítica e o questionamento constante através de uma argumentação baseada em uma lógica antecipada e geral, ou seja, positivista. Assim, é possível perceber que a metodologia de sua argumentação textual e ideológica é positivista ao estruturar sua narrativa em "Mentiras Gays" por meio da análise crua e pura de fatos descontextualizados, que são estudados pela própria visão antecipada do autor, legitimada por sua interpretação supostamente universal e correta da história, que pode até ser familiar e natural, mas para quem ?
A exemplo dessa maquinação dos fatos têm-se, logo no começo do capítulo, uma ilustração histórica sobre os atos sexuais do imperador romano Calígula - "(...) mandava capar os jovens bonitos para tomá-los como noivas (...)" (CARVALHO, 1999, p.204) - que serve como legitimação plena da máxima de que homossexuais, para Olavo de Carvalho, oprimem muito mais do que sofrem opressão. Como se não bastasse ignorar os inúmeros casos de preconceito e violência contra as expressões sexuais não normativas, Olavo também não se importa em cometer anacronismos ao dissertar sobre a sexualidade na Roma Antiga a partir de sua visão contemporânea. Tal questão pode ser amplamente construida, no entanto, a partir de análises históricas como a do mestre em Antropologia Social Pedro Paulo Abreu Funari em seu livro "Grécia e Roma" :
Na elite romana, aceitava-se como natural que um homem mantivesse relações com mulheres e com homens, em especial, o patrão com seus escravos e escravas. ( FUNARI, 2001, p. 87)
Segundo uma interpretação amplamente aceita, os homens romanos deviam penetrar, para serem considerados homens de verdade e não podiam ser penetrados. ( FUNARI, 2001, p. 87)
E assim o escritor prossegue sua análise sobre a homossexualidade a partir de uma perspectiva positivista de justificação por leis gerais e "naturais". Consequentemente, Olavo cai em uma visão simplista que deve ser continuamente justificada por novas interpretações desconexas para não perder sua autoridade. Outro exemplo disso dá-se quando o autor tenta explicar uma suposta falta de valor biológico para as práticas sexuais não heteronormativas. Nesse sentido, chega a ser cômico o apelo à perpetuação humana, como se a sexualidade fosse apenas um meio de procriação e não um dos aspectos presentes na vida humana e suas expressões e relações. Além disso, a sexualidade, no entanto, prova-se influenciada por diversos fatores, não apenas biológicos, ainda mais após a modernidade, como afirma o filósofo Michel Foucault em sua obra Microfísica do poder.
Pensamos em todo caso que o corpo tem apenas as leis de sua fisiologia e que ele escapa à história. Novo erro; ele é formado por uma série de regimes que o constroem; ele é destroçado por ritmos de trabalho, repouso e festa; ele é intoxicado por venenos – alimentos ou valores, hábitos alimentares e leis morais simultaneamente; ele cria resistências. (FOUCAULT, 1979, p. 27)
Após essa última exemplificação esse texto é concluido, mostrando que tudo é passível de questionamentos e que a partir deles a ciência e a filosofia são construidas de modo a analisar diversas perspectivas e não apenas as que são confortáveis ou familiares para nós, como fez Carvalho. Portanto, a principal crítica para o escritor e sua obra citada está na falta de comprometimento com a construção de questionamentos livres e edificantes, que compreendam a pluralidade e a reconstrução das questões humanas, até porque, a própria ciência natural, influenciadora dos ideais positivistas, também tem suas verdades transitórias e teses inconclusas.
A vergonha da ciência personificada
O texto “Mentiras Gays” de Olavo de Carvalho faria qualquer
positivista chorar de desprezo, já que tal personalidade, que não possui nenhuma
graduação universitária ou formação nos assuntos sobre os quais discorre. Além
disso, Olavo parte de meras suposições e delírios de sua imaginação fértil, sem
nenhuma comprovação, fonte, ou estudo por trás de suas afirmações. Pode-se ver
também um certo desprezo quanto aos homossexuais, mas esse ódio direciona-se
apenas para os gays, o que pode ser um indício da masculinidade frágil do
autor, que enxerga a homossexualidade como uma condição inferior. O autor tenta
ferrenhamente convencer o leitor de que os homossexuais tratam mais de uma
máfia que vai do tráfico de crianças até celebridades, do que de uma opção
sexual.
