segunda-feira, 1 de abril de 2019

A contemporaneidade da discussão acerca do Fascismo.


O Fascismo se trata de um regime político surgido na Europa no começo do século XX, porém um regime que não se limitou à este referido espaço e tempo, sendo necessária a reflexão acerca de suas vertentes e de sua influência que se fazem presentes até a atualidade.
Conforme observado na fala dos palestrantes Hélio Alexandre, Patricia Soraia e Pedro Xapuri, o Fascismo se caracteriza como uma forma de regime político do Sistema Capitalista que surge na Itália em meados da década de 1920, com a ascensão de Mussolini ao poder. Podemos caracterizar sucintamente esse regime como sendo um regime totalitário, ditatorial, em geral pautado em princípios como o Nacionalismo Ufanista, a centralização do poder na figura de  um líder – ora carismático, ora autoritário – e a promessa de solução rápida e eficaz dos problemas pelos quais a sociedade estaria passando, bem como a culpabilização imposta à pequenos grupos sociais por esses problemas. À exemplo disso, podemos contextualizar o cenário alemão de 1920: uma sociedade arrasada pela 1ª Guerra Mundial bem como pelas sanções dela oriundas – tais como o Tratado de Versalhes – que humilhavam a nação:

“A população alemã, por sua vez, detestou o tratado [de Versalhes]. Um jornal alemão, o Deutsche Zeitung, comentou: “Nunca nos deteremos até recuperarmos o que merecemos.” Economicamente, o tratado representou uma corrente no pescoço da Alemanha.”
(CHALTON, 2017. p. 54)

            Conforme citado, a sociedade alemã do Entreguerras se constituía de uma sociedade com seu orgulho, sua nacionalidade ferida. Para além dessa esfera nacionalista, se tratava também de uma sociedade economicamente falida, que enfrentava um cenário de fome e destruição. É esse o contexto fértil ao surgimento do fascismo: uma sociedade em crise.
A sociedade em crise é essencial ao fascismo pois a população, ao se ver inserida nessa condição de crise, necessita e anseia de um milagre, de uma resposta rápida e eficaz para sanar esses problemas, e é desse anseio que se alimentam as lideranças e o próprio regime fascista. A liderança fascista se aproveitando do momento de desespero se apresenta com um discurso autoritário, que, ao prometer milagres, faz surtir na população uma esperança por dias melhores, e esta, quando enxerga isso, passa a apoiar veementemente o regime e suas ideias.
 O perigo de – num ato de desespero - acreditar e apoiar tão intensamente um regime e suas ideias é justamente fugir e abdicar da metodologia racionalista proposta por Descartes: ora, se acreditamos tanto em algo que nos é imposto sem ao menos questionar, sem que essa crença seja oriunda de nossas experiências, retrocedemos ao período anterior à revolução do pensamento cartesiano, acreditando agora em dogmas fascistas como analogamente acreditávamos nos dogmas religiosos, que tínhamos como verdade absoluta. O perigo desse retrocesso e dessa abdicação do conhecimento oriundo da razão e da experiência – nesse caso – é historicamente conhecido: o Holocausto. Por simplesmente aceitarem a tese de que a culpa dos percalços pelos quais a Alemanha passava era dos judeus, uma sociedade inteira passa a legitimar e apoiar um massacre humano sem precedentes na história. Tal como na época da forte influência da Igreja Católica toda uma sociedade – acreditando em dogmas religiosos no lugar da experimentação racionalista - apoiava o assassinato de pessoas simplesmente por serem supostamente bruxas, a sociedade Alemã Nazifascista apoiou o Holocausto, tendo no lugar dos dogmas religioso os “dogmas” fascistas.
Para nós, atualmente, chega a parecer insano que toda uma nação apoiou e legitimou tão naturalmente um massacre como o Holocausto, porém devemos compreender que esse absurdo foi oriundo justamente da ideologia Nazifascista que, se aproveitando do momento de crise, tirou das pessoas o método racional e a própria racionalidade, implantando no lugar um pensamento quase que psicopata.
            Contextualizando com a analogia aos dogmas católicos, podemos também dissertar acerca da referência presente no filme Ponto de Mutação: ao entrarem na Igreja, os personagens notam e se sentem pequenos frente à grandiosidade da construção, algo totalmente intencional por parte da Igreja Católica. A grandiosidade não deixa de ser uma imposição do catolicismo aos fiéis, uma vez que esse sentimento de inferioridade da pessoa perante a Igreja resulta também numa sensação de que aquilo – a Igreja – por ser extremamente maior, majestoso e imponente, não seria passível de nenhum questionamento, devendo apenas ser aceitado sem contestação.  
            Historicamente não faltam exemplos de como essa aceitação de conceitos pré-estabelecidos - bem como a consequente abdicação do uso do método científico pautado na razão – resultaram em consequências drásticas em seus respectivos contextos, seja na Alemanha Nazista com o Holocausto, seja na Europa da “Caça às Bruxas” com a morte de milhares de pessoas de forma institucionalizada. Em se tratando da história ser geralmente tida no mundo acadêmico como algo cíclico, devemos sempre estar atentos à essas ameaças, principalmente em momentos de crise como os que passamos atualmente.
            Segundo a palestrante Patricia, o Neofascismo obviamente não se utilizaria das mesmas características de seu contexto de surgimento, haja vista que a maioria  das características não é mais passível de sentido no atual contexto, porém, isso não significa que  algumas características constatadas na sociedade de hoje não possam ser tidas como vertentes de características do Fascismo original, evidenciando assim certo perigo. O anticomunismo exacerbado pode ser ligado ao atual sentimento de antipetismo, a crise alemã pode também ser comparada – resguardadas as proporções - com a atual crise política brasileira que surge com o Impeachment da Presidenta Dilma. O surgimento de uma liderança – agora eleita - pregando soluções rápidas, agressivas e principalmente culpabilizando determinados grupos sociais pelos problemas também pode ser objeto de comparação. Todos esses exemplos nos mostram certamente a contemporaneidade e a necessidade da discussão acerca da temática fascista, uma vez que não obstante termos, segundo a obra “Ponto de Mutação”, evoluído do “grande relógio mecânico” ao “pequeno relógio de quartzo”, ainda assim estamos sujeitos aos erros – e às consequentes barbáries – do passado.

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
CHALTON, Nicola. A história do século 20 para quem tem pressa. Rio de Janeiro: Valentina, 2017. 200 p.

Adelino Mattos Marshal Neto - 1º Direito Matutino. 

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