segunda-feira, 6 de maio de 2019

A globalização da solidariedade orgânica


Nas primeiras organizações humanas, a maioria das comunidades dividia as funções pelo sexo. Mulheres permaneciam no local que o grupo ocupava, portanto, eram responsáveis pela coleta (e, posteriormente, pela agricultura), pela criação dos jovens e pela produção de roupas e potes para armazenamento da comida, por exemplo, enquanto os homens saiam em expedições de caça ou protegiam o grupo, portanto, também produziam suas armas. Ao longo do tempo, essas organizações foram se modificando e tornaram-se mais específicas, porque os grupos cresceram e suas necessidades aumentaram também.
            No período do Feudalismo, por exemplo, havia a divisão entre soberanos em vassalos, em que cada um possuía suas responsabilidades, que se tornou extremamente complexa, pois vassalos tinham vassalos, portanto, estavam todos mais ou menos ligados uns aos outros. Além disso, haviam os servos, que produziam todos os produtos necessários para a sobrevivência do grupo, e guerreiros, que defendiam os territórios de invasores.
            Apesar de já ser extremamente complexa, essa divisão se transformou e se aprofundou ainda mais com a industrialização. Ford, em suas fábricas, dividiu tanto o trabalho que seus operários sequer precisavam saber o que produziam. Um deles apertava um parafuso, o outro batia um prego e, no final da esteira, havia o produto pronto, que poderia ter sido feito por macacos bem treinados.
            Atualmente, a interdependência é tão grande que não se reduz mais a uma fábrica, e sim ao mundo inteiro. Qualquer produto viaja mais que uma pessoa, e, além disso, cria mais relações que o Facebook seria capaz de criar. Os acionistas do mercado financeiro de Tóquio formados em Harvard resolvem investir em uma indústria de apontadores que tem sede administrativa na Alemanha, mas importa sua matéria prima de Minas Gerais e tem suas fábricas na China, enquanto seu mercado consumidor se localiza na América Latina (três exemplos bem mais elaborados que o meu são o filme Babel, a série sense 8 e um pequeno documentário chamado Ilha das flores). Além disso tudo, existem diversos advogados intermediando as relações entre todos esses países envolvidos. As redes se tornaram tão densas que quase não é mais possível distinguir os fios. O próprio Durkhein, que criou o conceito de solidariedade orgânica, não previu tamanha interação em seu discurso. Um advogado do Brasil dependente do trabalho de um operário chinês, que depende do trabalho de um pecuarista argentino e assim em diante.  A organização da sociedade tornou-se global.
Sofia Foresti, Direito noturno

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