Ao contrário das informações dispostas por Carvalho, a
homossexualidade está presente em várias espécies, que são irracionais, então
logo não poderiam apenas ter um desejo avulso pelo espécime do mesmo sexo.
O autor também se mostra ignorante ou pelo menos quer ser, quanto ao tráfico sexual de mulheres que ocorre e ocorreu, mas aparentemente isso não o incomoda. Dentre de suas ignorâncias também está o termo heterossexualidade compulsória, que significa nada mais do que a concepção social de que a heterossexualidade é uma inclinação socialmente imposta nos seres humanos e que, por tanto, pode ser adotada de maneira independente das possíveis preferências sexuais de cada pessoa.
Por fim, os textos de Olavo de Carvalho são uma afronta para
qualquer cientista, de qualquer área, seja o cientista positivista ou não. Ele
é o exemplo de pessoa que escolhe ignorar a ciência e que ao ver fatos e estudos,
demoniza aqueles que produzem real conteúdo científico. O texto embola a garganta de qualquer um que tenha consciência, ao atacar pessoas que são oprimidas socialmente, ignorando sua dor em favor de combater uma doutrinação que não existe. Fica claro também que Olavo possui sérios problemas com sua sexualidade ao precisar demonizar tanto a sexualidade alheia.
Lívia S. P. Cavaglieri - Direito (Diurno) - 1° Semestre, 1° Ano
Tudo a favor de um ponto de vista
Caros leitores,
O objetivo
deste texto é analisar o texto “Mentiras Gays” de Olavo de carvalho sob a visão
positivista de Auguste Comte e apontar os vários equívocos cometidos pelo autor
durante a sua argumentação. Para isso, é necessário que antes contextualizemos
o que é o Positivismo.
O Positivismo
foi uma corrente filosófica do século XIX criada por Auguste Comte, a qual
afirmava que a única forma efetiva de conhecimento seria a ciência e,
consequentemente, a filosofia positiva. Além disso, Comte afirma que o mundo é
composto por duas perspectivas: uma denominada estática e a outra, dinâmica. A primeira
estaria ligada às condições constantes da sociedade, e a segunda seria
dependente da primeira, pois para obtermos o progresso (dinâmica) seria necessário
a ordem (estática). Porém, Auguste Comte foi errôneo ao afirmar que a
manutenção da ordem geraria o progresso, pois se a estática de determinada
sociedade for mantida, não há dinâmica nela, já que estática seria, exatamente,
a ausência de movimento, e a dinâmica, o movimento propriamente dito.
Olavo de
Carvalho inicia seu texto afirmando que a perseguição aos homossexuais é um
mito e utiliza exemplos para justificar sua afirmação. Porém, os exemplos
utilizados pelo autor são exceções e não a regra; ele cita personagens celebres
da história que são considerados homossexuais e os toma como generalidade na
sociedade, mas desconsidera dados essenciais da situação dos gays na sociedade
atual.
Além disso,
Olavo discorre sobre a possibilidade dos homossexuais terem mais direitos
assegurados do que as demais pessoas. Para o autor, o fato de o indivíduo ser
homossexual não deveria ser a causa de ele possuir mais direitos que um
indivíduo heterossexual. Entretanto, o que ocorre, na realidade, não é um
aumento de direitos ao homossexual, mas sim uma ênfase na segurança dos
direitos individuais desses indivíduos, já que muitas vezes, por conta de sua
orientação sexual, muitos desses direitos lhes são negados, como o direito à
liberdade, à segurança e o direito de ir e vir.
Ademais, Olavo
chega ainda relacionar a homossexualidade com a pedofilia. Ele é capaz de
reduzir o problema da pedofilia ao simples fato da procriação humana e à
puberdade para convencer o leitor de que o seu ponto de vista é o correto.
Portanto, temos
na relação estática e dinâmica do positivismo, o ponto crucial da nossa análise
do texto de Olavo de Carvalho. Durante todo o texto, o autor faz uso de
sofismas para defender seu ponto de vista, o qual procura manter a ordem já
vigente na sociedade, ou seja, procura argumentar a favor da manutenção de uma
sociedade homofóbica e preconceituosa, que limita as liberdades individuais e a
diversidade das comunidades humanas.