terça-feira, 2 de abril de 2019

Numa era onde a polarização torna se praticamente sinônima com o engajamento do indíviduo nas matérias políticas, é de praxe que se espere o surgimento de posturas extremistas quanto as diversas questões sociológicas atuais. Quanto à uma dessas posturas, se destaca o fascismo e suas vertentes modernas, paradoxicamente sanitizadas por vários de seus demagogos de maneira consciente e inconsciente, a fim de atrair aqueles que essencialmente buscam firmar sua posição através de uma revulsão obsessiva direcionada à varios elementos da sociedade muitas vezes desprivilegiados, tais como indivíduos pertencentes a minorias étnicas, de gênero ou de sexualidade.

No filme "Ponto de Mutação", produzido por Bernt Capra, onde se retrata a obra de mesmo nome do escritor Fritjof Capra, duas personagens, um político americano por nome de Jack e um poeta chamado Thomas se encontram em um mosteiro francês, onde logo conhecem uma cientista aposentada que os induzem a várias questões filosóficas quanto ao funcionamento do mundo e da própria humanidade em si. Uma das indagações apresentadas pela cientista Sofia é o debate sobre a teoria mecanicista de Descartes, onde sistemas de diversos tipos, incluindo as sociedades humanas em si, são comparáveis com os artifícios de um relógio mecânico, onde todas as partes que compõem o sistema devem estar sujeitas a perfeita sincronia e condição para que o conjunto todo esteja funcionando efetivamente. Levando o cerne desta teoria em consideração, não se torna difícil estabelecer paralelos entre tal perspectiva e o auto-proclamado direito de governar dos regimes totalitários como o fascismo: Se uma peça do relógio torna se improdutiva, basta removê-la de maneira concisa e eficiente.

A brutalidade desta dita teoria, quando aplicada na sociedade, é facilmente percebida quando o elemento humano é levado em conta: Nas concepções fascistas, as tais "peças defeituosas" do relógio são nada menos do que grupos facilmente marginalizados pela sociedade, e sua "remoção" implica gravemente em atos de violência institucionalizados pelo governo, tal como nos atos genocidas direcionado aos povos judeus, eslavos e romani pela Alemanha Nazista nos meados da Segunda Guerra Mundial. Embora a concepção mecanicista seja um exercício epistemológico interessante para a análise de diversos outros sistemas, é preciso exercer extrema cautela ao tratar de assuntos onde um quociente humano é de caráter essencial ao tópico, visando assim um entendimento onde se leve em conta a multiplicidade de elementos subjetivos e praticamente inquantitáveis em jogo que pouco se assemelham ao funcionamento de uma máquina, tratando assim tais temas por maneiras e concepções que buscam ir além do rígido objetivismo mecânico.

Rodrigo Riboldi Silva
1º Ano Direito - Noturno

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