domingo, 5 de maio de 2019

Ensaio sobre a anomia social


A obra “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, retrata uma sociedade fictícia que, de forma inesperada, fora afetada por uma suposta epidemia, a qual cegava indivíduos de uma forma peculiar. A cegueira (descrita diversas vezes como um mar branco) fez com que a sociedade se encontrasse em um cenário caótico, em que indivíduos já não se reconhecessem em comportamentos da civilização. Desse modo, o escritor quis demonstrar de forma metafórica problemas universais do convívio social, que eleva diversos debates e críticas sociológicas, como a alienação social. Esta alienação, consoante aos pensamentos e descrições do sociólogo Émile Durkheim, deriva da inconsciência individual visto os acontecimentos do grupo ao qual o indivíduo está convivendo. No entanto, analisando o contexto da obra de Saramago, tal alienação não se limita apenas a um indivíduo, mas sim a grupos inteiros quando dispersos em um ideal imaginário que os cegam da realidade.

De forma mais minuciosa, a obra de Saramago pode ser interpretada a partir de uma visão sociológica de anomia social, a qual se define por Durkheim pelo enfraquecimento dos vínculos sociais e pela perda da capacidade da sociedade em regular os relacionamentos dos indivíduos. Sendo assim, o caos na obra parece descender do estado anômico provocado pela epidemia metafórica. Ademais, em decorrência aparente da anomia citada, os grupos afetados retornam ao estado de solidariedade mecânica, em que indivíduos retomam ações arcaicas a fim de sobreviver de modo primitivo, segundo o sociólogo. No entanto, José Saramago gera a reflexão de que, na realidade, o estado caótico deriva de comportamentos que seres humanos já tinham em sua moral e que, usando da situação de cegueira coletiva, cometiam ações que escandalizariam a sociedade como usufruto da incapacidade dos indivíduos em não notarem suas atitudes anti-éticas. Na perspectiva de Durkheim, tais comportamentos reprimidos antes da epidemia citada foram moldados pelo fato social de uma civilização, o qual determina formas de pensar, falar e agir do indivíduo conforme a sociedade em que convive.

Ao final da obra de Saramago, os indivíduos começam a compreender que sobreviveriam conforme fossem retomando comportamentos civilizatórios, tomando como valor a solidariedade orgânica. A partir dessa lógica, os indivíduos saem do manicômio que outrora foram isolados, seguindo para habitar em um local seguro (que seria a casa de um dos protagonistas).  Aos poucos, os personagens começam a enxergar as individualidades entre si e, por conseguinte, a recuperar a visão que fora perdida, estando cada um a mercê de todos. Portanto, José Saramago expressa uma crítica a falta de coletividade nas relações humanas podendo ser explicado, na perspectiva de Émile Durkheim, através das definições de anomia social e solidariedade.


Giovana Silva Francisco - 1º DIREITO - NOTURNO

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